A “lenda” do “muso” sem cabeça

Quem já não ouviu falar  na mula sem cabeça? Conta a história oral que a mula sem cabeça seria uma mulher que sofrera a maldição como um castigo por ter seduzido um padre. Dizem que,com as quatro patas, ela corre pelos campos com o pescoço em chamas desde o pôr do sol  até o dia amanhecer.  Os livros também relatam o fantasma do cavaleiro sem cabeça, que  alimenta o imaginário de vários países no mundo até hoje, principalmente depois que virou filme dirigido por Tim Burton, em 1999.

A história seria de um soldado que foi degolado durante a Guerra da Independência, que agitou os Estados Unidos no século 18. Seu fantasma teria ficado penando pelas matas.  Contam que lenda foi levada por imigrantes germânicos para aquele território, onde teria se consolidado após o conflito, que durou de 1775 a 1783. No Recife, que adora uma história de assombração, surgiu um “muso sem cabeça”. Depois da boneca do mal, que foi colocada em uma encruzilhada no bairro de Afogados – para afugentar ladrões (que correm pensando tratar-se de um fantasma) – um outro personagem misterioso vem chamando a atenção das pessoas que passam no bairro do Parnamirim, Zona Norte da cidade.

“Boneca do Mal” virou lenda urbana e já ganhou até réplica no Casarão das Lendas, que esteve em cartaz no Recife.

É que um manequim sem cabeça, porém vestido para sair, afugenta as pessoas, à noite na chamada Área de Lazer  do Canal do Serpro, que fica sob a ponte viaduto que liga os bairros de Parnamirim e Torre. “De madrugada, o povo sai correndo com medo”, afirma Edson Ferreira de Araújo, morador da Vila Vintém, que fica perto do Plaza Shopping. “Quem já conhece está acostumado, mas quem vê pela primeira vez e de noite, corre apavorado”, diverte-se, olhando para o “muso sem cabeça”, sentado em um banco de praça.  O local já é meio sinistro à noite, principalmente quando fica escuro, pois a área é um vão entre as colunas do viaduto, ao lado do canal cujo leito e margens são um lixo só.

O “muso” na verdade, “nasceu” no meio das muitas tralhas que são diariamente descartadas no local, onde há sempre lixo acumulado. Quem o recolheu foi o borracheiro Isaac Félix. “Ele estava  jogado, então resolvi fazer uma brincadeira, vestindo e calçando o boneco e deixando ele no banco, aí sentado”, diz. Ele afirma que nunca pensou que o “muso” chamasse tanta atenção. “Tem gente que vem de longe para tirar foto ao lado do boneco sem cabeça”, diz  Edson. O fato é que há quem pare para fazer selfie, mas tem – também – os que se afastam, julgando tratar-se de um fantasma, o que não é de se surpreender, já que o Recife é considerada a “capital mais assombrada do Brasil”, segundo Roberto Beltrão, autor do Projeto Recife Assombrado.  Na cidade, histórias de assombração sempre movimentam o imaginário popular. “Tem até bêbado que conversa com ele”, diverte-se Pedro Ferreira, que passa todos os dias no local e já assistiu a cenas do tipo. “Se ele afastar ladrão feito a boneca de Afogados, então vai ser bom”, completa. A boneca de Afogados ganhou réplica, durante evento realizado no  Plaza Shopping, abordando as lendas urbanas do Recife. Quem sabe o muso sem cabeça não entra na próxima?

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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