Caatinga tem saneamento rural e reuso de água nos Sertões do Ceará e do Piauí. Benefício para lavoura

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Infelizmente, os gestores de todas as esferas públicas do Brasil – municipal, estadual e federal –não dão a devida prioridade ao saneamento, o que faz do nosso um país de rios sujos.  No domingo passado inclusive, Dia Mundial dos Rios, houve ações em cinco regiões em protesto contra essa situação. É inacreditável que, em pleno século 21, a cobertura de serviço de esgoto atenda a apenas 55,81 por cento da população. No Nordeste, a situação é ainda pior, principalmente nas áreas rurais. É aí que entra a presença da  sociedade civil, pra reduzir o descalabro. Um exemplo é a iniciativa da Associação Caatinga (AC), que está construindo canteiros biossépticos para 75 famílias moradoras das comunidades do entorno da Reserva Natural Serra das Almas, localizada entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI).

Crateús fica a 350 quilômetros de Fortaleza, e Buriti se localiza a 245 quilômetros de Terezina. E a Reserva é gerida pela AC desde 2000, com um acervo  de ações que beneficiam as comunidades e a natureza. O modelo de saneamento rural em questão traz, ainda, mais uma vantagem: o reuso da água. O canteiro biosséptico funciona da seguinte forma: a água sai do banheiro e das fossas da casa, atravessa o subsolo e vai em direção ao canteiro onde uma estrutura física separa os dejetos do líquido, enquanto micro organismos digerem o material orgânico e o utilizam para “adubar” uma área. No canteiro, para absorver a água produzida, deve haver alguma espécie de planta que tenha alto consumo de água.  Como bananeira, por exemplo. Assim sendo, o canteiro biosséptico promove saúde pública e reduz a propagação de doenças, pois evita o descarte incorreto de dejetos.

Nas grandes metrópoles, o reuso das águas já é adotado, como ocorre no Shopping Recife: irrigação de jardins

“ Antes de conhecer a tecnologia, as pessoas achavam que a água do vaso sanitário não serviria mais para nada e chegaram até a duvidar, mas ao longo das capacitações que realizamos elas foram percebendo as inovações do canteiro biosséptico”, explica Gilson Miranda, coordenador de conservação da Associação Caatinga. O reuso da água já é utilizado até mesmo em grandes centros urbanos, como ocorre no Shopping Recife, localizado na Praia de Boa Viagem, Zona Sul da capital pernambucana. O que varia é apenas o método utilizado. “Fiquei encantada como é possível reaproveitar a água da descarga do vaso sanitário e, por meio do acompanhamento dos técnicos, pude compreender melhor o funcionamento do canteiro”, destaca Antônia Lúcia da Silva. “E agora posso usar a água dessa tecnologia para cultivar frutas que nem a banana”, diz a moradora da comunidade de Queimadas, em Crateús.

A ação é patrocinada pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, através do projeto No Clima da Caatinga. Também estão sendo construídos 12 banheiros em residências que não contam com o cômodo, já que essa tecnologia só pode ser aplicada em casas que já possuem banheiro estruturado e fossa comum. Já estão sendo construídos os canteiros biossépticos nessas residências. “Além dessas construções, as famílias serão capacitadas no uso e manutenção da tecnologia, com manuais produzidos com linguagem acessível e de fácil compreensão”, complementa Gilson Miranda. A Associação Caatinga é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, cuja missão é conservar a Caatinga, difundir suas riquezas e inspirar as pessoas a cuidar da natureza. O projeto No Clima da Caatinga busca a redução dos efeitos potencializadores do aquecimento global por meio da conservação do semiárido, a partir do desenvolvimento do Modelo Integrado de Conservação da Caatinga.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Associação Caatinga / Divulgação

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