Dia da Amazônia: O boto, pequenos escritores e a festa dos livros na maior Floresta tropical do mundo

Compartilhe nas redes sociais…

Quem não gosta de saber das lendas que cercam o boto, um dos animais mais emblemáticos da Amazônia? Em 2018, estava  eu tomando banho no Rio Tapajós,  no Pará, enquanto aguardava o sol poente, quando uma moça que estava perto afirmou: “acho que tive uma alucinação, vi um boto pulando fora d´água”. Não era. De repente, os mamíferos apareceram em grupo, eram uns 10, fazendo piruetas ao nosso lado. Foi um total encantamento. Jamais esqueci tal espetáculo da natureza. Hoje, Dia da Amazônia, que tal falarmos do boto? Para lembrar que o simpático animal é personagem livros artesanais, produzidos por crianças e jovens das comunidades amazônicas, com base em relatos orais de lendas e histórias  repassadas por moradores mais idosos.

A leitura ocorre em ambientes abertos ou fechados na Amazônia, onde a Vaga Lume incentiva o uso de livros

A iniciativa é da ONG Vaga Lume, que atua desde 2001 em bibliotecas comunitárias da Amazônia, produzindo livros artesanais sobre a temática dos rios e da maior floresta tropical do mundo. Dos 300 livros artesanais feitos na região, pelo menos dez são sobre o boto. Entre os títulos sobre o boto encontram-se:“A História do Chapéu do Boto”, da comunidade de Pacaraima (RR); “O Mistério do Boto”, de Barcelos (AM;  “A Bisavó e o Boto” de Breves (PA); “A Cortadora de Sova e o Boto”, de Carauari (AM). E ainda  “O boto e o pirarucu do laguinho”, do quilombo Boa Vista, em Oriximiná (PA). Um dos mais recentes é “O Boto de Camarapi” (PA).

Ele traz a versão da lenda mais conhecida que é a de um boto que se transveste de humano para namorar com as mulheres, mas, claro, com detalhes que tornam a história única. “Nessa comunidade tranquila, repleta de castanheiras e sumaúmas gigantes, seringueiras, açaizais, japiins e andorinhas cantantes havia um rio tranquilo e, na beira do rio, uma casa onde morava uma mulher chamada Maria…”, conta o livro. O objetivo da ONG Vaga Lume é fortalecer a cultura local, estimulando crianças e jovens a ouvirem os mais velhos e registrarem as histórias e lendas das suas comunidades na Amazônia. A partir desses desenhos e textos, são criados livros artesanais.

Meninada na Amazônia é motivada a ler, assim como a colocar no papel as lendas que escutam de pais e avós

“Os livros artesanais fomentam a integração da comunidade, o imaginário coletivo e principalmente a importância das histórias que são passadas de geração em geração pela oralidade. Já vi muitos mais velhos emocionados quando, no último dia do curso, acontece a mediação de leitura do livro”, diz Priscila Fonseca, coordenadora da dimensão de Cultura Local da Vaga Lume. Criada há 21 anos, a Vaga Lume está presente em 22 municípios da Amazônia Legal, com 163 mil livros doados, 89 bibliotecas comunitárias e 5 mil mediadores de leitura formados. O trabalho da ONG já impactou 109 mil crianças, jovens e adultos, alguns dos quais jamais tinham folheado na vida um livro não didático. A ação conta com 880 voluntários ativos.

O seu propósito é empoderar crianças de comunidades rurais da Amazônia por meio da leitura e da gestão de bibliotecas comunitárias, promovendo intercâmbios culturais com a leitura, a escrita e a oralidade para ajudar a formar pessoas mais engajadas na transformação de suas realidades. No último ano, a Vaga Lume foi eleita a melhor ONG de Educação do Brasil pelo Instituto Doar e vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura – ambos pela segunda vez. Foi também contemplada pelo novo prêmio United Earth Amazônia, na categoria ESG, da sigla em inglês Environmental, Social, and Corporate Governance (Ambiental, Social e Governança).

Veja o vídeo feito pela Vaga Lume sobre as bibliotecas amazônicas

Leia também
Os pequenos escritores do Recife
Livros artesanais são destaque em escolas públicas do Recife
Alunos fazem livros sobre 20 bairros
Livro em quadrinhos sobre Santo Amaro
Você tem fome de quê? De livros
Vila 7 faz oficina de livros cartoneros
Floresta ainda queima e Lula diz que Amazônia precisa ser vista como canteiro de possibilidades
Ministério de Lula tem duas mulheres com muito prestígio internacional
Você sabia que a Amazônia rende muito mais com a floresta em pé?
Açaí, o ouro roxo da Amazônia, é a prova de que a floresta em pé é mais lucrativa que deitada
Amazônia: Projeto “Florestas de Valor” permite lucros a nativos com mata em pé
Conheça palmeiras nativas e exóticas
Ucuubeira preservada rende três mais do que vendida a madeireiras
Tucumã, a fênix da Amazônia
Verdade que a piranga é afrodisíaca?
O tapete vermelho do jambo-do-pará
Dia da Árvore: a “vovó” do Tapajós
Dia da Amazônia: Comemorar o quê?
No Dia da Amazônia, o Brasil tem o que comemorar?
Dia da Amazônia: Agrofloresta ou extração ilegal de madeira?
Por um milhão de árvores na Amazônia
Juçaí, o açaí da Mata Atlântica
Mães do mangue: Cozinha da maré
A festa dos ipês no Recife e no Pará
Amazônia teve 487 mil hectares de bioma queimados nos dois primeiros meses de 2023
Amazônia pode virar um cerrado
Taxa de desmatamento tem aumento de 60 por cento no governo Bolsonaro
Tartarugas voltam aos rios no Pará
História de Pureza (contra trabalho escravo) vira filme com Dira Paes
Tragédia na Amazônia: Bruno e Don presentes
Velório: Indígenas prestam comovente homenagem a Bruno e Don
Dia da Amazônia: Agrofloresta ou entração ilegal de madeira?
Dia Mundial de Áreas úmidas passa em branco
Greenpeace e MapBiomas denunciam estragos no pulmão do mundo
O Brasil pegando fogo e Presidente bota a culpa no índio e no caboclo
Baderna inaugura delivery de mudas para recompor floresta amazônica
Queimadas provocam prejuízo de R$ 1,1 bilhão no Brasil, entre 2016 e 2021
 

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos e vídeo / Vaga Lume / Divulgação

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.