Confederação do Equador é lembrada: Cepe lança livro sobre Frei Caneca

Um dos acontecimentos mais importantes da História do Brasil, a Confederação do Equador eclodiu no Nordeste há exatamente 200 anos. É que em 2 de julho de 1824 – lideradas por Pernambuco – as províncias da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte se rebelaram contra o autoritarismo de Dom Pedro I. No nosso estado, a data será lembrada com o lançamento do livro Frei Joaquim do Amor Divino Caneca, que ocorre às 10h da terça-feira, na livraria da Cepe que fica no Mercado Eufrásio Barbosa, em Olinda, onde também serão anunciadas as comemorações do bicentenário.

A obra tem organização e introdução de Evaldo Cabral de Mello, considerado o maior historiador vivo do Brasil. E traz uma coletânea da produção intelectual de frei Caneca, um dos principais líderes do movimento (que também participou da Revolução de 1817 e que é um dos heróis mais festejados em Pernambuco). O título tem 736 páginas, é dividido em dez séries de textos e traz 28 edições do jornal O Typhis Pernambucano, fundado e redigido por frei Caneca de dezembro de 1823 a agosto de 1824.

Traz, ainda, cartas trocadas com opositores;  a Dissertação sobre o que se deve entender por pátria do cidadão e deveres deste para com a mesma pátria, escrito em 1822; e o Itinerário que fez frei Joaquim do Amor Divino Caneca, saindo de Pernambuco a 16 de setembro de 1824, para província do Ceará Grande. Este último narra a fuga dos rebeldes do Recife, já tomado pelas tropas imperiais, em direção à Mata Norte de Pernambuco, até a capitulação em 29 de novembro, dando fim à Confederação do Equador.  Na introdução do livro, Evaldo Cabral de Mello faz uma síntese das manifestações de independência de Pernambuco, de 1817 a 1824, para uma melhor compreensão dos artigos elaborados pelo frade.  “As obras políticas de frei Caneca escapam ao doutrinarismo e ao debate puramente especulativo de ideias. Elas constituem sobretudo tomadas de posição relativamente a situações da política provincial e brasileira”, escreveu o historiador.

Um exemplo pode ser conferido na edição de 10 de junho de 1824, do Typhis Pernambucano, na qual o religioso deixa claro seu recado para o imperador: “Uma província não tinha direito de obrigar a outra província a coisa alguma, por menor que fosse; nem província alguma, por menor e mais fraca, carregava com o dever de obedecer a outra qualquer, por maior e mais potentada. Portanto, podia cada uma seguir a estrada que bem lhe parecesse, escolher a forma de governo que julgasse mais apropriada às suas circunstâncias, e constituir-se da maneira mais conducente à sua felicidade.” Professor de retórica, geometria e filosofia, Joaquim da Silva Rabelo era filho de um fabricante de tonéis (tanoeiro) e nasceu no Recife em 1779, na área hoje denominada Bairro do Recife.

O livro com a produção intelectual de frei Caneca foi publicado originalmente em 2001 e revela o amplo conhecimento do frade carmelita em história, matemática, teoria literária e doutrinas políticas. A nova edição vem com o acréscimo do jornal de nº 17 do Typhis Pernambucano, que não constava anteriormente. O religioso teve participação na Revolução Republicana de 1817, foi preso e ficou encarcerado na Bahia por dois anos. De volta ao Recife, teve presença de destaque na Confederação do Equador, presidida por Manuel de Carvalho Paes de Andrade. Depois de se renderem, encerrando o movimento revolucionário com a promessa de que seriam recebidos com clemência pelo imperador, frei Caneca é preso e condenado à forca.

Ou seja, um revolucionário incansável, que pagou com a vida a defesa dos seus ideais. Condenado pelas autoridades, Frei Caneca era respeitado pelo povo. Tanto que os carrascos encarregados de cumprir a sentença, se recusaram a enforcar frei Caneca. Então, a pena foi substituída por tiros de arcabuz, no Forte das Cinco Pontas, localizado no bairro de São José, no Centro do Recife, em 13 de janeiro de 1825. O corpo foi enterrado no Convento do Carmo, situado na mesma região. A capa do livro é ilustrada com uma recriação da imagem de frei Caneca produzida pelo artista plástico Roberto Ploeg. Durante o evento, no Eufrásio Barbosa, serão anunciadas as comemorações do bicentenário da Confederação do Equador.

Nos links abaixo, você confere mais informações sobre 1817, 1824 e outro fatos históricos.

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Serviço
O que: Lançamento de Frei Joaquim do Amor Divino Caneca
Quando: 2 de julho (terça-feira)
Hora: A partir das 10h
Onde: Livraria da Cepe no Centro Cultural Mercado Eufrásio Barbosa (Largo do Varadouro, s/n, Varadouro, Olinda)
Preço: R$ 90 (impresso) e R$ 35 (e-book)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação / Cepe

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One comment

  1. Parabéns pelo excelente texto,Letícia!
    E o livro citado ,organizado pelo historiador Evaldo Cabral de Mello,já o torna clássico quanto ao conhecimento da produção intelectual do grande Frei Caneca.

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