A especulação imobiliária, a ocupação das areias das praias, a presença industrial e sobretudo o excesso de plásticos nos oceanos têm dificultado, e muito, a sobrevivência das tartarugas marinhas. No Brasil não é diferente, embora vez por outra, sejam encontrados ninhos nas areias de áreas urbanizadas como as praias do Recife e Jaboatão dos Guararapes, em Pernambuco. A Bahia é um caso à parte. Com 932 quilômetros de litoral – a maior faixa costeira do país – é lá que fica a sede do Projeto Tamar (na praia do Forte) e também de outras iniciativas para preservar esses quelônios, tão importantes para a vida dos mares.
E uma das áreas bem produtivas está no município de Belmonte, a mais de 800 quilômetros de Salvador. Belmonte tem nove praias, algumas bem desertas. Mas possui, também, um terminal marítimo da Veracel Celulose. A empresa, no entanto, afirma ter um trabalho cuidadoso para monitoramento e preservação de tartarugas marinhas na região. Na última temporada de reprodução, por exemplo, foram observados 325 ninhos com desovas, que resultaram em 19.491 filhotes que se lançaram ao mar. Na área, já foram vistas as cinco espécies de tartarugas marinhas existentes no país. Para realização do monitoramento, cerca de 3 mil quilômetros de praia foram percorridos por equipes de pesquisadores e biólogos, com o registro de 413 subidas de quelônios para a desova. Os números são da última temporada de postura. O período de reprodução vai de setembro a abril.
O lado ruim fica por conta dos encalhes. Na última temporada, foram encontrados 28 encalhes de tartarugas marinhas na região do monitoramento, sendo que 95% das ocorrências eram da Chelonia mydas, popularmente conhecida como tartaruga-verde. A espécie é a única registrada para a costa brasileira que desova majoritariamente em ilhas oceânicas (no entanto, já há registro de desova das verdes nas praias de Belmonte). Mas tartarugas que encalham mortas ainda são um mistério para pesquisadores, já que chegam às praias em estado avançado de decomposição, não permitindo a determinação da causa dos óbitos. Posteriormente, com a operação do Centro de Reabilitação de Quelônios Marinhos do TMB, será possível determinar as causas da morte de parte desses encalhes. O Centro, o primeiro do extremo Sul da Bahia, deve entrar em operação em 2021.
Segundo a Veracel, o monitoramento vem sendo feito há 15 anos, ao longo do qual foram registradas 4.667 ocorrências da presença de tartarugas fêmeas na praia. Aproximadamente, 75% são de registros de animais que desovaram..Só as tartarugas fêmeas sobem até a areia da praia. Existem cinco espécies de tartarugas marinhas no Brasil, e já houve registro de desova dessas cinco espécies na região do monitoramento, sendo que três delas são as que mais ocorrem todos os anos. A Veracel informa que chegam a 200 as horas mensais de monitoramento. O monitoramento é feito pela empresa CTA, que cobre 35 quilômetros de praias.
Coordenador de meio ambiente e licenciamento da Veracel, Tarcísio Mattos informa que os resultados do monitoramento ambiental ajudam a indústria a minimizar as “possíveis interferências” do Terminal Marítimo de Belmonte sobre as desovas e eclosões das tartarugas marinhas. Os resultados do trabalho norteiam ações como “medidas de controle operacional, modificações estruturais nas instalações do Terminal, mudanças no projeto de iluminação, adequações na iluminação das embarcações, monitoramento periódico da luminosidade das praias, ações de educação ambiental para os colaboradores e vizinhos sobre a importância da preservação da espécie, liberação e controle do acesso de máquinas à praia”.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Veracel / Divulgação