Aurora: Obra sem ética nem estética

Obra sem ética nem estética. É assim que pode ser definida essa esdrúxula armação  que vem sendo construída na Rua da Aurora, colocando em risco as estruturas de um casarão do século 19, onde funciona a Aurora Filmes, organização não governamental que ensina jovens a fazer cinema. Aliás, ensinava. Porque a pressão dessa obra contra o imóvel antigo levou a coordenadora da Ong, Sandra Ribeiro, a suspender a prestação do serviço “por medida de segurança”. Ela mora no imóvel – datado de 1855 – e que, durante várias gerações, pertenceu a sua família. Porém encontra-se diante de intermináveis aborrecimentos,  que resultaram em queixas na Polícia Civil e até processos na Justiça.

A edificação, colada ao casarão, fica em um terreno de apenas quatro metros de largura. Ela vem sendo construída para sediar a Associação dos Auditores do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Segundo Sandra, até o seu pequeno quintal , onde montou um estúdio de gravação para a ong, “eles querem tomar para ceder lugar ao jardim da obra em construção”. A confusão é tão grande, que já rendeu muito trabalho  e dor de cabeça à cineasta, que tem tentado fazer valer seus direitos junto à Prefeitura, à Polícia Civil e no Tribunal de Justiça de Pernambuco. “Há duas rachaduras nas paredes e sob a escada, por conta da pressão feita pela obra da Associação”, reclama Sandra.  “Eles estão tentando construir um prédio usando minhas paredes como estrutura”, acrescenta.  Não é preciso ser engenheiro nem servidor de órgãos públicos competentes para se constatar que alguma coisa está errada nessa obra.

“Há duas rachaduras na parede por conta  da pressão feita pela estrutura metálica da obra. Eles estão tentando construir um prédio usando minhas paredes como suporte”, reclama com razão. Ela já apelou até para a Defesa Civil do Recife. Esta emitiu solicitação de laudo de vistoria à Dircom (Diretoria Executiva de Controle Urbano do Recife). A Dircom autuou a obra e determinou a retirada das estruturas metálicas que pressionam o casarão. Porém determinar é uma coisa. Cumprir é outra. Isso porque ainda está tudo lá do mesmo jeito. Nada foi retirado. “A casa tem rachaduras provenientes do impacto”, afirma a cineasta. A obra começou com estudo de solo, em 2017. Em 2018, o terreno foi cercado e cavaram o chão para implantação dos alicerces.  Sentindo-se prejudicada, Sandra entrou na Justiça. Eles pararam a obra, mas deixaram buracos abertos. O inverno  chegou, e a água invadiu a casa dela.   Em 2020, em pleno lockdown da pandemia, a obra foi retomada, segundo Sandra. “E o que está segurando a estrutura da obra deles, infelizmente é a minha casa”, ratifica ela, que mora no imóvel.  Sandra dispensou  temporariamente os 60 alunos oriundos da escola pública, que aprendem a usar recursos audiovisuais na Aurora Filmes.

“Os problemas não se referem apenas às estruturas de minha residência e à invasão do meu quintal, mas há outros imóveis igualmente prejudicados na Travessa do Costa, que fica junto ao casarão”, diz.  Afirma, ainda, que a estrutura metálica colada ao seu imóvel deu acesso fácil à entrada de marginais, o que permitiu furto de equipamentos como aparelhos de ar condicionado, câmeras, o que – segundo Sandra – não ocorria antes. Os marginais usaram as estruturas da construção vizinha, para subir e invadir sua residência.

Já levaram vários equipamentos que eram utilizados nas aulas.  Ao todo, somam cinco os boletins de ocorrência registrados na Polícia. Eles incluem três contra furtos.  Em um outro boletim, há acusações de assédio moral e até sexual, em flagrante desrespeito à sua condição de mulher. E o quinto refere-se a danos ao patrimônio privado, quando serraram a caixa do ar condicionado, sem que ela tivesse dado autorização para esse tipo de intervenção no seu imóvel. No Tribunal de Justiça  de Pernambuco, tramitam mais três processos. Ela está acionando a Associação, por perdas e  danos, em um processo. Em outro, lidera uma ação popular contra a entidade, em nome da Aurora Filmes, uma vez que quando a obra ficar pronta, moradores da Travessa do Costa ficarão sem acesso à Rua da Aurora.

Datado de 1855 e ocupado pela Aurora Filmes, o casarão da cineasta Sandra Ribeiro era assim antes da polêmica obra que domina sua lateral..

Na pequena via, 15 famílias perderão o acesso de suas casas à Rua da Aurora . A vila é centenária e foi construída para operários de uma fábrica de azulejos,  pelo então industrial Cornélio Brennand. Depois que a fábrica fechou (transferindo-se para a Várzea), as quinze casas ficaram para os antigos operários. O terceiro processo que rola na Justiça  Estadual  é de autoria da Associação, que entrou com ação de reintegração de posse contra Sandra Ribeiro, alegando que ela invadiu o estacionamento da entidade. Porém, segundo ela, o que era o estacionamento deles é exatamente o terreno onde a obra vem sendo feita que, no entanto, está em processo de avanço para o seu quintal. Ou seja, a cineasta tem uma longa batalha pela frente. O #OxeRecife enviou um e-mail para a Associação de Auditores do TCE para ouvir a versão deles sobre a confusão. Mas não obteve retorno. Também tentou contato por telefone fixo e pelo celular da entidade, porém sem obter sucesso. 

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Parem de derrubar árvores (45)
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Aurora Filmes / Divulgação

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