Brejo da Madre de Deus é tombado

Muita gente conhece Fazenda Nova,  localizada a 180 quilômetros do Recife.  A  vila tornou-se famosa por  encenar, desde 1951, o Drama da Paixão, hoje um super espetáculo sobre os últimos dias de Cristo, apresentado anualmente na Nova Jerusalém, o maior teatro ao ar livre do mundo. Em anos sem pandemia, a apresentação atrai milhares de turistas do Brasil  e exterior durante a Semana Santa. O que muitas pessoas desconhecem é que a famosa localidade onde fica a cidade teatro é apenas uma vila do município do Brejo da Madre de Deus, cuja sede está a apenas 15 quilômetros de Fazenda Nova.  Então, não custa nada visitar o núcleo urbano secular do Brejo, com seu graciosa conjunto arquitetônico, cercado de belas paisagens naturais por todos os lados.  Não é à toa, portanto, que seu centro tenha sido tombado em abril pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Ou seja, a partir de agora, aquele lindo núcleo urbano é patrimônio cultural de Pernambuco. E também o seu entorno, incluindo suas paisagens naturais.

É o que determina o Decreto número 50.527, de 12 de abril de 2021. Assim, aquele belo conjunto que vocês observam nas fotografias de Grinaldo Gadelha não pode ser mais descaracterizado.  Para reformar os prédios, adaptá-los para uma loja, por exemplo, a mudança tem que passar pelo crivo da Fundarpe. Assim, evita-se a bagaceira que ocorre em vias do Recife, como as Ruas da Imperatriz e Nova, onde os belos sobrados dos séculos 18 e 19 são descaracterizados por comerciantes, com a benevolência das autoridades municipais.  Além do Brejo da Madre Deus (no Agreste), Pernambuco tem outros núcleos urbanos tombados pelo Estado e outros em processo de tombamento.

Entre as tombadas, estão Triunfo (Sertão) e Muribeca,em Jaboatão dos Guararapes (Região Metropolitana). É o que informa Neide Fernandes de Souza, Gestora de Patrimônio Histórico e Material da Gerência Geral de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundarpe. Ela conta que duas outras cidades, estão com processo de tombamento em tramitação: Belém do São Francisco e Floresta (ambos no Sertão do São Francisco). Há outras cidades – como Olinda e Igarassu (RM) cujos centros históricos são tombados pelo Iphan. No caso do Brejo da Madre de Deus, o tombamento atinge  a Zona Histórica de Preservação Rigorosa e a Zona Histórica do Entorno.

No caso do Brejo, o tombamento também determina a proteção da Zona Ambiental do Entorno  e também da Paisagem Natural.  A cidade fica em um vale, formado pelas Serras da Prata, do Estrago e do Amaro, e integra a Bacia Hidrológica do Capibaribe. Sua vegetação é típica de áreas serranas com pequenos brejos de altitude. O lugar é tão bonito que inspirou o fotógrafo Grinaldo Gadelha a fazer um ensaio fotográfico sobre o município, que virou a série Divino Brejo, que inclui as três fotos aqui publicadas por cortesia da Gadelharia Indústria Criativa. As serras, quando molhadas, com pequenas quedas d´água, brilham como espelhos ou  parecem prata, lindas. E quando chove muito, algumas delas ostentam cascatas como as que circularam nesta semana, nas  redes sociais. À tarde, mesmo em épocas secas  elas ficam bonitas, com a caatinga sob a luz do sol, como vocês podem ver na foto abaixo.

Belo prédio, em fotografia de Grinaldo Gadelha, Série “Divino Brejo”, da Gadelharia Industria Criativa

Além disso, o Brejo é muito antigo.  A ocupação da localidade data do século 18, pois em 1759 conquistou  o credenciamento de Freguesia, passando a atrair população e negócios e abrigando instituições públicas que atendiam a demandas não só do Agreste mas também do Sertão. Em 1814, a Ouvidoria que funcionava na Vila de Cimbres, em Pesqueira, transfere-se para o Brejo. A partir de  1825, a população passa a  pressionar as autoridades para que o Brejo se transforme, também, em vila. O requerimento, no entanto, seria atendido em 1833.

O tombamento inclui edificações como a Igreja de São José (no alto de uma colina), a de Nossa Senhora do Bom Conselho (na parte baixa), a Casa da Câmara e o Museu Histórico.  “A cidade do Brejo da Madre de Deus  tem as suas ruas, edifícios e tipos populares imersos na história política e social de Pernambuco, não podendo permanecer à sombra das cidades costeiras”, diz Neide. “O resgate de sua memória aporta, enfim e, sobretudo, um testemunho essencial dos fatos e valores da história interiorana – indispensável à tentativa de entender o processo de desenvolvimento pernambucano como um todo” . Abaixo, você confere outras informações sobre patrimônio histórico e arquitetônico do Recife e outras cidades.

Leia também:
Grinaldo e sua Gadelharia Indústria Criativa
O bairro da Tamarineira e o “verde oásis” no meio da selva de concreto
Teatro do Parque restaurado: “Uma das maiores emoções de minha vida”
História rica e memórias afetivas: Teatro do Parque ganha livro
Licitação para restaurar Chalé do Prata sai ainda em 2021
Reformada, Casa dos Azulejos Azuis muda paisagem no centro de Salvador
Pouco resta do lindo Chalé do Prata
Chalé do Prata começa a desabar
Conhecendo a Mata Atlântica
Casarão do Açude do Prata perto da restauração 
Vai sair a reforma do Chalé do Prata
Reformada, Casa dos Azulejos Azuis muda paisagem no centro de Salvador
Hamburgo e Recife: Semelhanças
O Recife pelas lentes de Fred Jordão
Dê o Recife de presente ao seu papai
O Recife pelas lentes de Fred Jordão
Que breu é esse na Torre de Cristal
Aos 483, o Recife é lindo? Veja fotos
Com Hans, entre o barroco e o rococó
Torre de Cristal não pode apagar: trevas onde devia haver luz
O Recife pelas lentes de Fred Jordão
Com Hans, entre o barroco e o rococó
Cadê os lampiões da Ponte Velha?
Apipucos: Adeus às antigas luminárias
De olho nas luminárias da Bom Jesus

Art Déco: Miami ou Recife?
Passeio do estilo colonial ao moderno bossanovista
Vamos salvar o centro do Recife
Livro mostra mania de grandeza: “O mundo começava no Recife”
Caminhadas Domingueiras: Mergulho no estilo neocolonial no Recife

Você está feliz com o Recife?
O índice de felicidade urbana do Recife
Viva 2018, Recife
O Recife que queremos, em 2019
Recife, cidade parque em 2037
Recife se prepara para os 500 anos
Uma cidade boa para todo mundo
Recife, mangue e aldeões guaiás
Livro mostra mania pernambucana de grandeza: “O mundo começava no Recife”
Livro mostra jardins históricos do Recife
Estátua de Ariano no chão

Art Déco: Recife ou Miami?

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Grinaldo Gadelha / Gadelharia Indústria Criativa / Grupo Bora Preservar

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.