Quem não lembra daquele quiosque que ficava na Rua Nova, quando aquela era uma das vias mais sofisticadas do comércio do Recife? Era o Kiosque do Wilson, do qual dele ainda falam – muitas vezes – os saudosistas nas redes sociais. Há até quem indague que fim levou o seu acervo, cujas fotografias viviam expostas no local, com flagrantes da vida da cidade de pelo menos quatro décadas do século passado. Lembro-me que, quando criança, ficava extasiada olhando as imagens em preto e branco ali expostas.
Muitas vezes, acompanhando minha mãe às compras, pedia que ela parasse diante do quiosque, só para observar as fotografias. Entre elas, havia algumas que me deixavam mais maravilhadas que as outras: Uma delas era a do Zeppelin, o dirigível do qual meus pais e avós sempre falavam de suas históricas passagens pelo Recife (detalhe acima e foto inteira abaixo, em sobrevoo sobre o Recife Antigo, e que até hoje movimenta o imaginário popular da cidade.Somente na adolescência, voltando a observar as fotos da infância, percebi que o Zeppelin ostentava a suástica, símbolo do regime nazista. Mesmo assim, da foto do Zeppelin nunca esqueci. Aquele e outros flagrantes do Recife do século passado foram feitos por Wilson Carneiro da Cunha, o fotógrafo que dedicou 40 anos de sua vida à paixão que escolheu para profissão. A venda de “instantâneos” era o seu negócio. E seu “show room” era o quisque, que inaugurou em 1950, e que ficava bem pertinho da Igreja de Santo Antônio, próximo a uma famosa joalheria da época, chamada “O Anel de Ouro”, se não me engano. Entre as décadas de 1950, 1960, 1970 e 1980, com Wilson já famoso, milhares de pessoas procuraram seus serviços. Além de flagrantes da vida privada, ele documentou cenas das ruas do Recife de outrora: batedores de carteira, ambulantes, demolições de prédios por prefeitos, tipos populares como rendeira e mascates.
Wilson também trabalhou para todos os jornais e revistas da época, tendo participado de coberturas importantes como a visitada Rainha Elizabeth ao Recife, e de então presidentes como Juscelino Kubitschek e João Goulart. O fotógrafo nasceu em 1919, e aos 24 começou a trabalhar profissionalmente como fotógrafo. Da câmera, não se separava nem mesmo quando ia à padaria. Sua produção fotográfica foi, portanto, imensa.
Parte de sua produção – cerca de mil imagens – compõe o acervo da Fundação Joaquim Nabuco, desde 1970. No acervo da família, sob a guarda da filha mais velha, Olegária, há outras 700, entre fotos de papel e negativos. Passados mais de três décadas de fechamento do quiosque e da morte do profissional, sua neta, a arte educadora Bia Lima, procura em acervos particulares fotos por ele feitas. Ela está à frente do Projeto Wilson Carneiro da Cunha: Do Instantâneo de Rua aos Registros Caseiros. Ela lançou uma campanha para rastrear as fotos que foram adquiridas pelos clientes do avô ao longo dessas três décadas.
Quem tem fotos antigas em casa pode ajudar nesse garimpo e colaborar com a preservação da memória da cidade. Depois de reveladas, todas eram devidamente creditadas com assinatura Wilson ou Foto Instantâneo Wilson ou ainda Kiosque do Wilson em marca d’água no canto inferior. O fotógrafo também adotou carimbos no verso. E são essas marcas de assinatura ou carimbo, em vários modelos, que a equipe do projeto procura. Para entrar em contato com o projeto Wilson Carneiro da Cunha: Do Instantâneo de Rua aos Registros Caseiros e colaborar com o garimpo das fotos, o contato é via e-mail projetowcc@gmail.com e/ou mensagem direta pelo Instagram @kiosquedowilson.
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Serviço
Projeto Wilson Carneiro da Cunha: Do Instantâneo de Rua aos Registros Caseiros
O que é: Resgate de fotos de vida privada do fotógrafo que documento cenas do Recife por cerca de quatro décadas do século 20
Como participar:
Links para imagens de WCC
Retratos: https://drive.google.com/drive/folders/1GzBKa0EUqoGxBc1a-lvdiWrkgR0VQ_R1?usp=sharing
Profissão Fotógrafo: https://drive.google.com/drive/folders/1D018nEPSufkUKeKWA_lnuv6EaKEHt2lA?usp=sharing
Demolições: https://drive.google.com/drive/folders/1TCp83Bp8XrdmAc8yqHr_XW9GD4F_Maxp?usp=sharing
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Acervo Fundaj e Projeto ” Wilson Carneiro da Cunha: Do Instantâneo de Rua aos Registros Caseiros”