Sessão Recife Nostalgia: “Maurisstad”, arcos, boi voador e memória

Fazendo parte de diversos grupos de caminhadas, e tendo aderido mais recentemente ao Preservar Pernambuco e ao Bora Preservar,  o professor aposentado Emanoel Correia ficou conhecido entre os frequentadores de projetos como o Olha! Recife e o Caminhadas Domingueiras devido às fotografias, generosamente distribuídas com os adeptos dos grupos, via redes sociais. Mas agora  está se tornando um dos mais assíduos escribas entre as pessoas que costumam explorar o Recife a pé.

Quase diariamente, ele faz postagens no WhatsApp sobre a história do Recife, os monumentos que se perderam na memória e até a respeito de lendas, que mexem com o imaginário dos recifenses, como as assombrações e personagens como o Papa-Figo. Algumas vezes, os textos são movidos a pura nostalgia, como este  falando de um Recife que todos nós conhecemos apenas pelos livros, por ilustrações antigas e também pela esmaecida memória que sobrou.

Ah! Quem me dera voltar ao passado e encontrar o Recife chamado de Maurisstad (1630 – 1654), olhar e caminhar pelas suas ruas estreitas, pisar no chão batido de massapê, sentir o verdadeiro cheiro dos mangues, passar em frente à Matriz do Corpo Santo, atravessar de barco da Cidade Maurícia para a Ilha de Antônio Vaz. Admirar o Arco do Bom Jesus (Porta da Terra), a porta de entrada da cidade. Percorrer a Rua dos Judeus, ou a Rua do Bode, ou Rua da Cruz, ou Rua dos Mercadores, ou atual Bom Jesus, não importa. O que vale seria o contato com a época.

Tomar o caminho da Rua da Cadeia (atual Marquês de Olinda) e se deparar com o belíssimo Arco da Conceição, exaltá-lo em toda a sua beleza ao atravessá-lo. E, logo de cara, encontrar a Ponte do Recife com seus quinze pilares sendo insuficientes para sua conclusão. E por saber que, por falta de dinheiro para concluir a obra, o Conde Nassau fez um boi voar (o Boi  Melchior), e com isso estava fincada a primeira ponte da América do Sul. Vejo o Arco de Santo Antônio do outro lado da ilha, com a sua frente chamada de Rua do Crespo (atualmente 1º de Março), cruzando ela a Rua do Colégio (atual Imperador Pedro Segundo) guardando a outra cabeceira da ponte, pois se quiser atravessar, tenho que pagar em florins.

Ah tempo! Deixaste os algozes e asseclas destruírem o que de mais belo existia no bairro do Recife, em nome de um modernismo que hoje prova na prática que não precisaria derrubar o que Nassau edificou, e que só embelezou a cidade. Ah tempo? Ah tempo! Infelizmente não pude te viver.

Às 14h, leia, aqui no #OxeRecife, postagem sobre a prévia carnavalesca do Boi Voador.  Aliás, alvo de homenagem do Bloco Boi Voador no carnaval de 2020,o turismólogo e historiador Bráulio Moura dá uma dica importante. A imagem de Nossa Senhora que ficava no alto do Arco da Conceição (foto acima) encontra-se, hoje, no acervo do Museu Franciscano de Arte Sacra que funciona na Rua do Imperador, no Bairro de Santo Antônio. “O Arco da Conceição ficava na entrada da Ponte Maurício de Nassau, do lado do Recife Antigo, ali onde passa hoje a Avenida Marquês de Olinda, no cruzamento com o Cais de Apolo”, lembra ele.

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Texto: Letícia Lins/ #OxeRecife e Emanoel Correia / Grupo Preservar Pernambuco
Foto: Internet

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