Gente, o que é isso? Lembro-me que quando foi anunciada a Parceria Público Privada com a Compesa , em 2013, a informação que mais me chamou a atenção foi aquela segundo a qual depois de formalizada a PPP, nenhum esgoto ficaria jorrando nas ruas por mais de 24 horas. Até porque esse é um problema recorrente que a gente presencia em qualquer esquina, na entrada de Shopping Center, na frente das escolas, diante de condomínios de luxo. Dessa promessa, durante a entrevista concedida no Palácio do Campo das Princesas, nunca esqueci. Porém, quase dez anos depois, vejam só a situação do Recife. E, com certeza, dos outros 15 municípios da Região Metropolitana.

Na questão esgoto, no Recife se vê de tudo. De tudo que não presta, o que é um grande retrocesso, pois nossa cidade já foi cem por cento saneada nas primeiras décadas do século passado (ver link abaixo). Os últimos números divulgados indicavam que os índices de cobertura de saneamento da capital não passavam de 30 por cento até pouco tempo atrás. Aliás, na Região Metropolitana. Vamos ver os números do censo que começa a ser feito agora pelo IBGE, para então termos certeza se o serviço evoluiu para melhor ou para pior. A julgar pelo que se vê nos nossos cursos d´água e nas ruas, o Recife não tem o que comemorar nesse setor.
O fato é que se vê condomínios chiques despejando esgoto sem tratamento nos rios, nos açudes e até mesmo no meio de comunidades de baixa renda, como o #OxeRecife registrou recentemente em Apipucos. Alguns, passam meses em despejo, sem que ninguém tome providência. Isso, em pleno século 21. Em 2013, quando o governo do estado fechou a PPP de R$ 4 bilhões entre a Compesa e a Odebrecht, a promessa era que a RM, incluindo o Recife, estariam com o serviço de saneamento universalizado até 2025. Depois, o acordo não deu certo, e a Compesa firmou nova PPP, dessa vez com a BRK Ambiental.
O valor do acordo subiu, então, para R$ 6,6 bilhões. Porém, o novo prazo para “concluir” o serviço foi estabelecido para 2037, quando – aliás – o Recife completa 500 anos. Agora, se esgoto derramando em qualquer lugar já é risco para a saúde da população e fato incompatível com o século 21, imaginem – então – o despejo que sai de um hospital correndo pela avenida, junto ao meio fio, onde há cerca de 20 barracas que oferecem lanches, almoços, bebidas para abastecer os acompanhantes e mesmo pacientes que recorrem ao serviço médico do Hospital Agamenon Magalhães. O fétido despejo se acumula na Estrada do Arraial, em Casa Amarela, um dos bairros mais populosos do Recife. E vem exatamente do Hospital Agamenon Magalhães. Ou seja, um risco dobrado para todo mundo, incluindo pedestres. Sai andando pelas ruas de dois bairros: Casa Amarela e Parnamirim.

Em dia de chuva, o despejo se junta com a lama da rua e cobre a calçada na Arraial. Mesmo em dia de sol, vi pedestre levar banho de água suja, quando passavam os carros. Como o Agamenon fica na esquina daquela Estrada (Casa Amarela) com a movimentada Rua Desembargador Góis Cavalcanti (Parnamirim), a sujeira desce por essa via, margeando o meio-fio, o portão que dá acesso ao hospital e, pior, passa escorrendo e fedendo junto da calçada onde os ambulantes vendem comida. Como vocês observam nas fotos, há risco de exposição aos dejetos contaminados (tanto na Góis Cavalcanti, moça de sandália), quanto na Estrada do Arraial, onde o pedestre leva banho de cocô e outras porcarias, quando o trânsito está movimentado. Um horror!
O pior é que as autoridades sanitárias, os órgãos de fiscalização, os vereadores silenciam. E a população que se dane! Cadê o zelo com nossa saúde? Esgoto não é luxo, é necessidade. É saúde preventiva!
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Texto e fotos : Letícia Lins / #OxeRecife