A cerimônia é bonita, mas no seu início tinha mais emoção. Lembro de sua realização, nos primeiros anos, no meio da Caatinga, ainda sem luz elétrica, e onde o Rei Luiz Gonzaga puxava os acordes da sanfona e cantava a todos pulmões, em cima de um caminhão, ainda sem microfone. Recordo, também, uma vez que ele puxava os acordes da sanfona e entoava a Asa Branca, com a lua cheia no céu, que desenhava no chão as sombras do mandacarus. Depois, a liturgia foi evoluindo, ganhando mais grandiosidade e virou atração turística, porém sem perder a sua essência: a fé e a reafirmação da cultura sertaneja, com seus vaqueiros encourados. Hoje tem altar em forma de ferradura, amplificadores, luz elétrica, água encanada no local da Missa do Vaqueiro, que fez nesse domingo a sua 53ª edição, no município de Serrita, a 544 quilômetros do Recife.
Quando começou a ser celebrada, em 1971, A Missa do Vaqueiro tinha por objetivo pacificar a comunidade, em uma época em que clãs sertanejos se digladiavam e a mortes violentas de parentes e amigos eram vingadas com novas mortes. A liturgia foi idealizada em homenagem a Raimundo Jacó, vaqueiro que era primo de Luiz Gonzaga, e que apareceu morto por assassinato, em uma estrada, no meio da caatinga. Ao saber do homicídio, o padre João Câncio (1936-1989), conhecido por usar chapéu, gibão e frequentar vaquejadas, fincou uma cruz no local onde o corpo de Jacó foi encontrado e passou a celebrar uma missa em homenagem ao vaqueiro. O ocorrido também inspirou a música, A Morte do Vaqueiro,, cantada pelo ilustre primo de Jacó. Com o passar dos anos, evento começou a atrair vaqueiros da Região, até que transformou-se na famosa missa, hoje um evento turístico, precedido de uma festa de rua que em 2023 começou no dia 19 de julho.
A Governadora Raquel Lyra esteve na Missado Vaqueiro, ao lado de sua vice, vice Priscila Krause. Centenas de vaqueiros de municípios vizinhos e outros estados do Nordeste se reuniram no Parque Municipal João Câncio, em demonstração de fé e cumprindo a tradição sertaneja. O evento conta com o aporte de mais de R$ 1 milhão do Governo de Pernambuco por meio da Empetur. A chefe do Executivo estadual ressaltou que a celebração é um dos principais eventos que ocorrem no Sertão pernambucano. “Garantimos apoio irrestrito do Governo do Estado a todos movimentos, eventos que trabalham com a manutenção da nossa cultura, da nossa história, da nossa arte, como essa celebração a Raimundo Jacó e Luiz Gonzaga”, disse a governadora.
“Estamos trabalhando no redesenho e aperfeiçoamento de todos os nossos movimentos e eventos culturais, permitindo o resgate da nossa cultura, a manutenção, o fortalecimento e sua perpetuação”, afirmou Raquel, que nesta semana enfrentou uma crise na Secretaria da Cultura, quando seu auxiliar direto mais ilustre, o cantor Silvério Pessoa,demitiu-se do cargo. A Missa – antes celebrada por Padre João Câncido – foi presidida pelo bispo Dom José Vicente, da Diocese de Salgueiro. Indumentárias de couro, como chapéu, gibão, alforge, botas e celas foram apresentadas como oferta no altar pelos vaqueiros, como forma de homenagem. Na gestão anterior, o então Secretário de Turismo, Rodrigo Novaes – que é sertanejo – realizava uma edição recifense da Missa do Vaqueiro, no Cais do Sertão, no Recife Antigo.
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