As onças-pardas da Mata Atlântica

Compartilhe nas redes sociais…

Maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil, o Legado das Águas mostra o quanto  é importante a preservação da  vegetação nativa para sobrevivência da fauna, inclusive aqueles animais de grande porte, cada vez mais raros em outras regiões do país, devido à destruição daquele  que é um dos biomas mais ameaçados do mundo. O Legado das Águas fez uma parceria com a Onçafari, para monitorar e estudar o comportamento de felinos, exatamente para traçar estratégias de manejo e proteção de animais como as onças-pintadas. O objetivo é contribuir para a conservação da espécie, que está criticamente ameaçada de extinção, pois estima-se uma população de apenas 300 indivíduos no bioma, do qual restam pouco mais de dez por cento da cobertura original no país.

A surpresa, no entanto, foi a frequência com que as onças-pardas passaram a ser vistas. Em apenas um ano, os pesquisadores conseguiram 300 vídeos desses mamíferos, o que possibilitou a identificação e acompanhamento sistemático de cinco indivíduos.  Foram identificados quatro machos: o Tikún, o Troncho, o Dengoso e o Naurú; e uma fêmea: a Capitu. As identificações são essenciais para acompanhar os animais, principalmente no quesito de saúde e de suas áreas de vida dento do Legado. “Monitorar e diferenciar onças-pardas é uma tarefa desafiadora. Isso porque, diferentemente das onças-pintadas – que são identificadas por suas rosetas (nome científico para as pintas dessa espécie) , os pesquisadores individualizam as pardas por marcas físicas, como cicatrizes, pelagem, porte e entre outras marcas”, afirma  Bárbara Dias, bióloga e coordenadora da Base da Onçafari no Legado das Águas.

A Onçafari é Associação criada para estudo e conservação da vida selvagem, que atua no Pantanal, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica com o objetivo de promover a conservação do meio ambiente e contribuir com o desenvolvimento socioeconômico das regiões em que está inserido por meio do ecoturismo e de estudos científicos. O projeto é focado na preservação da biodiversidade em diversos biomas brasileiros, com ênfase em onças-pintadas e lobos-guarás.  Já o Legado das Águas fica no Vale do Ribeira, interior de São Paulo onde não só protege o bioma como reintroduz espécies ameaçadas de extinção ou consideradas extintas (inclusive as vegetais). O Legado tem área de 31 mil hectares divididos entre os municípios de Juquiá, Miracatu e Tapiraí, no Vale do Ribeira. Levantamento efetuado por pesquisadores indica que a reserva abriga 1.765 espécies das quais 809 são de animais. As restantes são vegetais, inclusive 233 só de orquídeas.

Preservação de mata nativa, permite a convivência de animais de maior porte como antas e onças.

Além das onças-pardas, o primeiro ano de parceria resultou em 7.066 registros de mamíferos e 1.370 de aves, confirmando que o Legado das Águas é um relevante refúgio para os animais silvestres. Entre os mamíferos que foram registrados em 7.066 vídeos, destacam-se espécies como queixadas (Tayassu pecari) que foram os de presença mais frequente, com 1892 vídeos.  Em seguida foram as antas (Tapirus terrestris), com 498 aparições. E as onças por  300 vezes, deram o ar da graça. Periodicamente, vídeos divertidos mostrando os hábitos desses animais são disponibilizados nas redes sociais do Legado das Águas, como uma ferramenta de educação ambiental e conscientização da importância da conservação dessas espécies.

Outro destaque foram os pequenos felinos, como a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi) e o gato-maracajá (Leopardus wiedii) que foram registrados com frequência. Imagens mostram esses bichos silvestres realizando os mais diversos comportamentos: caçando, fêmeas com filhotes, explorando e demarcando a área. “Registrar essa quantidade e diversidade de espécies demonstra que o Legado das Águas é uma floresta muito saudável, um refúgio, especialmente para animais ameaçados de extinção”, reforça Bárbara Dias, bióloga e coordenadora da base do Onçafari em área do Legado.

