Vou de trem para Paripe

Quando voltar à Bahia – estive lá no mês de novembro – já tenho um programa para fazer. E não é nada convencional, nem está nos roteiros turísticos oficiais. Vou, simplesmente, pegar um trem para Paripe. Paripe? Vocês conhecem? É um subúrbio de Salvador, tem praia inclusive. Porém, o mais importante é que lá ainda tem linha férrea,  com trem, daquele à antiga. E que aqui em Pernambuco não passa de nostalgia ou peça de museu. Deu vontade de fazer esse passeio, quando – da janela do ônibus com destino à praia de São Tomé – vi a linha férrea e o trem passando.

Lembrei logo daquele comovente filme francês, Uma Casa à Beira-Mar, por onde o comboio sempre corria, enquanto a família se reunia para discutir o passado e o destino.  Pois vou embora para Paripe. Quero sim, andar de trem, como antigamente. Fui pesquisar e descobri que a linha possui 15 quilômetros e passa por dez estações, contando a de partida: Calçada, Santa Luzia, Lobato, Almeida Brandão, Itacaranha, Escada,  Praia Grande, Periperi, Coutos, Paripe. Aqui, fica a praia de São Tomé, bem tranquila, de águas mansas calmas areias. Longe, portanto do burburinho do Porto da Barra.

A viagem de trem Calçadas-Paribe ainda revela uma surpresa no final: a praia de São Tomé, pouco conhecida pelos turistas.

Já o trem, tem muita história. A construção da linha férrea foi concessão imperial ao Governo da Bahia – que pretendia uma linha Salvador- Juazeiro, cidade que fica no Sertão, à margem do Velho Chico (na divisa com Pernambuco e a  528 quilômetros de Salvador). Mas vamos nos reportar apenas  a Calçada –Parip .O trecho ficou pronto em 1860, já sob gestão da Bahia and São Francisco Railway Company. Dizem, inclusive que a Estação de Calçada (concebida pelo inglês Jonh Watson) é eficiente até hoje. Foi construída com estruturas de ferro, vindas da Inglaterra (naquela época, era comum no Brasil se importar da Europa estruturas de ferro para construção de prédios como mercados públicos e estações ferroviárias).

Depois dos ingleses, a linha férrea passou por vários donos: a franco belga Compagnie Chemins de Ferderaux do I´Est Brésilien (1911), Viação Férrea Federal  Leste do Brasil (1934), Rffesa (1957), CBTU (1982), Prefeitura de Salvador (2005). E, finalmente, governo da Bahia (desde 2013). No caminho Calçada – Paripe, consta a bela ponte São João (implantada em 1860) e trechos de praia, adornados com palmeiras imperiais. Há, também, pobreza ao longo da linha férrea. Eu sendo o governo da Bahia, transformava o velho trem em atração turística. Aposto que muita gente gostaria de andar de trem, como antigamente. Recordar os velhos tempos. Afinal, relíquia é para se preservar e não para jogar fora, nem para transformar em sucata. Em Pernambuco, os velhos trens já não circulam mais. Mas, pelo menos, a memória não se perdeu totalmente: locomotivas, vagões, baixelas de prata, porcelanas usadas em viagens do passado são, hoje, peças de Museu. Estão no Museu do Trem, no Bairro de São José, Centro do Recife, onde a velha Estação Ferroviária desperta, ainda, muitas lembranças entre antigos viajantes.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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