Parece uma escola de samba ou desfile dos bois de Parintins. Sobram adereços sofisticados, brilho nas fantasias, coreografia e enredo. Teve até alegoria. Mas era uma quadrilha junina. Foi assim que a a Dona Matuta transformou-se na grande campeã da 33ª edição do Concurso de Quadrilhas Juninas do Recife, que mobilizou o Sítio Trindade, no bairro de Casa Amarela, Zona Norte. O resultado foi divulgado na madrugada de hoje, no palhoção do Sítio Trindade, o mais tradicional arraial do Recife.
A Dona Matuta foi formada em 2006, a partir da reunião de quadrilheiros veteranos. O grupo surgiu no bairro de San Martin e apresentou este ano o tema O coração de Patativa, baseado na obra do poeta Patativa do Assaré (1909-2002). Pelo menos o enredo escolhido tem tudo a ver com o Nordeste. Pois Patativa está entre os maiores poetas populares da Região. Há museu em sua homenagem, na cidade de Assaré, no Sertão do Ceará.

Formada em 2006, a partir da reunião de quadrilheiros veteranos, a quadrilha surgiu no bairro de San Martin. A apresentação acumulou um total de 119,9 pontos. A segunda colocada foi a Quadrilha Raio de Sol, com o tema Andanças: Louvação a São João. O grupo é e Águas Compridas, e surgiu em 1996. O terceiro lugar ficou com a Junina Lumiar, com o tema O banho de São João. A Lumiar foi fundada em 1994, no bairro do Pina. A quarta colocação saiu para Origem Nordestina, do Morro da Conceição. O tema foi Nordestinos – Reisfugiados no Eldorado. Na quinta posição, a Junina Traque, que é de Olinda e escolheu como enredo A origem nordestina segundo a tradição matuta.
As cinco vencedoras ganharão prêmios que vão de R$ 5 mil (quinta colocada) a R$ 13 mil (vencedora). Ao todo, 45 quadrilhas se habilitaram parta disputar os prêmios e 40 compareceram às apresentações. O concurso é promovido pela Prefeitura através da secretaria de Cultura. Agora, uma sugestão do #OxeRecife: porque não se insituir um concurso, também, para quadrilhas juninas realmente matutas, que cada vez mais raras? Seria uma forma de preservar as nossas tradições. E que felizmente, ainda estão vivas em algumas cidades do interior. Pelo menos, é o que se vê, por exemplo, em Riacho das Almas, que fica no Agreste de Pernambuco. Lá, a chita e o chapéu de palha ainda marcam a indumentária desse folguedo junino.
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Andrea Rego Barros / Divulgação / PCR
O “matuto” como concebido por nós, moradores das capitais nordestinas, é reflexo dos modelos estereotipados criados pelas escolas onde fomos educados. Quem gosta de xita é gente da capital, não do interior. E se em Riacho das Almas ou outros locais o São João ainda se percebe como “antigamente”, é porque as pessoas não têm acesso aos mesmos recursos tecnológicos e diversidade têxtil como as da capital. Além do mais, a cultura é dinâmica. O que importa é que as quadrilhas, assim como as Escolas de samba, do modo como se apresentam hoje, continuam a ser criadas e movidas por pessoas das próprias comunidades.
Ok, Kaio Vitor. Boa observação, mas se tudo fosse assim, hoje não teríamos, no carnaval, os blocos de pau e corda que atraem multidões de foliões no carnaval. Sim, acho lindas as quadrilhas estilizadas, mas algumas em nada lembram o São João. Acho que os concursos devem continuar havendo, até pela importância dessa manifestação para a convivências das comunidades. Mas não custa nada estimular, também, as tradicionais. Há alguns anos, quando era correspondente do jornal O Globo, estive em Caruaru, para fazer uma reportagem sobre a economia junina. Quase que o fotógrafo não conseguia fazer foto junina, porque no palco só aparecia umas bandas malamanhadas com mulheres quase nuas. Parecia até o Teatro Marrocos de antigamente.