Lampião, Maria Bonita, Antônio Conselheiro e Benjamim Abrahão redivivos no Sertão

Vem aí mais uma edição do espetáculo O Massacre de Angico – A Morte de Lampião, encenado em Serra Talhada (PE), município onde nasceu o mais famoso cangaceiro do mundo e que fica no Sertão do Pajeú. As apresentações acontecem entre os dias 26 e 30 de julho. E o #OxeRecife avisa as datas, para que haja tempo de você se programar, já que a cidade fica a 418 quilômetros do Recife. Ou seja, não é tão perto assim. Para quem estiver curtindo o Festival de Inverno de Garanhuns, a distância é menor (248 quilômetros). Então, talvez possa valer a pena dar uma escapada do Agreste rumo ao Sertão. As apresentações são gratuitas, e acontecem às 20h, na Estação do Forró.

O Massacre de Angico – A Morte de Lampião relembra o encontro entre os militares do governo Getúlio Vargas e os cangaceiros liderados por Lampião e Maria Bonita. O casal e outros nove integrantes do bando foram mortos no dia 28 de julho de 1938, na grota de Angico, em Sergipe, o que praticamente pôs fim à Era do Cangaço. O texto foi escrito por Anildomá Willans de Souza, natural de Serra Talhada, que se dedica a pesquisar Lampião há décadas. No século passado, ele chegou a liderar um movimento em defesa da colocação de uma estátua em praça pública, em Serra Talhada. A campanha dividiu opiniões e terminou sendo alvo de um plebiscito e virou notícia nacional.

A montagem de 2023 tem várias mudanças, inclusive a  reencenação da última despedida entre Maria Bonita e sua filha, Expedita, no palco do espetáculo. “A história carrega uma emoção intensa, pois será a última vez que Maria verá sua amada filha”, informa a produção da peça. “O espetáculo O Massacre de Angico – A Morte de Lampião traz finalmente sua história ao palco de uma forma que o público não espera ver”, acrescenta. Outra novidade na edição deste ano, e que o público poderá testemunhar, é a entrada de personagens marcantes na  história do Nordeste, como Antônio Conselheiro (1830-1897) e Benjamin Abrahão (1890-1938).

Espetáculo sobre Lampião, encenado em Serra Talhada, chega a 2023 cheio de novidades e novos personagens

Antônio Conselheiro, para os que não lembram, foi o fundador do Arraial de Belo Monte, também conhecido como o Arraial de Canudos, que liderava uma multidão de fanáticos, os quais terminaram massacrados pelas tropas da República. Benjamim Abrahão, nascido no Líbano, embrenhou-se pela caatinga acompanhando os bandoleiros e terminou sendo o fotógrafo que mais documentou andanças e costumes de  Lampião e o seu bando de cangaceiros. A trilha sonora do espetáculo também foi completamente regravada, e uma modificação significativa no cenário foi realizada, proporcionando uma surpresa visual que será percebida pelos espectadores que já acompanharam o espetáculo em edições anteriores.

“O que rege toda esta história é o perfil apresentado do homem, símbolo do Cangaço, visto por um viés bem mais humano. Mostraremos ao público um Lampião apaixonado, que sente medo, que é afetuoso, e que não representa somente a guerra travada contra os coronéis e fazendeiros, contra a polícia e toda estrutura de poder. Vamos mostrar o homem que amava as poesias e sua gente”, revela o autor do espetáculo, Anildomá Willans de Souza. Na verdade, Lampião gostava de música, cinema, dançar xaxado e criou toda uma bonita estética para o cangaço. O Massacre de Angico – A Morte de Lampião conta com 30 atores, 70 figurantes, além de 40 profissionais na equipe técnica e administrativa. A apresentação faz parte da programação do Tributo a Virgolino – A celebração do Cangaço, que tem a produção da Fundação Cultural Cabras de Lampião, com o incentivo do Funcultura; Fundarpe; Secretaria de Cultura e Prefeitura Municipal de Serra Talhada.

O espetáculo reconta a vida do Rei do Cangaço, Lampião, desde o desentendimento inicial de sua família com o vizinho fazendeiro, Zé Saturnino, ainda em Serra Talhada, até a sua morte. Na história, para evitar uma tragédia, o pai, Zé Ferreira, fugiu com os filhos para Alagoas, mas acabou sendo assassinado por vingança. Revoltados e querendo fazer justiça com as próprias mãos, Virgolino Ferreira da Silva e seus irmãos entregaram-se ao Cangaço, movimento que deixou políticos, coronéis e fazendeiros apavorados nas décadas de 1920 e 1930, no Nordeste. Temidos por uns e idolatrados por outros, os cangaceiros serviram como denunciantes das péssimas condições sociais da época. E a pergunta que fica no ar: Finalmente, Lampião foi bandido ou herói?  Para muitos, as duas coisas.

Leia também
Lampião e o cangaço fashion e social
Cangaço: Guerreiros do Sol, violência e banditismo no Nordeste do Brasil é relançado
Viagem ao xaxado, ao forró e ao cangaço
Esgotado, livro “Estrelas de Couro: a estética do cangaço” é relançado
Lampião, bandido, herói ou história?
No Sertão, na trilha de Lampião
Massacre de Angico em palco ao ar livre
Duas costureiras e dois maridos: um cangaceiro e um gay
História: Livro sobre Pau de Colher e a Guerra dos Caceteiros
Filme gratuito na Academia Pernambucana de Letra
Livro conta lendas do Sertão
Memórias afetivas, praia do Sertão, rendas de bilro e primeiro amor
“O Sertão virou mar”
O Sertão no Coração de Pedra de Carol
O bode dançarino do Sertão
É sempre tempo de reisado no Sertão
Missa do Vaqueiro: do Sertão ao Cais
Os misteriosos tabaqueiros do Sertão
Caretas, caiporas e tabaqueiros
O último rei perpétuo de Pernambuco
Cais do Sertão mostra arte de J.Borges Borges
Samico, o devorador de estrelas
Tributo a Altino Alagoano, que não era ele. Era ela: “O viulino do diabo”

Serviço
Encenação de “O Massacre de Angico – a Morte de Lampião
Quando:  26 e 20 de julho
Horário: 20h
Onde: Estação do Forró, Centro de Serra Talhada, Sertão do Pajeú
Quanto: acesso gratuito

 Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Crédito das Fotos: Wellington Junior Fotografia

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.