Muito triste, com a partida do amigo querido, Olimpio Bonald Neto, que conheci quando ainda era estudante de Jornalismo. E, como “foca” (aprendiz nas redações), por várias vezes o entrevistei, quando ele ocupava um cargo de direção na Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur). Eu estava no meu primeiro emprego como repórter, na redação do Jornal do Commercio. Posteriormente, saí da empresa. E, sem se intimidar com minha inexperiência, ele me chamou para trabalhar na assessoria de imprensa da empresa, que funcionava na Avenida Rosa e Silva. Pelo que sei, não se arrependeu, pois fiz esforço para dar o melhor de mim, inclusive durante a Semana Santa quando a divulgação do Drama da Paixão, de Nova Jerusalém, ainda era feita pela Empetur.
Naquela época, tornamos famosa a então desconhecida Cachoeira do Urubu, localizada no município de Primavera e com área hoje transformada em parque ecológico. Sem infraestura quase nenhuma, a cachoeira virou atraçao turística. Estourou. Virou programa de fim de semana. Também divulgávamos fatos curiosos que descobríamos nas andanças das equipes da Empetur pelo interior. Foi por intermédio de Olimpio que aprendi a origem dos bonecos gigantes, dos bacamarteiros e soube da existência dos hoje tão famosos “caretas” (de Triunfo, Sertão); “papangus” e “caiporas” (de Bezerros e Pesqueira, no Agreste). Também foi ele quem me falou, pela primeira vez de “uma bonita e especial cidade sertaneja”, chamada Triunfo. Ainda no século passado, ele me ensinou a diferença entre o maracatu de baque solto e o maracatu de baque virado.
Depois, comecei a trabalhar em um veículo de circulação nacional – o então poderoso Jornal do Brasil – e pedi demissão, para dedicação exclusiva ao JB. O resultado da experiência ali, no entanto, é muito maior do que qualquer conquista profissional. Foi na Empetur que sólidas amizades foram costuradas, com o próprio Olimpio e com o Francisco Bandeira de Melo, o saudosíssimo e paciente Bandeirinha, que também me repassou muitos ensinamentos. E até me apresentou ao poeta João Cabral de Melo. Da época da Empetur, guardo o trio de grandes amigos, que são como irmãos, ainda, tanto tempo depois: Anita Dubeux, Tereza Frazão (minha comadre) e Cildo Oliveira. Os dois últimos estão fora do Recife, mas sempre ficam presentes em minha vida, via ZAP, no inseparável Grupo “Quarteto Legal”, formado para deixar-nos – os quatro – sempre próximos. Aliás, nós nos comunicamos todos os dias.
Após sair da Empetur, voltei a falar com Olimpio muitas vezes. Algumas, em cerimônias na Academia Pernambucana de Letras, onde ele ocupava a cadeira número 01, cujo patrono é Bento Teixeira. Estive na APL na noite da quinta, nas comemorações dos 122 anos da institução. Pouco depois, ao chegar em casa, a terrível notícia. Fiquei muito triste. Também o encontrava, por acaso, em eventos em Olinda. Às vezes, o procurava para falarmos sobre duas de suas especialidades, quando o assunto era São João ou carnaval: as tradições dos bacamarteiros e dos bonecos gigantes de Olinda. Em nome, do “Quarteto Legal” (todos seus subordinados e discípulos nos tempos iniciais da Empetur) vão nossas homenagens e eternas saudades. Você jamais deixará nossos corações. Olimpio morreu aos 90 anos, deixando mulher, filhos e netos. Nossos sentimentos a Dona Zenaide e familiares. Que Deus os conforte.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / APL