Caminhadas Domingueiras: Mergulho em estilo neocolonial no Recife

Depois de incursionar pelos estilos colonial, barroco, neoclássico, eclético, pela arquitetura de ferro e art déco, o Grupo Caminhadas Domingueiras Olhe pelo Recife realizou, neste domingo, mais um passeio, destinado a observar a arquitetura da nossa querida cidade. Dessa vez, foi o estilo neocolonial que esteve no foco do roteiro, comandando pelo arquiteto e urbanista Francisco Cunha. O percurso passou por 16 vias de pelo menos oito bairros. Começamos pela Praça Euclides da Cunha,  no bairro da Madalena, onde fica o Clube Internacional do Recife. E terminamos na Rua do Imperador, em Santo Antônio, em visita ao Arquivo Público Estadual. Os dois prédios são exemplares do estilo neocolonial.

O neocolonial surgiu no início do século 20, como resultado da busca por uma arquitetura e também de uma arte genuinamente nacionais. Esse movimento propõe o resgate de elementos decorativos do estilo colonial. Teria sido uma reação à imposição da arquitetura eclética, estilo francês que ainda pode ser visto, por exemplo, nas ruas do Bairro do Recife. “O neocolonial foi  vitorioso por cerca de três décadas, pois o Brasil buscava um estilo próprio, já que o eclético vinha da França. Surge, então, o neocolonial, com características inspiradas não só no colonial mas também no barroco”, explica Francisco Cunha, lembrando que o neocolonial se impôs durante as comemorações do centenário da independência do Brasil.

E por que a caminhada começou na Praça Euclides da Cunha? Porque é lá que fica o Clube Internacional do Recife, um precioso exemplar da arquitetura neocolonial, e que tem elementos do estilo barroco e também do colonial.  Em seguida, estivemos no Memorial de Medicina, onde no início do século passado funcionou a Faculdade de Medicina do Recife. Há quem defina o casarão como eclético, mas para Francisco Cunha, o prédio tem estilo neocolonial, embora com influências hispânicas e colunas em estilo manuelino. O imponente casarão tem 3.500 metros quadrados distribuídos em dois pisos. A cobertura possui níveis diversos e os beirais de telha-canal à vista reforçam o lado neocolonial do seu estilo.

O casarão funciona no mesmo local onde havia um hotel internacional, construído pelo empresário Delmiro Gouveia  (1863-1917), que ergueu um complexo no bairro do Derby que incluía até um mercado, no local onde hoje funciona o quartel da Polícia Militar. O mercado é tido como o primeiro “shopping center” do Recife, mas foi destruído por um incêndio. O Derby era muito movimentado, pois tinha até hipódromo. O Memorial de Medicina fica na Praça Amaury de Medeiros, 206. O seu projeto tem assinatura do famoso arquiteto Giacomo Palombo. A construção se deu entre 1926 e 1927. Também é de Giacomo Palombo o projeto de reforma do casarão número 471,  da Avenida Rui Barbosa onde hoje funciona o Restaurante Ilha de Kosta.   O casarão  passou dez anos fechado e já abrigou por várias edições da Casa Cor.    Pertencia à família do industrial Othon Bezerra de Melo e tinha estilo colonial.

Na década de 20 do século passado, o arquiteto foi contratado para “modernizar” o casarão, tido hoje como um perfeito exemplar do estilo neocolonial. Na mesma avenida, na esquina com a Rua da Amizade, há um outro sobrado no mesmo estilo. A caminhada terminou na Rua do Imperador, com visita ao Arquivo Público Estadual  que foi originalmente construído entre 1729 e 1732, para abrigar câmara e cadeia. Em 1855, os presos foram transferidos e o prédio passou a sediar o Tribunal de Relações do Júri. Em 1975, virou Arquivo Público. Seu estilo era colonial, mas passou a ser neocolonial após reforma. O grupo de caminhantes foi recebido pelo Presidente do Arquivo, Evaldo Costa, que – arquitetura à parte – revelou relíquias que constam do seu acervo. “Só de periódicos, são 10 mil títulos de 1821 até hoje”, disse. “Temos livros raros, alguns apenas 17 anos mais novos do que o Recife”. Ou seja, relíquias não faltam na na nossa cidade. Sejam na sua arquitetura, ou nos gavetões, armários e arquivos digitais que abrigam a nossa história.

Leia também:
A República e o estilo eclético no Recife 
Derby: eclético, art déco, modernismo
Art déco: Miami ou Recife?
Lembram dele? O caso único do prédio com duas fachadas simultâneas
Caminhada das Pontes foi um sucesso
As saudáveis caminhadas de domingo
O lado “gelado” das caminhadas
Cadê os lampiões da Ponte Velha?
Praça Dom Vital de roupa nova
Decadência na Praça da Independência
Silenciosas relíquias dos tempos de Nassau
Sinos novos na Basílica do Carmo
Passeio por 482 anos de história
Domingo de passeio ao passado
Vamos salvar o centro do Recife?
As detonadas margens do Rio Capibaribe
Parem de derrubar árvores (na Aurora)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Marcelo Negromonte/ Observatório do Recife (foto do grupo)

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.