É preciso cuidado com tudo que se faz na vida. Inclusive com a natureza. A atividade agropecuária, por exemplo, é mais que necessária. Porém os deslizes podem provocar grandes prejuízos, como é o caso do uso de agrotóxicos que tanto podem contaminar plantas, rios, animais como o próprio homem que os aplica e o que consome o alimento por ele produzido. Em Pernambuco, apesar do esforço para desenvolvimento de lavouras orgânicas, está havendo agora um problemão: uma peste chamada “mosca de estábulo”, que vem transformando a vida de produtores rurais do Agreste Central em um verdadeiro inferno.
A infestação já mobiliza a Assembleia Legislativa, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (Ufrpe), a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado (Adagro) e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Relatos da infestação pelo inseto chegam de cidades como Sairé, São Joaquim do Monte, Barra de Guabiraba, Gravatá e Camocim de São Félix, todas no Agreste Central. A última inclusive é grande produtora de tomates e o excesso de defensivos agrícolas lá utilizados já provocaram muitos prejuízos à natureza e aos moradores do município, que fica a 123 quilômetros do Recife. Como repórter, estive lá várias vezes por conta desse problema.
Mas a bronca agora é outra: a mosca de estábulo. De acordo com o deputado estadual Antônio Moraes (PP), na Zona da Mata Sul também há infestação pelo inseto, que já pode ser visto em Cortês, Palmares, Amaraji, Joaquim Nabuco e Ribeirão. Presidente da Comissão de Administração Pública da Alepe, ele esteve no município de Guabiraba, para ouvir os produtores locais e estudar formas de enfrentar o problema. E disse que vai procurar o Governador Paulo Câmara (PSB), para solicitar apoio do estado no combate à praga. “Soubemos que nos Estados Unidos há produtos que conseguem reduzir essa infestação”. Veneno? Deve ser.
O problema, pelo que se observa, não vem do nada. Estaria relacionado com prática muito comum nas empresas rurais que produzem galinhas no interior do estado. É que elas utilizam um material conhecido como “cama de frango”, que mistura palha com esterco para forrar o piso dos locais onde as galinhas são criadas. É muito fácil imaginar que a mistura pode ter sido explosiva, pois são duas matérias orgânicas que se decompõem servindo de meio de cultura desses insetos. De acordo com o deputado, a situação piora com a umidade e a chuva. Segundo Moraes, o problema se agravou nos últimos três meses. Ele defende a transformação da região afetada em “área de exclusão”, e pede a órgãos como a Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh) que mobilize seu setor de educação ambiental. Nos próximos dias, deverá haver audiência pública para discutir melhor o assunto.
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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife
Foto: Alepe / Divulgação