O Secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto, deferiu a proposta de tombamento do Conjunto Arquitetônico do Campus Gilberto Freyre, da Fundação Joaquim Nabuco, que fica no bairro de Casa Forte, Zona Norte do Recife. O conjunto possui três prédios de diferentes estilos e épocas. Sendo que o mais antigo é o Solar Francisco Ribeiro Pinto Guimarães, edificação oitocentista, já definida anteriormente como Imóvel de Preservação Especial (IEP).
Os outros dois que formam o conjunto da Fundaj são os Edifício Gil Maranhão e o Paulo Guerra. O primeiro é datado da década de 1960, e é nele que funcionam o antigo Museu do Açúcar (hoje Museu do Homem do Nordeste) e o Cinema do Museu (uma das das salas de exibição da Fundaj, a outra fica no Derby). O segundo foi construído na década de 80 do século passado e está alinhado com os princípios racionalistas da chamada Escola Arquitetônica do Recife. A proposta de tombamento do campus foi encaminhada pela própria Fundaj ao governo de Pernambuco em julho passado. A remessa ocorreu durante movimento dos moradores do Poço da Panela para impedir a construção de um lojão do Atacado dos Presentes na Avenida Dezessete de Agosto.
O empreendimento dá a frente para a Dezessete, a lateral para a Avenida Doutor Seixas e a parte posterior para a Luiz Guimarães, uma das ruas mais características do histórico e bucólico bairro do Poço da Panela. O terreno onde ele deve ser construído possui 6.969 metros é o mesmo onde funcionou a secular Casa de Saúde São José, que era outro prédio histórico e que foi derrubado às pressas, como é comum ocorrer no Recife, com edificações de interesse especial ou que estejam em processo para evitar sua demolição. À época, chegou a ser noticiado que o local seria destinado a uma unidade da Rede Carrefour. Diante da mobilização da comunidade contra o empreendimento, a empresa terminou desistindo e o terreno ficou vazio, até que o Atacado dos Presentes decidiu construir na área.
O lojão ficará bem pertinho da instituição federal, e os moradores da região têm documentado a movimentação de máquinas no local onde o empreendimento deve ser implantado (foto menores). O Presidente da Fundaj, Antônio Campos, entrou na briga contra a construção da loja, por achar que ela não é adequada para as características dos dois bairros vizinhos. Com o a decisão da Secult, por lei, as obras sofrem limitações.
Nessa segunda-feira, o Presidente da Fundaj enviou um ofício ao Secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, através do qual comunica a decisão de Freyre, favorável ao tombamento. “Esta presidência reitera o pedido, feito em 6 de julho de 2020, para que o organismo municipal sob sua direção, cumpra determinações legais, facilitando o término da legítima pretensão, especialmente o não licenciamento de qualquer obra de alto impacto até a definição do perímetro de influência da obra”. No mesmo documento, ele ratifica denúncias feitas pelos moradores do Poço da Panela, segundo as quais caminhões e máquinas pesadas vêm trabalhando no terreno em questão, inclusive aos finais de semana. “Na oportunidade, informamos que tem havido movimentação no terreno que teve, anteriormente, licença prévia suspensa, para providências da Prefeitura, conforme documentação em anexo”. Campos informou, ainda, que também foi solicitado tombamento federal do campus. E pede à Prefeitura que informe a Fundaj de “posição se houve decisão nova em andamento no processo administrativo nº80.355704-19, que se refere à licença de construção do Atacado dos Presentes, no Poço da Panela.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e redes sociais de moradores do Poço da Panela