Hotel Central tem “Cabaré da Rosa” produzido por Ronaldo Fraga

Não adianta nem espernear. Esgotaram rapidamente os ingressos do show Cabaré da Rosa, que acontece na terça-feira (4/1), no Restaurante Tempero da Rosa, que funciona no Hotel Central, na Avenida Manoel Borba, bairro da Boa Vista. A noite promete ser inesquecível. Afinal, junta de uma só tacada, três ícones não só de Pernambuco, mas do Brasil. Primeiro, o designer e estilista internacionalmente consagrado Ronaldo Fraga. Segundo, Dona Rosa, a mulher coragem que virou notícia nacional,  quando decidiu assumir o hotel histórico, evitando que ele fechasse suas portas, em pleno isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19. Terceiro, o próprio Hotel Central, uma relíquia do Recife que, como diz o Fraga, esteve para a nossa cidade como o “Copacabana Palace para o Rio de Janeiro”.

A festa acontece no salão térreo do Hotel Central, e quem vai cantar é ninguém menos que … a própria Dona Rosa. Para os que não lembram, ela era cozinheira do Hotel Central, o mesmo onde a avó e mãe trabalharam. Dona Rosa viveu por toda a vida no edifício histórico, onde comandava o fogão, quando – em plena pandemia – o hotel quase fechou. Pois com determinação e coragem, ela decidiu assumir a casa. E o sonho era não só reabilitá-lo como transformá-lo em um ponto de movimentação cultural. O que muita gente não sabe é que Dona Rosa canta. E canta bem, com preferência para música românticas e sambas. Foi aí que Ronaldo Fraga, hóspede famoso, decidiu produzir um show com Dona Rosa, que troca as panelas pelo microfone.  E se tem um estilista que admiro é esse Ronaldo Fraga, um profissional estudioso, versátil e de raiz sempre preocupado com a nossa cultura. Quem não lembra de uma belíssima  exposição Ronaldo Fraga Navegado pelo Rio São Francisco, que rodou o Brasil?

A mostra circulou pelo país a partir de 2010, chegando inclusive ao Recife. Nela, o estilista  mostra a poesia do Velho Chico e a cultura que inspirara uma de suas coleções (São Francisco Verão, 2009).  Designer, estilista, ilustrador, diretor de arte e, como ele diz, turista aprendiz (fato que já inspirou uma de suas coleções) e  premiadíssimo, Ronaldo Fraga está hospedado no Hotel Central.  E com sua eterna  e grande sensibilidade,  viu o potencial da casa e de sua administradora.

“O Hotel Central  até a década de 1950 era para a cidade do Recife o que foi o Copacabana  Palace para o Rio de Janeiro”, diz ele no seu Instagram. “Por aqui já se hospedaram  de Orson Welles a Carmen Miranda e Getúlio Vargas”, explica. E acrescenta: “Me hospedei no quarto cativo de Luiz Gonzaga onde ainda estão nas paredes o ganchos para a rede do rei do baião, que nunca dormia em camas”.

E se derrama em elogios para a nossa mulher coragem: “Hoje o hotel é administrado pela linda Rosa @darosatempero, que como sua avó e mãe, foi cozinheira do local até arrendá-lo três anos atrás, impedindo o seu fechamento”, diz. Pois se Rosa pretendia transformar o seu hotel em ponto de movimentação cultural, ela já começou.

E embora os amigos  mais chegados saibam que o dom de Rosa não é só de ser mestra no preparo dos sabores da terra, foi Ronaldo quem empurrou  a alavanca, para dar partida ao lado não muito conhecido da Rosa cantora. “O que pouca gente sabe é que além dos dotes culinários, Rosa canta maravilhosamente bem, influenciada por uma tia  que foi dona de dois cabarés no interior de Pernambuco”. E tem nada mais romântico e lúdico do que um cabaré?  E  é Rosa que explica o seu lado artístico,embora não antecipe o repertório da noite de terça-feira.

