Não é fácil. O trabalho é lento e cuidadoso. Mas, pelo menos, começou. A primeira expedição para remoção do coral-sol de navios naufragados no nosso Litoral já teve início. O animal, exótico e invasor, está colocando em risco os corais nativos, que são mais sensíveis, possuem crescimento mais lento e não possuem o mesmo poder de dispersão do Tubastraea spp. Por representar uma ameaça, ambientalistas e autoridades decidiram retirar a espécie, que é nativa do Pacífico Sul. Hoje foram arrancados 20 quilos do navio Virgo, um dos cinco que vêm sendo tomados pelo coral-sol (foto superior).
Mais de 20 mergulhadores e pesquisadores pernambucanos participaram da primeira operação para retirar os corais invasores da embarcação, naufragada a cinco quilômetros do Recife. A operação durou cerca de seis horas. E foi a primeira de uma série de cinco para tentar conter a bioinvasão da espécie exótica. Coordenada pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas/PE), a ação contou com a parceria da UPE, UFRPE, Syrien Dive, Abssal Mergulho, ONG Projeto de Conservação Recifal – PCR e do Corpo de Bombeiro. O coral-sol se expande com muita rapidez e precisa ser extraído porque coloca em risco a biodiversidade nativa, gerando inclusive impactos econômicos negativos
“Ao se estabelecer em um ambiente, essa espécie ataca os corais nativos, causando um desequilíbrio no ecossistema e na capacidade de alimentação e de reprodução dos peixes. Então, é necessário fazer o controle. Por isso, criamos um plano de ação e editamos um decreto, que envolve desde a retirada do animal até a inspeção de navios que atracam em Pernambuco para verificar a contaminação dos seus cascos”, detalha o secretário Estadual de Meio Ambiente, José Bertotti.
Os participantes do mergulho trabalharam na extração do animal alojado no casco do Virgo, a 20 metros de profundidade. Com martelinhos e espátulas, os mergulhadores começaram a “limpeza” pela área mais profunda da proa e seguiu em direção à popa do naufrágio. Os 20 quilos retirados de colônias foram colocados em sacos especiais capazes de conter as larvas dispersas pelo coral ao ser retirado. “Foi um trabalho difícil, complexo, mas exitoso”, afirma Múcio Banja, professor e pesquisado da UPE.
“Conseguimos tirar uma boa parcela do que estava lá para fazer o controle desses animais”, explica. “São centenas de colônias a menos, deixando de reproduzir e de contaminar os nossos recifes artificiais e naturais”, diz Banja, que integrou a expedição. Afundado em 2017, o Virgo estava com cerca de 24% de sua área tomada pelo coral. Ele foi o primeiro a ter presença da espécie invasora identificada pela ONG PCR. Parte do material coletado na atividade ficará com os pesquisadores parceiros ou será encaminhado às universidades. O restante seguirá para destinação adequada. Outras expedições serão realizadas para extrair colônias nos naufrágios Walsa, Bellatrix, São José, Phoenix, além do próprio Virgo, uma vez que ainda ficaram indivíduos no casco.
A expectativa é que a próxima missão ocorra até o final deste mês. Originário do Oceano Pacífico Sul, o coral-sol é encontrado principalmente no Arquipélago de Fiji. Os vetores de introdução dele estão relacionados à plataforma e outras estruturas da exploração de petróleo. Contudo, os navios também são tidos como vetores, através, principalmente, da incrustação da espécie em seu casco. Os indivíduos se fixam ao encontrar costão rochoso ou materiais como cimento, granito, aço e cerâmica.
E pode ocupar áreas até onde não há incidência de luz. São capazes de se reproduzir em alta velocidade, ocupando o espaço da fauna nativa e provocando um efeito devastador na biodiversidade marinha brasileira, com consequências que podem inclusive render grandes prejuízos à atividade pesqueira.
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Fotos: Pedro Caldas/ Semas-PE