Chocada com o que acontece na cidade de Maceió. Estava no supermercado, no domingo, quando uma amiga que morou muito tempo na cidade, me avisa. “Liga aí que a mina da Braskem rompeu e a lagoa do Mundaú está sendo sugada”. Realmente, essa era a impressão que tínhamos, quando formou-se aquele redemoinho no meio da lagoa, como se houvesse um funil ao fundo, ao puxar-lhe a água. Infelizmente, o que temos assistido naquela cidade é o pior exemplo de capitalismo selvagem e desumano, com preocupação zero de sustentabilidade. E no qual só conta o vil metal. A falta de responsabilidade social prejudica mais de 60 mil pessoas na capital alagoana, e os prejuízos ambientais afetam 20 por cento do território de Maceió.
A gente vê exemplos de danos ao meio ambiente, provocados – por exemplo – pelo garimpo ilegal e pelo desmatamento operado por madeireiras clandestinas na Amazônia. Mas seus protagonistas vivem do crime que praticam, não têm responsabilidade com a lei, com a preservação da natureza, nem com os prejuízos provocados aos povos das florestas, que delas extraem a sobrevivência. Atuam no crime organizado e não passam de marginaisque deveriam estar na cadeia. No Caso da Braskem o desastre ambiental foi provocado por uma corporação multinacional, legalizada, e que se orgulha de ser uma empresa petroquímica de “atuação global”, na indústria de química e plásticos. Porém, pelo que se vê, a responsabilidade social e ambiental da empresa é zero. Como zero ação de sustentabilidade foi o que demonstrou a Mineradora Vale S.A (antiga Vale do Rio Doce)) no caso do estouro das barragens em Mariana e Brumadinho, que deixaram um saldo total de cerca de 300 mortos.
Isso sem falar nos danos ambientais – destruição de rios, de matas ciliares, da fauna – e nas mais de 180 pessoas que morreram após o desastre, sem que seus prejuízos tenham sido reparados. Lembro-me quando foi inaugurada a antiga Salgema, em 1979, como se fosse a “redenção econômica” de Alagoas. Não passou muito tempo, e nas primeiras viagens que fiz a Maceió, já dava para perceber, a olho nu, prejuízos ambientais na antes tranquila praia da Avenida, que fica vizinha à badalada Pajuçara. A Praia da Avenida já era prejudicada antes com despejo de esgoto via emissário submarino. E a situação se agravou posteriormente com a Salgema, depois substituída pela Braskem. O ar ácido e poluído da atividade mineradora acabou até com os coqueiros que existiam à beira-mar em Maceió. É só checar os cartões postais do passado para comparar a paisagem antiga com a atual.
Como se sabe, o problema provocado pela indústria não é de hoje. Começou em 2018, com tremores antes inéditos em Maceió. Em 2019, o Serviço Geológico do Ministério das Minas e Energia concluiu que havia falhas geológicas que punham a segurança de vários bairros em risco. Em 2019 a exploração foi suspensa, mas o mal já estava feito, após a perfuração de 35 minas, para extração de sal-gema. Desativadas, só cinco dessas minas foram preenchidas como recomendam os técnicos do setor. Uma delas fica sob a Lagoa do Mundaú, onde houve afundamento de 2m35 desde o final do mês passado. Sendo que 12,5 centímetros em 24 horas, entre o sábado e o domingo. Aí… deu no que deu. Agora, são 60 mil pessoas de vários bairros esperando por justiça. E todo mundo sabe o quanto solução de problemas coletivos demora… Estão aí o calvário enfrentado por vítimas e desalojados de Brumadinho e Mariana, que não deixam mentir. Como estão aí, também, outro calvário vivenciado por pessoas que investiram o que tinham na casa própria e viram seus prédios desabarem, sem que os danos não tenham sido inteiramente reparados. Diz o ditado que a justiça tarda, mas não falha. Não deveria tardar, em casos como o da Braskem, da Vale e dos prédios financiados pela CEF no Recife e que vivem a desabar.
Esse vídeo, disponível no Youtube, mostra exatamente o momento em que a lagoa começa a ser sugada. Imagens foram feitas de drone. E são “assustadoras”, segundo o autor das imagens.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
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