Uma “pérola” na comunidade do Pilar

Quem conhece essa graciosa igrejinha? Peço um palpite. Qual o seu nome? Onde fica? Alguém acertou? Não são muitas as pessoas do Recife que já a visitaram. Até porque embora fique no turístico Bairro do Recife, está localizada em comunidade carente, pouco solicitada por todos aqueles que chegam à nossa cidade. E também pelos que nela moram. A Igreja é a de Nossa Senhora do Pilar, que fica na Praça homônima. Mas que, de praça, só tem mesmo o nome. Estive lá, há algum tempo, durante um passeio com o Grupo Caminhadas Domingueiras.

Já a conhecia porque, como repórter, estive muitas vezes na comunidade do Pilar, a maior parte para fazer entrevistas com a população, quando o assunto era pobreza, falta de saneamento básico, habitação precária, falta de acesso aos serviços públicos de saúde. Ou seja, em busca de personagens para ilustrar  mazelas expostas em resultados de pesquisas do Ibge ou Pnad, por exemplo. Mas para os que nunca lá estiveram, fica a dica. Ao contrário de outros pequenos templos (como a de Nossa Senhora da Conceição dos Artistas, por exemplo), a do Pilar tem muita, mas muita história. Ela é datada de 1680 (o número 1899 na fachada refere-se, na verdade, a uma de suas reformas).

Depois de construir a Igreja do Pilar, Capitão  envolveu-se na Guerra dos Mascates, e ficou preso no Forte do Brum.

A capela foi erguida sobre as ruínas do Forte de São Jorge, que reunindo apenas 37 soldados, serviu de base para brava resistência à invasão holandesa. Dizem que foi tão ruidosa a reação brasileira, que os flamengos até pensaram que havia um batalhão grande no seu interior. Para se ter uma ideia da reação, o bombardeio durou 20 dias, segundo relatam os livros de história. Posteriormente, com o fim da ocupação flamenga, o forte – abandonado e em ruínas – foi doado pelo então Governador Aires de Souza ao Capitão Mor João do Rego Barros, mediante carta de sesmaria em 1679.

A carta dizia que sobre as ruínas do Forte, deveria ser erguida a Igreja de Nossa Senhora do Pilar. Na construção foram usados tijolos, pedras e antigas muralhas da fortificação. Mesmo assim, os gastos com a edificação do templo chamaram a atenção da Coroa, e Rego Barros teve que viajar a Portugal, para se explicar. Temendo represálias, fez a promessa de mandar confeccionar, na cidade portuguesa do Porto, uma imagem de Nossa Senhora do Pilar, que traria para colocar no templo, cuja abóboda do altar-mor ainda hoje é revestida com raros azulejos portugueses.  Já Rego Barros enfrentaria novos transtornos. E dessa vez não era por suspeita em superfaturamento ou desvios de verbas. Mas pelo seu envolvimento na Guerra dos Mascates, quando seria preso e recolhido ao Forte do Brum, que fica ali perto.  Ele morreu em 1712, sem que se saiba até hoje onde foram parar seus restos mortais.

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Texto e fotos: Letícia Lins/ #OxeRecife

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