As mangas da vida

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“Estão acabando com a natureza”. O desabafo é de Lindemberg Ferreira dos Santos, 35 anos, há três sem trabalho formal. Por esse motivo, todas as manhãs cumpre uma rotina de resultados nem sempre certos. Percorre ruas, praças, calçadas, para recolher frutas que vende pelos bairros da Zona Norte.

Nessa quinta-feira, ele empurrava o seu carrinho pela Praça de Casa Forte, repleto de mangas, que colhe com o auxílio de uma vara. “Às vezes, os donos de algumas casas, ainda com quintais, pedem que eu faça uma limpeza, e autoriza a colheita de mangas”, diz. O desempregado recebe pelo trabalho, deixa os frutos com o proprietário, mas como a produção é abundante, sempre sobra para ele.

As mangas representam um meio de sobrevivência para Lindenberg, que tem o fim da safra.
As mangas representam um meio de sobrevivência para Lindemberg, que tem o fim da safra da fruta tão apreciada por nós.

“Se a colheita for boa, chego a faturar R$ 80 por dia”, diz Lindemberg, que praticamente não tem despesa com o negócio, e tudo que entra é lucro. Ele lamenta, no entanto, que a oferta já não seja tão grande como antes. ”Antigamente era mais fácil arranjar fruta para vender. Agora, os prédios estão invadindo tudo, acabando com os quintais e as fruteiras”, ressente-se. Diz que frutas antes muito frequentes – como os abacates e as jacas – estão sumindo da paisagem. “Mas felizmente a gente ainda acha manga, cajá e fruta-pão”, diz. Em bairros  como Casa Forte, Apipucos e Monteiro ainda é comum, por exemplo,  a presença de adolescentes vendendo cajás que colhem em sítios e quintais do bairro.

No século passado, economistas da Fundação Joaquim Nabuco  fizeram uma pesquisa, que indicou que a maior parte dos moradores de áreas populares dormiam sem ter certeza do que comeriam no dia seguinte. A  enquete  da Fundaj dizia que a situação só não era pior, por conta da generosidade da fauna do mangue e das fruteiras dos quintais. Com a poluição do Rio Capibaribe e os espaços verdes cada vez menores, como fica essa gente? Lindemberg que o diga. “A safra de manga está acabando”, afirma, desanimado. “Termina em julho e só recomeça em setembro ou outubro”. Até lá vai ser mais difícil garantir a mesa da família.

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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