Que muralha é esta na Bacia do Pina?

Nesta semana, um muro construído na água e visível durante as marés baixas, em plena Bacia do Pina (fotos), chamou a atenção de leitor do #OxeRecife, que prefere se manter no anonimato. Indignado, ele enviou essas fotos dando conta da intervenção que julga ser um desrespeito às leis ambientais. Até porque, à primeira vista, parece ser mais um aterro entre os tantos em rios que o Recife já sofreu ao longo dos séculos.  O “aterro” fica em frente às torres do Projeto Novo Recife, complexo imobiliário que vem sendo implantado no Cais José Estelita. “Eles aterram aquilo e depois vendem para virar um prédio” diz o leitor, com preocupada e justificada razão. “Essa cidade é uma zona mesmo”, lamenta.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. O #OxeRecife foi procurar saber a autoria da “muralha”. E os primeiros órgãos procurados foram justamente os que tratam de cuidar de nossas águas, da natureza:  a Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh) e a Secretaria de Meio Ambiente do Recife. A primeira informou que os responsáveis pela obra poderiam ser multados em caso de “supressão da vegetação”. Já a segunda afirmou não saber do que se trata e que as fotos não dizem muita coisa. As fotos foram feitas  a partir do RioMar Trade Center, que fica no bairro do Pina. Ao contrário do que inicialmente se supunha, a muralha não é uma obra clandestina. Ela é de responsabilidade do Cabanga Iate Clube de Pernambuco, que está finalizando ali os trabalhos de “dragagem da sua dársena e do canal de acesso ao piér do clube”. Segundo o Cabanga, as intervenções são necessárias e ocorrem devido ao assoreamento naquela área (areia e lixo). O problema provoca encalhe de barcos nas  marés baixas.

De acordo com o clube, a intervenção está com toda a papelada legalizada, inclusive a licença. Foi expedida “pelo órgão ambiental competente, através da Autorização Ambiental nº 04.19.07.000439-7, expedida pela Secretaria Executiva de Licenciamento e Controle Ambiental da Prefeitura da Cidade do Recife”. Conforme o Cabanga, “o serviço em questão é rotineiro em todo e qualquer porto e marina do mundo”. Conforme nota enviada ao #OxeRecife, as estacas colocadas no mangue serão posteriormente retiradas. Elas seriam temporárias, para permitir que o material “arenoso/lodoso seja estocado e seco (transbordo) no terreno anexo ao Clube”.

O Clube justifica que a muralha evita que o material retorne, impedindo que volte a assorear o leito. De toda a lama estocada, 60 por cento já teriam sido removidos, segundo informa o Cabanga ao Blog. O Clube disse, ainda, que “teve o cuidado e o zelo de notificar diversas entidades envolvidas, dentre as quais a Capitania dos Portos de Pernambuco, que emitiu parecer favorável ao serviço de dragagem por meio do Ofício nº 20-50/CPPE-MB”.  E informa que “durante todo o desenvolvimento dos serviços, o Cabanga monitora a qualidade da água em três pontos pré-definidos, além da instalação de barreira de contenção da pluma de sedimentos, para evitar incomodidade nas atividades de catação de marisco nos bancos de areia da Bacia do Pina”.  A Bacia do Pina é formada pela confluência dos rios Capibaribe (braço sul), Tejipió, Jordão e Pina, todos extremamente poluídos e funcionando praticamente como esgotos a céu aberto da cidade.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Foto do leitor / Cortesia

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