Parem de derrubar árvores (413): “Somos uma cidade que cresce à custa da devastação”

“Somos uma cidade que cresce à custa da devastação”. O desabafo é do advogado, escritor, poeta, professor e contador de causos Zelito Nunes, autor do delicioso livro “O Sertão onde eu vivia”, no qual relata seu encanto nos tempos de criança, em meio ao ambiente onde cresceu, na caatinga do Cariri paraibano. Zelito é apaixonado também pelas árvores urbanas e, de vez em quando, me ajuda na soma de arboricídios no Recife. Quem lê sempre o #OxeRecife sabe da ação aqui neste espaço por uma cidade verde e por um maior cuidado com as nossas árvores, cuja quantidade está minguando a cada dia. Parece que a fiscalização é frouxa, pois não são poucos os estabelecimentos comerciais que arrancam árvores adultas para aumentar as vagas do estacionamento. O que é muito triste.

Aqui na nossa cidade, lembro apenas de um caso público de penalidade imposta a um estabelecimento comercial por ter envenenado uma mangueira até a planta padecer por completo. A coisa foi tão gritante que mobilizou a comunidade e teria ficado muito feio se o poder público simplesmente se omitisse, como tem feito sempre. Nessa semana, Zelito pede que a campanha #paremdederrubarárvores denuncie o que acontece em bairros antes tão verdes quanto o Espinheiro, que está virando uma selva de concreto. Ele reclama que na Rua Santo Elias, foi eliminada uma mangueira da calçada de uma academia de ginástica. Passei lá, e não vi o tronco degolado. “Derrubaram, destocaram e imediatamente cimentaram o alegrete (canteiro), pois assim ninguém percebe a erradicação”, afirma. O pior é que isso é verdade. Aliás, uma situação que sempre se repete no Recife.

A cada mangueira adulta degolada, desaparecem milhares de mangas que ajudariam a matar a fome de muita gente

A “técnica” realmente é comum, principalmente nos estabelecimentos comerciais, que costumam degolar as árvores, arrancar o toco e disfarçar o arboricídio ocultando o cadáver, ao tapar a cova com cimento. Zelito mostra-se preocupado, pois uma outra mangueira está na iminência de “dançar” também.  Ela sofreu cortes radicais e sua copa foi quase toda eliminada. “O extermínio da primeira mangueira começou assim”, reclama, citando o ritual arboricida mais comum na cidade. Aliás, o modus operandi. ”Já derrubaram uma mangueira lá. A outra está por um fio, pois já foi ‘desgalhada’ e está quase só no tronco”, reclama. “Já se percebe a intenção de derrubar a segunda”. E desabafa:

Sinto que não há o menor compromisso dessa gente com as gerações futuras. Somos uma cidade que cresce às custas da devastação. Destruímos o passado, o presente e o futuro ao mesmo tempo. A primeira vítima de arboricídio ficava à direita da outra, da qual quase só resta o tronco e na situação da qual já se percebe que há uma intenção de derrubá-la.

Olho neles, portanto. Com a  palavra, os órgãos públicos da cidade. Além de contribuir para o conforto térmico do Recife da emergência climática,  árvores como fruteiras ajudam a matar a fome de muita gente. É  só andar por bairros onde as mangueiras existem, para ver a quantidade de “caçadores” de mangas, com varas imensas, em busca de frutos para a venda ou para a própria alimentação. Abaixo, você confere  outras perdas no bairro do Espinheiro, assim como história de mangueiras vítimas da motosserra insana.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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