A espécie não é nativa. Veio de Madagascar. Mas o flamboyant (Delomix regia) já está tão incorporado à paisagem brasileira e, principalmente, à do Nordeste, que poucas pessoas se lembram de sua verdadeira origem. Também conhecida como acácia rúbia, essa bela árvore enche de graça as ruas, jardins e parques do Recife. Principalmente durante o verão, quando ficam praticamente sem folhas. E a copa, toda vermelha.
Pois nem os flamboyants escapam da motosserra insana. Só não sabemos se a motosserra oficial ou de particulares. É que duas árvores foram eliminadas na Rua do Marques, no bairro do Parnamirim, na calçada de um empreendimento imobiliário ainda em construção. Árvores só podem ser removidas das calçadas por órgãos oficiais – no caso, a Emlurb – ou com autorização da Prefeitura, a quem cabe estabelecer a compensação, nem sempre efetivada.
A denúncia sobre a erradicação de flamboyants (foto ao lado) na Rua do Marques foi encaminhada ao #OxeRecife pelo consultor, arquiteto e urbanista Francisco Cunha, coordenador das Caminhadas Domingueiras Olhe pelo Recife. Francisco, aliás, já andou se queixando do fim dos “túneis verdes” que caracterizavam o Espinheiro, bairro onde morou e no qual trabalha ainda hoje.
E que, como o Parnamirim, está a cada dia mais carente de arborização. Agora reclama do sumiço de árvores no segundo bairro, onde reside atualmente. Como a titular desse Blog, ele prefere fazer seus caminhos a pé e sente, portanto, a diferença de desconforto térmico entre as calçadas arborizadas e as desprotegidas. A diferença é e-n-o-r-m-e. Como vocês podem observar na foto por ele enviada e devidamente sinalizada (a maior), Francisco informa que onde havia duas árvores da espécie, os alegretes (canteiros) agora estão vazios. Os dois casos de arboricídio ficam na calçada de empreendimento imobiliário, que vem sendo erguido na esquina da Rua do Marques com a Avenida Flor de Santana, ambas no Parnamirim, onde são construídas torres cada vez maiores. O empreendimento será dividido em três partes, segundo as placas indicativas de licenciamento da obra: Torre do Marques, Torre Flor de Santana e Torre Ferreira Lopes.
Passei no local, e observei que o prédio imenso, já se encontra em seu décimo primeiro pavimento. Não sei até onde vai subir. Cadê a Lei dos Doze Bairros? Os flamboyants eliminados ficam perto de um outro edifício (Mica Vilaça), ainda em construção na Av. Flor de Santana, que representou a erradicação de nada menos de oito árvores, todas adultas. Houve até reação da população local, nas redes sociais. E também aqui no #OxeRecife (Parem de derrubar árvores 164, em 24/02/2019). Na época, a construtora me disse que faria compensação com o plantio de 20. Fez? Com a palavra os órgãos fiscalizadores da Prefeitura. Porque esse negócio de compensação – tanto na iniciativa privada quanto na oficial – está virando história para boi dormir.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Francisco Cunha / Cortesia e Letícia Lins (flaboyant florido)
Entendo perfeitamente que árvores sejam erradicadas por problemas fitossanitários. Acredito que cada erradicação seja, de fato, baseada em laudo técnico conforme me foi informado quando solicitei esclarecimento. O que não entendo é que cada erradicação não seja seguida de replante imediato, no local!
Numa cidade tropical, quase equatorial, como o Recife, a sombra é requisito indispensável da mobilidade a pé. Não replantar a árvore erradicada logo em seguida à erradicação e no mesmo local significa, na prática, a eliminação da sombra!