É claro que todo mundo sofre com a poluição dos rios. A fauna, a flora, os humanos. Todos se prejudicam. E Pernambuco é um prato cheio de rios que funcionam como “fossas”, inclusive no Recife, onde pouco mais de 30 por cento dos domicílios têm acesso a saneamento básico. O que é lamentável. Estão aí três esgotos a céu aberto que não nos deixam mentir no Recife: o Capibaribe, o Beberibe e o Tejipió. E quem mais chora e sente os efeitos da degradação ambiental são as populações ribeirinhas e comunidades pesqueiras que, a cada dia, percebem a escassez dos produtos que antes garantiam seu sustento: peixes, moluscos, crustáceos.
A comunidade pesqueira está mobilizada, e exige enfrentamento também contra as mudanças climáticas. Amanhã, quinta-feira (4/8), comunidades tradicionais pesqueiras farão um protesto contra essa dramática situação. Claro, nada a ver com aquelas manifestações que fecham avenidas e ruas, queimando pneus. Como o assunto é água, a manifestação será pelo Rio: uma barqueata. Começa com concentração comunidade Ilha de Deus (antiga Ilha do Sem Deus), passando em frente ao Armazém do Campo (Rua Martins de Barros) e terminando ao lado do Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do Estado. A concentração começa às sete da manhã. A Ilha de Deus é uma comunidade que sobrevive da pesca e seus derivados e, portanto, sente na pele os efeitos da poluição.

O ato reunirá representantes das comunidades pesqueiras do Litoral Norte e Litoral Sul de Pernambuco, que lutam contra o “rascimo ambiental”. Durante o ato, será lançada Carta e Manifesto denunciando “atrocidades nos territórios pesqueiros”, que segundo os profissionais da pesca são cometidas por instituições oficiais, complexos industriais, especulação imobiliária e pela falta de educação ambiental da população. “Pescadores sofrem com a invasão de empreendimentos comerciais e imobiliários em seus territórios pesqueiros, que são atingidos pelo assoreamento e poluição de rios e mangues”, reclamam. .
Na pauta de reivindicações estão: o cenário de enfrentamento às mudanças climáticas durante o período de chuvas que desnuda a escassez do pescado; a privatização das águas a partir de empreendimentos públicos/privados que não consultam as comunidades e impossibilitam o direito de ir e vir na maré, rios e mangues, ocasionando uma perda dos territórios e o aniquilamento da cultura da pesca. Além da implantação de um programa que ampare dignamente as comunidades pesqueiras durante esse cenário de mudanças climáticas. Participam também da manifestação: ambientalistas, defensores dos direitos humanos, pescadores e pescadoras que atuam na defesa dos modos de vida da população pesqueira que é vítima do racismo ambiental e do capitalismo.
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Serviço:
Evento: Barqueata em defesa das comunidades pesqueiras
Onde: Na rampa da comunidade Ilha de Deus/ Ato no Palácio do Campo das Princesas
Quando: 4 de agosto, quinta-feira
Horário: 7h concentração
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação e Letícia Lins / #OxeRecife