Entre “mandus” e “caiporas”

Quando a gente começa a observar o carnaval, encontra semelhanças em agremiações carnavalescas, que terminam por surpreender. Às vezes, em um mesmo estado. Semelhanças podem ser observadas, por exemplo entre tabaqueiros, papangus e caboclos de lança (do maracatu rural), que vêm de diversas regiões de Pernambuco: Sertão, Agreste e Zona da Mata, respectivamente. Pensava, no entanto, que folguedos como os caiporas (ver fotos na galeria abaixo) só eram vistos no nosso estado. Tanto que, em 2017, o Bloco Carnavalesco Cultural Caiporas de Pesqueira passou a ser considerado patrimônio imaterial de Pernambuco.

Os caiporas só existem em Pesqueira, município da região agreste, localizado  a 215 quilômetros do Recife. Eles andam com sacos de estopa na cabeça, e vestem calças compridas, paletó e gravata.  À primeira vista, parecem ser uma das mais simplórias tradições do carnaval de Pernambuco, inclusive pela indumentária. Reza a lenda que tochas apareciam em cima das árvores das matas, assustando os caçadores. As assombrações ficaram conhecidas como caiporas, seres noturnos que pregam peças em caçadores e cães de caça. Para amansá-los, a população precisava colocar fumo e cachaça nos troncos das árvores.

O folguedo dos mandus, na Bahia, alegra adultos e crianças e lembram os pernambucanos caiporas de Pesqueira.

Na Bahia, vindo da Região do Recôncavo, há brincantes que lembram o Bloco Carnavalesco Cultural Caiporas de Pesqueira, pois também se apresentam com os rostos cobertos e o resto da indumentária lembra os caiporas.  Só que ao invés de estopa eles usam cabeças de chita. São os mandus, que deram as caras nas ruas de Salvador, no evento chamado Fuzuê, durante o qual se apresentaram 17 manifestações, a maior parte vinda do interior da Bahia. Como os caiporas , os mandus possuem cabeça desproporcional ao corpo.  A chita dos mandus, na verdade,  substitui tradicionais lençóis brancos que eles usavam no passado.

Por usar a cabeça coberta, os mandus têm aspecto fantasmagórico.  Como os caiporas chegam até a meter medo nas crianças das cidades (Pesqueira e Cachoeira). Sob o tecido colorido, eles colocam uma urupema (peneira grande)  e um cabo de vassoura (em posição horizontal), que lhes garantem imensa cabeça e largura nos ombros. A esquisitice dos mandus terminou por incorporar a palavra ao vocabulário utilizado naquela região da Bahia. “Sai daqui mandu”, é uma expressão muito comum naquela área, significando que a pessoa é feia ou indesejável. Os mandus, no entanto, seriam espíritos bons, que vão às ruas com a missão de afastar os maus espíritos, purificando a comunidade, no mês de julho. No carnaval, eles “incorporam” no Grupo Cultural Mandu.

Veja vídeo enviado por Fernando Batista, durante o Fuzuê:

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos e vídeo (Salvador): Fernando Batista / Cortesia
Fotos dos Caiporas (Pesqueira/ PE): Chico Andrade / Secretaria de Turismo de Pernambuco

 

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