O Carnaval se foi deixando saudades. Quando era criança eu sempre dizia aos meus pais que o carnaval devia durar não apenas quatro dias, mas um mês, pois sempre o achei uma festa linda. Mas em Pernambuco, o clima da festa se estende por quase todo o verão. Neste ano de 2025, não pude brincar muito pois estive com o pé machucado e, no meio do vuco-vuco, do salve-se quem puder, fica difícil de proteger de empurrões e pisadas.
Mas circulei pelo Recife Antigo e gostei muito do que vi. Também achei muito interessante a passarela para o concurso de agremiações ficar perto da Praça da Independência e a caminho dos maiores focos da folia do centro. Seguindo o Bloco da Saudade, com todo o cuidado para não piorar o pé, fui até a arquibancada para ver algumas agremiações que desfilavam, entre bois e maracatus. Estive com o meu neto, Henrique, que notou como é diversificado e caleidoscópico o nosso carnaval.

O palco gigante do Marco Zero esteve belíssimo, e com grandes atrações. Mas sempre achei que os astros da MPB (Música Popular Brasileira) e da MPP (Música Popular Pernambucana) não devem ser “vendidos” como as maiores atrações da festa e que nossas agremiações populares e culturais que sempre “seguraram” o carnaval, não podem ser relegadas a segundo plano. Tem que ser taco a taco, inclusive contando com a cobertura da grande imprensa local, que tem dedicado maior espaço ao palco do que a festa verdadeiramente popular que ocorre nas ruas.
Elba Ramalho, Lenine, Alceu Valença, João Gomes, Chico César, Alcione entre outros abrilhantaram a festa, mas ela não existiria tão linda e multicultural se não tivéssemos os maracatus, os caboclos de lança, as la ursas, os afoxés, os clubes de bonecos, os clubes de frevo, as troças, os blocos líricos, não é mesmo? Eles é que fazem a beleza do carnaval, porque show com artista a gente tem todo o ano. A diferença é que no carnaval é de graça, enquanto no resto do ano os preços são proibitivos. Então, todo mundo tem mais é que aproveitar essa oferta generosa de opções artísticas, mas sem jamais esquecer as nossas tradições que são elas os símbolo da resistência, que fazem da nossa cultura popular uma madeira verdadeira que cupim não rói.
O encerramento da festa ficou por conta do tradicional Orquestrão, reunindo músicos e foliões para a despedida de mais um Carnaval histórico no Recife. Com muito frevo, o Orquestrão virou tradição, das boas. Mas a emoção da terça foi um pouco antes, com encontro de maracatus de baque solto, com brilho, chocalhos, entoando loas . É impossível ver o maracatu e não sentir um arrepio na alma. “Esse ritmo tem uma potência que fala direto com a nossa história. Desde pequena eu acompanho os cortejos e hoje sigo essa tradição. O Carnaval do Recife proporciona essa identidade”, declara Gabriela Mendes, 31. Sim, houve muita emoção, também, com outros encontros como o de afoxés (o Ubuntu, na quarta) e de maracatus de baque virado, (como o Tumaraca, na quinta), este último emoção pura, à flor da pele. Tudo lindo, rico, raiz.

Circulei por alguns polos descentralizados e também os achei muito organizados, incluindo o Poço da Panela (perto de minha casa). Destaque para os seis polos infantis, com atrações que já despertam na meninada o gosto pela festa mais popular da cidade. Na programação adulta em parques públicos, o registro vai para programação sofisticada, com o piano de Amaro de Freitas, no Parque das Graças. Para quem tem bom gosto e não esteve a fim de enfrentar multidões, como em Olinda e no centro do Recife, o “carnaval” Graças Instrumental foi uma MA-RA-VI-LHA, pois reuniu a nata do setor. Entre o domingo e a terça-feira, foram 14 artistas que se revezaram no palco. Entre eles, alguns gênios do gênero: Henrique Albino, Beto Hortis, Luciano Magno, Amaro de Freitas, Sagrama, Neris Rodrigues e o Trobonando, Maestro Edson Rodrigues.
Agora… o toque triste da festa é que casa vazia, enquanto você se diverte no seu bloco preferido, é um risco. E arrombamentos aconteceram durante a festa em todo o país. Tomei conhecimento de vários casos de arrombamentos em imóveis que estiveram vazios, enquanto seus moradores curtiam a folia aqui no Recife. Inclusive com uma amiga, residente em Casa Amarela. Ontem fomos à praia e quando chegamos, a confusão estava feita na rua. Um marginal havia arrombado a casa, quando o alarme da empresa privada de segurança disparou e os vizinhos se mobilizaram. O ladrão se evadiu. A empresa privada de segurança informou que só na terça-feira de manhã, já havia atendido a seis chamados de invasões domiciliares. E a gente…. que paga imposto para ter direito à segurança…. fica no ora veja, gastando com segurança privada…. É fogo, não é? Como se não bastasse a gente ser obrigado a ter o maior cuidado com carteira, celular, documentos enquanto se diverte. Porque os marginais se aproveitam tanto de um descuido no meio da multidão, quanto de uma casa vazia, enquanto você se diverte na folia. Uma ciclista teve sua bike roubada, no dia 3 de março, na Avenida Rio Branco, em frente à Bodega do Véio. Ou seja, lugar de grande movimento. Sei não…
Outras notícias sobre carnaval 2025, nos links abaixo. Vídeo com Amaro de Freitas chegou pelo ZAP do #OxeRecife
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Weslet D’ Almeida, Maurício Ferry, André Marins (PCR)
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