Águas da Amazônia ganham mais de 360 mil filhotes de quelônios

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Nem tudo está perdido na Amazônia. A luta contra madeireiras e o garimpo clandestino é grande. As duas atividades campearam soltas na gestão passada, invadiram terras indígenas, poluíram rios e ainda preocupam. E muito. É gente demais para destruir e pouca para construir, repor.  Portanto, não custa nada assinalar ações em defesa do bioma que é considerado hoje o pulmão do mundo. Aqui no #OxeRecife, embora a preocupação maior seja com a nossa cidade, sempre há espaço para ações ambientais, que contemplem qualquer um dos seis biomas brasileiros, pois entendemos que a natureza é um bem universal e todos nós temos o dever se lutar por ela.

Sempre damos destaque nesse espaço a plantios de árvores, extrativismo sustentável, conservação de nossas águas, ações contra o excesso de plásticos no meio ambiente, meios de gerar renda que poupem a floresta da destruição. Notícia interessante: no final do ano, ocorreu a soltura de mais de 360 mil filhotes de quelônios nas praias da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Uacari e da Reserva Extrativista (Resex) Médio Juruá, no Amazonas. Foi durante a Gincana Ecológica 2024 (foto abaixo), iniciativa que simboliza o esforço coletivo de comunidades e instituições na conservação da biodiversidade amazônica, que procurar incentivar a geração de renda sem prejudicar o bioma. A RDS e a Resex ficam em Carauri, no Amazonas, a 825 quilômetros de Manaus

Gincana ecológica movimentou comunidades e lançou 360 mil tartarugas nos rios da região amazônica

O evento de soltura reuniu aproximadamente 600 ribeirinhos, de 53 comunidades ao longo do Rio Juruá, e contou com o trabalho dedicado de 66 monitores responsáveis pela preservação de 19 tabuleiros de quelônios neste ano. Durante a semana da Gincana, comunidades como Toari, Morro Alto, Santo Antônio de Brito, Bom Jesus e Gumo do Facão organizaram atividades que destacaram a importância da conservação e do manejo sustentável. Ou seja, viver do bioma sem colocá-lo em risco.

No Norte do Brasil, em toda a região da Amazônia, o consumo de quelônios, principalmente tartarugas, faz parte da cultura gastronômica local. Porém a captura desses animais vinha se tornando predatória. Ameaçada de extinção, a tartaruga da Amazônia (“Podocenis expansa”) é protegida por lei da captura, transporte e comércio. Considerada exótica, sua carne é muito solicitada e tem alto valor comercial. O trabalho de conservação no Médio Juruá já provocou o aumento das populações de tartarugas. Isso permitiu iniciativas como a criação de quelônios, licenciada pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam). 

Desde 2017, há uma resolução do governo do Amazonas que permitiu a criação comercial de quelônios de base comunitária. A experiência no Médio Juruá é acompanhada por pesquisadores, acadêmicos, ongs.  A primeira venda legalizada na região, no entanto, só acontece em abril de 2025.  Envolvidos na atividade acreditam que ela consolida manejo sustentável como alternativa de geração de renda. “Esse é um grande avanço. Com a comercialização, vamos valorizar ainda mais o trabalho dos monitores e inspirar outras comunidades a adotar práticas sustentáveis”, diz o líder comunitário Francisco Sollivan.

Na minha última e saudosa viagem à Amazônia, bem perto de Alter do Chão, na comunidade de Coroca, em Santarém  – a 1.167 quilômetros de Belém – encontrei um lago com uma imensa criação de tartarugas.  Os moradores contaram que após uma das cheias do Rio Tapajós, dezenas de animais ficaram aprisionados em um lago que se formou quando as  águas baixaram. Os nativos passaram a alimentar os animais, para fazer um criatório e comercializá-los ou mesmo consumir os quelônios. Porém, o instinto de defesa da natureza falou mais alto e eles decidiram criar os animais para, depois, devolvê-los à natureza. Hoje, os moradores de Coroca vivem mais da pesca, do turismo e da venda de artesanato. As tartarugas, algumas já bem grandes, pareciam animais de estimação, pois nadavam aos montes quando viam que alguém chegava para alimentá-las. Foi curioso, pois os quelônios também identificam as pessoas, pelo que vi (a comunidade  é banhada pelo Rio Arapiuns, afluente do Tapajós).

No Amazonas, ação contou com o apoio técnico do Projeto Pé de Pincha, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e da gestão da Secretaria de Meio Ambiente do Amazonas (Sema). Parceiros como a SITAWI Finanças do Bem, Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e Fundação Getúlio Vargas (FGV), contribuíram para fortalecer redes de conservação e desenvolvimento sustentável. Já a gincana, teve apoio de instituições como o Memorial Chico Mendes, Amecsara, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Juruá e da Associação dos Moradores da RDS Uacari (Amaru). “Este projeto é fundamental para a preservação da sociobiodiversidade. Todo mundo sabe que, se não cuidar, não vai ter. Apesar disso, ainda enfrentamos desafios com a pesca ilegal de quelônios. Lutamos por práticas sustentáveis, e é isso que nos motiva”, enfatiza Antônio Silva, morador da comunidade Bom Jesus.

A repovoação dos rios da Amazônia com tartarugas aumentou a população de quelônios na região do Juruá.

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Artigo: Amazônia, uma questão ecológica e humanitária, por Salete Ferro.

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação

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