Vejam que coisa interessante. Como acontece com as populares agremiações carnavalescas, a respeitável e nobre Faculdade de Direito do Recife do séculos passados também tinha um estandarte. A revelação foi feita agora, durante as comemorações dos 190 anos da instalação do curso jurídico em Pernambuco. A relíquia estava no interior de um móvel antigo encaminhado ao Arquivo da FDR e foi, portanto, encontrado por acaso. Tudo indica que era de veludo vermelho, mas a textura desse tipo de tecido praticamente se esvaiu no tear do tempo. Restam parte das franjas, pingentes e data em que foi confeccionado: 1912. E serviu para substituir um anterior, que estava totalmente desgastado
“Recebemos o móvel com muita poeira na tampa de vidro. Quando limpamos, encontramos o estandarte dobradinho em seu interior”, contam as funcionárias Elivanda Pereira de Souza e Ingrid Rique Escócia e Danielle Oliveira, todas do Arquivo da FDR. Pesquisas realizadas pelo Grupo Memória Acadêmica da instituição mostram até quem o confeccionou. “Oferta valiosíssima é essa que a exímia bordadeira hespanhola madame Balbina de Cabañas vae fazer amanhã à distinta mocidade acadêmica do Recife”, diz o jornal A Lanceta.
O veículo acadêmico mostra o motivo que teria levado Balbina a confeccionar o presente. “Foi certamente, tomada de enthusiasmo por ver ostentado com galhardia o velho e tradicional estandarte da mesma mocidade, já sem o vivo de suas cores e de seus bordados, desfiando-se ao vento”, que “essa senhora estrangeira se impulsionou a dispender de subido esforço, sem ajuda de outrem, para offerendar à falange acadêmica um outro símbolo”.
O artigo mostra uma foto da bordadeira, e diz que o estandarte substituirá o antigo, transformado em “relíquia do passado”. Descreve as dimensões, o material utilizado, as cores, os bordados e seus significados: “Ao centro o symbolo do direito e da lei representado por uma espada que sustem os braços da balança. Em um livro aberto debuchado á sêda branca, lêm-se lettras de ouro Jus et Lex”. Fala, ainda sobre as inscrições no estandarte, o qual devia ter uma importância muito grande para alunos e professores. Ganhou até poema, assinado por Leogivildo Júnior, do Club Academico. “Estandarte de luz! ó lábaro fulgente / Que o teu fulgor imenso espalhe sobre nós / A flama da Verdade e do Justo, eloquente /Como as scintillações esplêndidas dos soes”. Coordenador do Projeto Memória Acadêmica da FDR, o professor Humberto Carneiro vai mandar confeccionar um outro estandarte, réplica daquela relíquia histórica.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife