Concertos pela Paz: Orquestra Criança Cidadã se apresenta no Vaticano e homenageia Francisco

E viva os pequenos músicos, que tiraram o Coque do mapa antes restrito à marginalidade, e que agora é sempre incluído na relação de áreas carentes do Brasil que passam por experiências transformadoras. Eles são da Orquestra Criança Cidadã, projeto de inclusão social pela música, criado em 2006 e mantido com doações. Nesta semana, 25 dos seus integrantes se apresentam para ninguém menos que o Papa Francisco, no Vaticano. A OCC integra a programação dos Concertos da Paz, concebidos para sensibilizar o mundo contra as guerras. As exibições nos dias 3 e 4 de novembro. Eles são acompanhados de instrumentistas russos, ucranianos e italianos nas duas sessões.

Os brasileiros moram em áreas pobres, com IDH baixo, com privações típicas, de insegurança a serviços básicos precários. Eles residem no Coque, “zona de conflito” onde ainda é grande a disputa de gangs e pelo tráfico, embora a realidade social da área tenha mudado para melhor nos últimos anos. Foi lá que o projeto começou, operando o desvio de rota de muitos desses jovens, em situação de completa vulnerabilidade social.  Outra parte é de Camela, distrito pobre do município de Ipojuca, na Zona da Mata de Pernambuco e no qual a OCC tem uma extensão. Há jovens que já perderam parentes para o tráfico, outros que são filhos de ambulantes que trabalham nas estações do metrô. E também há aqueles que, com seus instrumentos, viraram esteio de família. A comitiva é formada por adolescentes e jovens com idades entre 12 e 21 anos. Ao longo dos 18 anos do projeto, 700 crianças foram atendidas. Alguns com trajetória bem sucedida, como é o caso de Antonino Tertuliano, que hoje integra a Orquestra Filarmônica de Israel. Ele foi convidado a juntar-se à comitiva, em Roma. E atualmente faz Mestrado em Munique, na Alemanha.

Apesar de ser a primeira experiência internacional de alguns integrantes, a Orquestra Criança Cidadã já acumula no currículo apresentações nacionais e internacionais, em países como Alemanha, Portugal, Estados Unidos, Itália, Argentina, China e Israel. O repertório escolhido por José Renato Accioly e Lanfranco Marcelletti Jr.( aos quais caberá a regência dos concertos) inclui compositores clássicos e contemporâneos.  Em homenagem aos cidadãos cujas histórias de vida estão sendo abaladas diretamente por conflito, figuram o russo Sergei Rachmaninov e o ucraniano Mykola Leontovich. Os ensaios ocorreram antes do conflito entre Israel e o Hamas, e a OCC não informou se foi incluído alguma música que se relacione com o drama palestino. O italiano Antonio Vivaldi e o argentino Astor Piazzolla (este em tributo ao Papa), também foram selecionados.

Do Brasil, aparecem Heitor Villa-Lobos, Ary Barroso e o pernambucano de Caruaru Clóvis Pereira, atualmente com 93 anos, de quem foram escolhidas as “Três peças nordestinas”, importante produção musical do Movimento Armorial.  Dois pontos altos do concerto devem ser quando musicistas russos e ucranianos ficam frente à frente para momentos solo. O primeiro com um violinista de cada país na ária “Erbarme dich, mein Gott”, parte do oratório “Paixão segundo São Mateus, BWV 244”, do alemão Johann Sebastian Bach. No encerramento, um quarteto formado por integrantes dos países em guerra executarão o famoso tango “Por una cabeza”, do francês radicado na Argentina Carlos Gardel com Alfredo Le Pera.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Thiago Barbosa / OCC / Divulgação

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