História: Krzysztof Arciszewski, o rival polonês de Maurício de Nassau, que dizia o que pensava

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Se tem um assunto que parece inesgotável é a presença flamenga no Brasil. A cada dia,  aparecem – para os leigos – personagens que passaram despercebidos nos nossos livros didáticos, embora sejam velhos conhecidos de historiadores. Dois exemplos: João de Laet (1581-1649) e Krzysztof Arciszewski (1592-1656). Vocês já ouviram falar neles? Provavelmente, não. Eu também não os conhecia.  Vim saber da existência do geógrafo neerlandês Laet no maravilhoso livro Roteiro de um Brasil desconhecido, organizado por José Paulo Monteiro Soares e Cristina Ferrão, da Série Brasil Holandês (Kapa Editorial). Do general, só tomei conhecimento agora, através de As Memórias de Krzysztof Arciszewski, um polonês a serviço da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil. O livro de Bruno Romero Ferreira Miranda e Lúcia Furquim Werneck Xavier  será lançado  nessa quinta-feira (23/11), às 18h, no hall do Centro de Filosofia de Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal de Pernambuco.

A obra – publicada pela Cepe (Companhia Editora de Pernambuco) –  já foi lançada, também, na quarta-feira, com noite de autógrafos no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe). O neerlandês e o polonês têm em comum o fato de terem servido à Companhia das Índias Ocidentais. E é incrível como os dois livros se complementam, ao mostrar o quanto os holandeses caprichavam no planejamento de suas viagens, conquistas, batalhas, embora tivessem acumulado boas derrotas. A diferença entre os dois, no entanto, é que Laet nunca veio ao Brasil. Ele recebia informações dos holandeses que aqui chegavam, compilava tudo, e entregava relatórios detalhados à Companhia das Índias Ocidentais, para que esta montasse as estratégias de ocupação. Que soubessem onde aportar, onde se alimentar, com quem poderiam contar como aliados. Havia indicações até mesmo de tribos indígenas que não gostavam dos portugueses e que poderiam se aliar aos holandeses. Laet descreve, por exemplo, Itamaracá com uma precisão tão grande que nos dá a sensação de uma viagem à então paradisíaca e exuberante ilha tropical, onde os holandeses ergueram o Forte de Orange, que sobrevive até os nossos dias.

Mapa do Brasil do século 16, com gravura em papel, que consta no livro sobre Krzysztof Arciszewski

Já Arciszewski é considerado um dos personagens mais importantes a desembarcarem no Brasil no século 17, marcado pela  presença de  João Maurício de Nassau,  que chegou a Pernambuco em 1637, com comitiva que incluía artistas e naturalistas para o registro das paisagens, fauna e flora de gente da terra. Entre os personagens importantes da Companhia aqui antes de Nassau, o  polonês que, pela sua erudição e conhecimento de nossas terras, foi escolhido para fazer relatos a respeito da ocupação holandesa em Pernambuco. Ao contrário de Laet, que resumia e interpretavam as informações que recebia, à distância, Arciszewkski fez relatos do que testemunhou ao vivo. Ele foi recrutado pela Companhia das Índias Ocidentais em 1629, e enviado ao Brasil como comandante das tropas que conquistaram a Vila de Olinda e o Recife, em 1630. Esteve três vezes no Brasil, entre 1630 e 1633. E, em suas memórias, detalha aspectos administrativos, políticos, militares e geográficos de capitanias ocupadas: Pernambuco, Paraíba, Itamaracá e Rio Grande.

E também relata trapalhadas, a julgar por alguns de seus relatos em que pretende abandonar “essa infeliz tropa que comandei, visto que eu nada vi, nem fiz muito, (nem) de fato aprendi absolutamente nada com tanta perda de tempo que aqui houve“. Na verdade, ele testemunhou as dificuldades para vencer resistências para penetrar, por exemplo, no interior de Pernambuco, onde  as ações dos defensores eram enérgicas. Apesar dos empecilhos, o polonês era considerado brilhante e muito respeitado pela Companhia das Índias Ocidentais, “pessoa honesta e valente”. Os relatos dessa incrível criatura mostram, ainda, que ele não tinha papas na língua.  “Na eventualidade de alguém ficar ofendido por meu discurso, que não me leve a mal, pois não foi elaborado para insultar, mas para representar a verdade do melhor possível”, afirmou, em 1635, ao descrever a ocupação holandesa na Colônia.  O polonês foi considerado “um dos pilares” da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil, pois sua palavra era “lei entre nós”, segundo depoimento de outro militar da Cia, Cuthbet Pudsey.  Ambicioso, o sonho de Arciszewkski, supõem os historiadores, era ser nomeado Governador Geral da Colônia, em 1636. Ele veria Nassau como um rival e teria inveja dele,  por achar que ele sim, pelos serviços já prestados, merecia o cargo. O livro,traz, portanto uma série de ricas informações sobre a presença flamenga no Brasil e seus curiosos personagens.

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to: Letícia Lins / #OxeRecife
Ilustrações? Cepe / Divulgação

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