“As pessoas acham que minha voz se parece com as vozes das cantoras de antigamente… Não exatamente a voz, mas o jeito de cantar de Ângela Maria, Cláudia Barroso, Edith Veiga, Núbia Lafayete, Elizeth Cardoso. Então, o nosso repertório será dessas mulheres e também de alguns homens que faziam parte desse mundo da noite e do amor. O Cabaré da Rosa celebra a vida! 

O Brasil precisa mesmo de gente como Ronaldo Fraga e Dona Rosa. Ronaldo, pela força que dá  a projetos de aculturação do design, de valorização das nossas raízes, da nossa cultura, da busca do Brasil profundo. Ele é muito mais do que um estilista. E Rosa, pela luta, pela versatilidade, pelo carisma, pela garra. Juntos, ajudam a preservar não só a memória de uma relíquia da nossa arquitetura. Pois o Hotel Central além de ter sido o “primeiro arranha céu” de Pernambuco tem beleza e tem história. Era nele que se hospedavam  tripulação e passageiros dos zeppelins que vinham a Pernambuco. E de suas janelas em uma Recife então horizontal, era possível se ver os dirigíveis atracados no Campo do Jiquiá, onde ainda hoje está de pé a única torre de atracação de zeppelins  que sobreviveu ao tempo no mundo. É provável, também, que entre os hóspedas ilustres do Hotel Central esteja Henry Fonda, entre os anos 30 e 40 do século passado.

Abaixo, você confere informações sobre o Hotel Central, Dona Rosa e no Sessão Recife Nostalgia,  muitas informações sobre o Recife e seu passado, que incluem curiosidades do bairro da Boa Vista e outros do Recife.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins (#OxeRecife) e Internet

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2 comments

  1. Me sensibiliza bastante constatar que inda existem pessoas que amam esta bela cidade do Recife. Assim como me dói quando ejo as ações desastradas de nossos governantes, parecem nunca ter saído daqui .
    Quando viajamos ficamos impressionados com as ações que valorizam a história de seus lugares. Viajamos e nos emocionamos ao viajar no bondinho de 1927 de Lisboa, ao fazer compras e bebericar no antigo mercado público de Berlim, ou mesmo bater pernas nas ruas do centro histórico de São Paulo. Nos doemos ao constatar ao verificar que a propalada “humanização” da avenida Rio Branco se resumiu em meter asfalto sobre sobre o calçamento de pedras portuguesas e sobre as linhas os antigos bondes que cruzavam aquela via. Até o o “Caranguejo com Cérebro” que homenageava um dos movimentos musicais que mais influenciaram nossa MPB foi estripador na tal reforma da Rua da Aurora, ainda em execução.
    Parabéns Fraga & Rosa, a memória do Recife te agradece.

    1. Cara Letícia,
      Gostaria que você substituísse o meu comentário anterior por este. O que enviei antes continha muitos erros, pois eu não havia revisado.
      Obrigado, Bione.

      Hotel Central tem “Cabaré da Rosa”

      Manoel Bione disse:

      3 de janeiro de 2022 às 08:54

      O seu comentário está aguardando moderação.

      Me sensibiliza bastante constatar que ainda existem pessoas que amam esta bela cidade do Recife. Assim como me dói quando vejo as ações desastradas de nossos governantes, que parecem nunca ter saído daqui .
      Quando viajamos, ficamos impressionados com as ações que valorizam a história dos lugares. Emocionamo- nos, por exemplo, ao passear no bondinho de 1927 de Lisboa; ao fazer compras e bebericar no antigo mercado público de Berlim; ou mesmo bater pernas nas ruas do centro histórico de São Paulo. Nos doemos ao verificar que a propalada “humanização” da avenida Rio Branco se resumiu em meter asfalto sobre sobre o calçamento de pedras portuguesas e sobre as linhas os antigos bondes que cruzavam aquela via. Até o “Caranguejo com Cérebro”, que homenageava um dos movimentos musicais que mais influenciaram nossa MPB recente, foi estirpado na tal reforma da Rua da Aurora, ainda em execução.
      Parabéns, Rosa & Fraga, a memória do Recife vos agradece.
      Enviado via UOL Mail

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