Tartarugas voltam aos rios no Pará

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Enquanto uma grande corporação – como a Vale do Rio Doce – provoca mortes e destruição devido à negligência ambiental – um pequeno povoado do Pará dá um bonito exemplo de respeito à natureza. É a Comunidade Coroca, situada à margem do Rio Arapiuns, um dos afluentes do Rio Tapajós. Ali, as doze famílias residentes decidiram preservar tartarugas, cujo criatório foi originalmente implantado para consumo e comercialização, já que o quelônio integra tradicionalmente a cultura gastronômica da Região Norte. Coroca fica em Santarém, a 1.375 quilômetros de Belém. E lá estive, durante as férias em  Alter do Chão, talvez a mais bonita praia fluvial do Brasil.

Fiquei encantada com a comunidade. Com o cuidado que os nativos dedicam à preservação da vegetação, dos animais, dos peixes. No local, há um restaurante sob uma linda palhoça, onde o prato – farto e barato – é, sempre, um peixe da Amazônia. Pode ser o pirarucu, o tambaqui, o filhote. Após o almoço, a comunidade me convidou para conhecer o  lago comunitário, a cerca de 200 metros do palhoção, onde almoçara com Fernando Batista, amigo e companheiro de viagem. Andarilho, Fernando, pela primeira vez, preferiu descansar em uma rede. E lá fui eu. Quando cheguei no lago, com Luziete da Silva, tomei um susto. Apareceram, de uma só vez, uma “multidão” de tartarugas (com certeza, sabiam que era a hora da comida, quando viram a líder comunitária).

Foi aí que Luziete me contou uma bela história. Em 1998, a comunidade se reuniu para criar uma associação, que lhe desse acesso a algum benefício privado ou oficial. As famílias ribeirinhas vivem da pesca, do turismo, do artesanato, da lavoura, da criação de tambaquis e pretendiam, também, comercializar as tartarugas. Mas desistiram. Preferiram preservá-las e, um dia, devolvê-las à natureza (embora seja natural o lago onde vivem agora). O criatório deu tão certo, que, em 2009, os quelônios já somavam nada menos de 3 mil. Naquele ano, no entanto, o Rio Tapajós e seus afluentes subiram tanto, que inundaram as áreas ribeirinhas em níveis bem mais elevados do que o que ocorre historicamente. “A cheia foi tão grande, que a água derrubou o muro que cerca o lago, e as tartarugas foram embora”, diz Luziete, sem nenhuma ponta de lamento na voz. “Elas se foram, mas foi bom, porque a gente combinou de devolver ao Rio dez por cento do total produzido, mas 90 por cento do que criávamos, já devolvemos à natureza”, diz ela, enquanto atira ração para os animais.

“A gente terminou contribuindo mais do que devia para o repovoamento do rio, e isso deixa a comunidade muito feliz”, afirma. “Antes o objetivo era a comercialização, hoje é a preservação”, completa. Ela lembra que, após a enchente, os pescadores da região conseguiam identificar os tambaquis originários do criatório da comunidade. “Eles diziam que eram muito mais mansos do que os que vivem no Rio”. Luziete responde pela Associação de Produtores Rurais e Criadores de Peixe da Comunidade de Coroca. E também pela Associação de Trançados Arapiuns, que reúne artesãos de vilas vizinhas. Caso você vá a Santarém, não deixe de visitar a comunidade. Saindo de Alter do Chão, o passeio de barco é lindo, com direito a paradas em praias paradisíacas e a um bonito por de sol, no retorno, ao final da tarde. Em Coroca, não deixe de comer no único restaurante na comunidade, de comprar o seu especial mel de abelha, e de aquirir m objeto qualquer de palha de Tucumã. As peças são bonitas, baratas, e você contribui para a sustentabilidade do lugar, onde a comunidade desenvolve ações de reflorestamento. As cestinhas vêm com sabonetes, feitos com produtos colhidos na vegetação da região. E viva a natureza!

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Fernando Batista

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