Entra prefeito e sai prefeito, e ninguém dá jeito. O Açude de Apipucos permanece entregue à própria sorte. E nem me refiro às suas águas poluídas, tomadas de despejos domésticos e detritos sólidos. Estes são diariamente colhidos por garis da Emlurb, em um trabalho inglório que nunca termina. E que consiste, também, na coleta das chamadas baronesas, plantas aquáticas que, se deixar, cobrem toda a superfície da água. A presença delas indica que ali é grande a quantidade de materiais orgânicos, provenientes de esgoto. O problema é que além de enfrentar todas essas agressões em suas águas antes cristalinas, o Açude está com a situação do entorno cada vez pior.
O que é uma pena, pois com o verde que ainda resta ao seu redor, o Açude é uma das áreas mais aprazíveis da Zona Norte. No passado suas águas era tão limpas, que o escritor Gilberto Freire chegou a fazer referência a elas, comparando-as com a do Rio Capibaribe que, no século passado, já começava a mostrar sinais de poluição. Uma das margens até já se transformou em praça de alimentação informal, aos sábados e domingos, quando não há lockdown devido à pandemia. Também é grande o número de pescadores que jogam redes e anzóis em busca de tilápias, praticamente a única espécie de peixe que conseguiu sobreviver à poluição de suas águas.
Durante a campanha eleitoral, vi uma imagem na TV, na propaganda eleitoral do PSB, em que o hoje Prefeito João Campos (PSB) e sua vice, Isabela de Roldão (PDT), aparecem passeando à margem do Açude. Provavelmente apenas em um pequeno trecho, porque se a dupla espichasse a caminhada poderia até cair na água. É que as calçadas estão com fenda imensas, não há guarda peito e há pedaços que se a pessoa não tiver cuidado, pode até cair nas águas poluídas. Ou tropecar nas tábuas soltas. Como vocês sabem, o Parque Apipucos foi incluído no Projeto Capibaribe Melhor, iniciado em 2011. E que custou R$ 24 milhões aos cofres públicos. Uma década depois, o serviço não foi concluído.
O Capibaribe Melhor previa a construção de dois parques à margem do Capibaribe – o de Santana (que ficou pronto) e o do Caiara (que nunca foi inteiramente concluído) – e ainda o Parque Apipucos. Este seria dividido em duas partes: um parque para educação ambiental, que ganhou o nome de Maximiano Campos. E que fica defronte do Açude. O Maximiano Campos e o Açude são separados pela Avenida Dezessete de Agosto. Mas, pelo menos no papel, seriam um projeto que integraria os dois lados daquela via: a que fica à margem do Rio Capibaribe e o entorno do Açude. Integração que nunca ocorreu. Além da construção do Parque, a previsão era que o entorno do Açude tivesse calçadão, pier, pedalinhos, área para contemplação. Mas o projeto nunca foi concluído. Do pier, ergueram as colunas. E pronto… pier que é bom, até hoje nada… (foto superior). Viraram uns monstrengos, que servem, pelo menos, de local pouso para as garças. O Parque Maximiano Campos praticamente já desabou a coberta e até um incêndio já chegou a sofrer. É incrível, como o Recife não sabe valorizar as coisas boas que tem. Nem o seu rio nem suas lagoas. É só lembrar de quanto são badaladas a Solon de Lucena (em João Pessoa), a Rodrigo de Freitas (no Rio de Janeiro) e a do Abaeté (em Salvador).
Enquanto isso...
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
Excelente matéria, infelizmente o abandono de um lugar tão bonito que poderia ser um local mais preservado, o projeto do pier está parado desde 2011 a quando tempo isso está inacabado e acredito que para a conclusão do mesmo serão gastos outros milhões…