Noronha: Política ambiental às avessas

Só faltava esta, agora. Depois de deflagrar uma política ambiental nociva a biomas importantes como Amazônia, Cerrado, manguezais e caatinga – o que inquieta a opinião pública nacional e internacional – o Presidente Jair Bolsonaro agora quer disseminar sua maldade em um dos últimos santuários ecológicos do Brasil: o Arquipélago de Fernando de Noronha. Como se não bastassem as perseguições à fiscalização, as queimadas como os da Floresta Amazônica e do Pantanal, a extração ilegal de madeira de nossas matas e o excesso de tolerância com o garimpo em áreas indígenas, o homem tem feito comentários, sempre, que vão contra as iniciativas de preservação do arquipélago,  que, há muito tempo, deixou de ser território federal. Pertence, sim, ao governo de Pernambuco, embora abrigue um parque nacional marinho em seu território.

Bozó já criticou várias vezes a cobrança de taxas de preservação na ilha, onde seu Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, esteve nesta semana, a fim de liberar a pesca da sardinha em área do parque nacional marinho, onde antes a prática  deveria sim, ser proibida como sempre foi. Ao visitar Alagoas, na quinta-feira, o Presidente criticou, mais uma vez, a cobrança daquela taxa. “É um absurdo, você vai para uma praia em Fernando de Noronha, e pagar R$ 100. É meio lobo- guará, dois dias um lobo-guará para ir numa praia lá”, disse, referindo-se à nova nota de R$ 200 que é ilustrada com o mamífero. E alfinetou: “É um absurdo isso aí. Inacreditável, tem que mudar”.

Não tem que mudar. As taxas são utilizadas na própria Ilha. Servem inclusive para ajudar na preservação do meio ambiente. De qualquer forma, um lobo guará é bem menos do que o pedido de reembolso feito pelo filho dele, o Senador Flávio Bolsonaro, que foi fazer turismo em Noronha e queria que o Senado devolvesse o dinheiro gasto com passagens. Aliás, o seu, o meu, o nosso dinheiro. Mas segundo o Senador do Republicanos, o pedido de devolução do dinheiro gasto com a viagem foi “erro da assessoria”. Ou seja, é tudo santo e bonzinho. Demônio é quem zela pela natureza nessa país. Pelo menos, na ótica do governo federal.

O Palácio das Princesas que tenta fazer o dever de casa na Ilha,  emitiu uma nota sobre a intromissão:

“Em respeito à Constituição Federativa do Brasil e ao povo de Pernambuco, o Governo do Estado tem trabalhado muito para encontrar soluções para superação dos desafios atuais. Em Fernando de Noronha somente nos últimos dois anos, o Governo de Pernambuco investiu mais de R$ 20 milhões na construção de casas, recuperação de estradas vicinais, implantação de iluminação de LED e readequação completa do porto de Fernando de Noronha.  Estamos também ampliando a oferta de energia solar e reduzindo a poluição na ilha, com os programas Carbono Zero e Plástico Zero. No mesmo período, o Governo Federal divulgou três vezes que iria mandar recursos para o saneamento e nunca liberou qualquer valor, além de aumentar o preço das taxas de preservação ao invés de extingui-las, como havia prometido. A população de Fernando de Noronha, a exemplo de todos os brasileiros, conta com ações efetivas, integradas quando possível, para que as melhorias sigam acontecendo. Criar soluções é mais produtivo do que criar polêmicas.”

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação / SEI

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