Dá para ver a diferença, não dá? Lá atrás, o azul do mar internacionalmente conhecido pelo seu azul de águas cristalinas. Na areia, uma água marrom escura, correndo para o oceano. E é isso mesmo que você está pensando: esgoto. Sinceramente, é muito desapego à natureza. E também ignorância, quanto à importância de sua preservação. Ou, talvez, falta de responsabilidade mesmo, em se tratando de um órgão público. A Prefeitura de Ipojuca acaba de ser multada, mais uma vez, por esse tipo de lançamento na areia da praia de Porto de Galinhas. Pior: o despejo foi de águas com zero tratamento.
Ou seja, um crime ambiental praticado por um órgão oficial. Mas isso não fica assim não. Pois a Prefeitura acaba de ser multada pela segunda vez consecutiva pela Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh). A multa, agora, foi de R$ 50 mil. Em fevereiro, a Prefeitura já havia sido punida com multa de R$ 20 mil. Como vocês sabem, o município de Ipojuca tem um litoral paradisíaco, com praias como Muro Alto, Maracaípe, Porto, Serrambi.
Ali ficam alguns dos resorts mais luxuosos de Pernambuco. Porto de Galinhas, por exemplo, é um dos principais destinos turísticos não só do Estado, mas do Brasil. Mas, pelo que se observa, as autoridades locais não estão entendendo a importância de se manter a praia limpa e isenta de dejetos orgânicos, para que o turista que lá chega, retorne aos seus locais de origem com vontade de voltar. Mas o que está se praticando é um crime ambiental. Um absurdo contra a natureza.
Como é um absurdo que, em pleno século 21, ainda aconteçam despejos intencionais, como este. Aliás, absurdo é não haver saneamento suficiente em todo o Estado. Em cidades como o Recife, por exemplo, o serviço de saneamento atende a pouco mais de 30 por cento da população. E o resultado é o que se vê: o Rio Capibaribe quase morto. O diretor de Controle de Fontes Poluidoras da Cprh, Eduardo Elvino, informa que a referida infração ambiental está prevista na Lei Estadual nº 14.249/2010. Segundo Elvino, o esgoto bruto, proveniente da rede coletora operada pela prefeitura, extravasou para o sistema de drenagem de águas pluviais (o que, aliás, ocorre muito em outras áreas do Estado, inclusive no Recife). “ Isso porque, a prefeitura opera um sistema de esgotamento sanitário precário”.
Mesmo sofrendo penalidade anterior, o governo municipal não resolveu o problema. E a mesma infração foi constatada de novo pela fiscalização da Cprh na segunda-feira (01/03). A Cprh ressalta que o problema em Porto de Galinhas está “relacionado ao crescimento desordenado da localidade, assim como a falta de investimento em infraestrutura de esgotamento sanitário”. E o problema de falta de saneamento naquele “paraíso” não é de hoje.
Não muito longe dos hotéis de luxo e das casas dos veranistas, há rio e palafitas fincadas no mangue. Como repórter do jornal O Globo – onde trabalhei por 23 anos – estive lá uma vez para mostrar a prevalência de esquistossomose em comunidades carentes. Em algumas delas, a incidência entre as pessoas que entrevistei havia chegado, na época, a mais de 80 por cento. Sem saneamento, como lembra a Cprh, os problemas ambientais ficam mais visíveis prejudicando toda uma cadeia social e econômica. “É necessário que haja investimento maciço em sistemas de esgotamento sanitário e de drenagem visando corrigir a defasagem existente na localidade”. Mas… cadê a vontade política de nossos governantes de investir em saneamento?…
Em Pernambuco, não é a primeira vez que uma prefeitura ou instituição pública sofrem multas por crimes ambientais. Nos links abaixo, você pode conferir outros casos.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cprh e Acervo #OxeRecife