Natureza generosa do Legado das Águas permite a convivência de 1.765 espécies, das quais 809 são animais.

O trabalho inicial visava estudar onças pintadas, mas elas não foram registradas pelas câmeras, nesse primeiro ano de estudo. Bárbara acredita, no entanto, que elas vão aparecer ainda. “A Reserva tem todas as condições necessárias para as onças-pintadas, principalmente de alimentação. Um indivíduo já foi registrado há três anos em áreas vizinhas ao Legado. Para o próximo período, vamos utilizar outras estratégias para tentar registrar, como instalar armadilhas fotográficas em locais diferentes dos que utilizamos atualmente para fazer o monitoramento”, diz.

Mario Haberfeld, fundador do Onçafari, anuncia que no próximo período o objetivo é capturar uma onça-parda para colocar um colar GPS. “Esse colar, que não oferece nenhum risco ou incômodo ao animal, permite acompanhar detalhadamente o seu comportamento, o que é extremamente valioso para ampliar o conhecimento científico que se tem dessa espécie na Mata Atlântica. Essas informações também podem gerar dados importantes para o fomento do turismo de observação de onças, que é um dos nossos objetivos na parceria com o Legado das Águas”, reforça Haberfeld.

O Legado das Águas foi Foi fundado em 2012 pelas empresas CBA – Companhia Brasileira de Alumínio, Nexa, Votorantim Cimentos e Votorantim Energia. É administrado pela Reservas Votorantim LTDA. e mantido pela Votorantim S.A, que também em 2012, firmou um protocolo com o Governo do Estado de São Paulo para viabilizar a criação da Reserva e garantir a sua proteção. Mais do que um escudo natural para o recurso hídrico, o Legado das Águas trata-se de um território raro e em estágio avançado de conservação, com a missão de estabelecer um novo modelo de área protegida privada, cujas atividades geram benefícios sociais, ambientais e econômicos de maneira sustentável.

Abaixo, você confere mais informações sobre o Legado das Águas e também sobre felinos brasileiros.

Leia também
Considerada extinta há 50 anos, orquídea volta à natureza
Legado das Águas: a Festa da natureza
Visite o Legado das Águas nas férias
Uma casa para boiar no meio da mata
Conheça melhor a palmeira Juçara, nativa da Mata Atlântica
Legado das Águas, a festa da natureza
Visite o Legado das Águas nas férias
Borboleta rara no Legado das Águas
Antas albinas mobilizam pesquisadores
Antas albinas viram estrelas internacionais
Atendendo a pedidos sobre a Aparauá
Jaguarundi é resgatado em residência
Gato mourisco confundido com bichano
Gato-mourisco ameaçado é atropelado
Parecido com bichano doméstico gato-do-mato é resgatado: “leopardus”
“Gatinho” órfão, achado em 2016, onça puma volta para a caatinga
Achado bebê, Diego já é um rapaz
Onça bebê é resgatada no Sertão
Onça puma volta saudável para a caatinga
Gato mourisco confundido com um bichano é socorrido pela Cprh
Jaguatirica perdida é resgatada
Jaguatirica que apareceu ferida na Zona Norte já voltou à natureza
Jaguatirica resgatada na Zona Norte
Ameaçada de extinção, jaguatirica é resgatada em estrada do Agreste
Diego já é um rapaz
Três novas unidades de conservação têm animais ameaçados de extinção
Morre de câncer leão que teve garras arrancadas
Animais queimados chegam ao Cprh
Pedreiro salva capivara empurrando carro de mão por oito quilômetros
Capivara resgatada volta à natureza
Cprh devolve 4.308 animais à natureza
Animais: “Eles precisam de nós

Árvores queimadas quase matam tamanduá
As flores da caatinga em exposição

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Legado das Águas, Votorantim

 

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.