Como estamos vivendo a Semana Burle Marx vamos lembrar de algumas das praças que têm a assinatura do famoso paisagista? Hoje vamos falar da Praça do Derby, onde estivemos no último domingo, durante mais uma edição de nossas Caminhadas Domingueiras Olhe pelo Recife. A Praça do Derby é tombada e foi depois considerada jardim histórico, por ter a assinatura do grande paisagista brasileiro, que viveu no Recife na década de 30 do século passado, quando dirigiu o setor de parques e jardins da Diretoria de Arquitetura e Urbanismo do Governo de Pernambuco, então comandada pelo Luís Nunes, outra referência da arquitetura moderna no Recife.
A Praça do Derby tem 29.900 metros quadrados. Ela havia passado por intervenção em 1925, mas em 1936 sofre reforma comandada por Burle Marx, que conserva estruturas em estilo clássico – como o orquidário e o coreto – mas redesenha o traçado original e introduz espécies nativas da flora brasileira, como o ipê amarelo, o oiti-de-praia e diversas palmáceas (palmeira-sagu, palmeira-areca, jerivá, babaçu). Na verdade, a Praça do Derby está em uma área onde em 1888 havia sido implantado um hipódromo, que funcionou até o final do século 19, quando o industrial Delmiro Gouveia compra o terreno e constrói um complexo que incluía o Mercado Modelo Coelho Cintra (1889), a Pensão Derby e posteriormente o Grande Hotel Internacional.
A área verde implantada pelo empresário (um dos mais arrojados de sua época) funcionava como espaço de lazer para seus clientes e hóspedes. Segundo o arquiteto e urbanista Francisco Cunha, coordenador das Caminhadas Domingueiras, o mercado construído por Delmiro Gouveia é considerado “o primeiro shopping center do Brasil”. Os empreendimentos terminaram atraindo as famílias aristocráticas do Recife, que ali construíram seus palacetes, depois substituídos, em grande parte por edifícios. Em 1900, o mercado pegou fogo e ficou longo tempo abandonado. No seu local, hoje, está o Quartel Geral da Polícia Militar. Posteriormente a área que pertencia a Delmiro Gouveia foi comprada pela Prefeitura do Recife.
E o terreno que antes servia como oferta de lazer de empreendimentos privados comandados por Delmiro, virou área pública: a Praça do Derby, que possui dois lagos – incluindo o da chamada Ilha dos Amores – bancos em concreto e em estilo veneziano, pérgula, coreto e obras de arte como as Quatro Divindades e jarros em ferro. Infelizmente palmeiras que compunham a paisagem foram eliminadas durante obras de urbanização e construção de paradas de ônibus. As plantas eliminadas implantadas por Burle Marx não tiveram reposição. Com o tombamento da Praça do Derby e sua transformação em jardim histórico, o poder público fica obrigado a mantê-la e preservá-la. O que não tem impedido, no entanto, a sempre nefasta ação de vândalos. Seus jardins também precisam de maior cuidado.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife