MapBiomas: Manguezais do Nordeste são os mais ameaçados do Brasil

Compartilhe nas redes sociais…

A preservação das praias e dunas é essencial para o controle da erosão costeira e manutenção da faixa litorânea e sua biodiversidade. A praia e a duna normalmente protegem os manguezais das ações das ondas. Criam um ambiente calmo, onde a lama pode ser depositada e colonizada pela vegetação de mangue. Já as dunas são importantes para o armazenamento de água nos lençóis freáticos.

Nos últimos anos, no entanto, temos assistido ocupação irregular de dunas – o Ceará é apenas um exemplo – assim como a especulação imobiliária em faixas de areia que deveriam estar cobertas apenas pela vegetação que tem finalidade de evitar erosão. No Grande Recife, há problemas graves de avanço do mar e até destruição de imóveis tanto no Litoral Norte (Itamaracá, Paulista), quanto no Litoral Sul (Jaboatão dos Guararapes). O que se via na prática, agora é confirmado em números. Nos últimos 36 anos, o Brasil perdeu 15 por cento de áreas de dunas e praias. A revelação foi feita pelo MapBiomas durante esta semana, o que não deixa de ser preocupante. Pois o que se tira da natureza, a natureza quer de volta. As imagens de satélite entre 1985 e 2020 mostram a redução foi de 15%, ou cerca de 70 mil hectares. Há 36 anos, eram 451 mil hectares; em 2020, apenas 382 mil hectares.

Além de dunas, praias e areais, o estudo que o MapBiomas   também aborda situação dos manguezais, apicuns (áreas salinizadas desprovidas de vegetação) e da aquicultura/salicultura. O mangue é o berçário de inúmeras espécies marinhas: 70 a 80% dos peixes, crustáceos e moluscos que a população consome precisam do bioma em alguma fase de suas vidas. Diversas espécies de peixes economicamente importantes utilizam os mangues como área de reprodução e depois voltam para o mar. Precisa, portanto, ser mantido.

E aí, há notícias boas e ruins. A boa é que, felizmente, no  período de estudo – entre 1985 e 2020 –  as áreas de manguezal no país permaneceram relativamente estáveis, passando de 946 mil hectares para 981 mil hectares.  Ou seja, até se expandiram um pouco. Entretanto, a partir do ano 2000 até 2020 observa-se uma retração de 2% nas áreas de manguezal. No Brasil, mais de 78% da área de manguezais está concentrada na costa Amazônica, que se estende do Amapá até o Maranhão, abrigando os mais bem preservados e extensos manguezais do continente. Por outro lado, é na região Nordeste e Sudeste, menores em extensão, onde os manguezais encontram-se mais ameaçados. Em ambas, de 2000 a 2020, ações antrópicas diretas foram responsáveis por 13% das mudanças desta cobertura. E o Recife é um bom exemplo disso. Basta andar pelas margens do Rio Capibaribe para se perceber o tamanho do estrago. Os manguezais dessas fotos ficam em Maracaípe, Litoral Sul de Pernambuco, e ainda estão preservados.

Os motivos para diminuição das superfícies de dunas, praias e areais continentais são variados: desde a revegetação do topo das dunas, ocupação por empreendimentos aquícolas e salineiros, até a expansão de espécies invasoras. A diminuição das faixas de praias e dunas também pode ser explicada em parte pela forte pressão imobiliária. Há, ainda, a baixa proteção: apenas 40% desse tipo de depósito está protegido em alguma unidade de conservação. Entre os casos de ocupação por usos da terra, chama a atenção o avanço dos pinheiros sobre campos dunares no Rio Grande do Sul em áreas que fazem limite com florestas plantadas e a expansão da estrutura aquícola/salineira na região costeira do Rio Grande do Norte.

Leia também
“Resíduos deixados no manguezal são como garrote na veia: Gangrenam o corpo”
Imundo, mangue passa por limpeza
Viva o mangue, berçário da vida
“Rio Tatuoca: Rios livres, mangues vivos”, campanha contra o mangue morto
No dia mundial de proteção ao mangue, ferramenta para preservá-lo
Caranguejo capturado irregularmente: multa, detenção e volta ao mangue
Defeso: Não coma caranguejo-uçá
Caranguejo-uçá: todo mundo quer comer. Mas preservar….
Tamandaré: Festival Flor do Mangue
Recife, mangue e  aldeões guaiás
Mães do mangue: cozinha da maré
Dia Mundial de áreas úmidas passa em branco no Recife
Greepeace e MapBiomas denunciam estragos no pulmão do mundo
MapBiomas confirma alerta feito há meio século: “o São Francisco está secando”
Mudanças climáticas:  Caatinga cada vez mais seca  e Sertão quase sem água

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

2 comments

  1. gostei da forma desta nova visão critica sobre a degradação e ao mesmo tempo muito bem trabalhado na retratação do envolvimento da pesquisa e o outro lado da conscientização de como trabalhar o turismo com o olhar para a sustentabilidade .

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.