“Quaresma”, monólogo sobre Lima Barreto no Teatro Apolo obriga a pensar sobre o Brasil de hoje

Era quase menina, quando ouvi falar pela primeira vez em Afonso Henriques Lima Barreto (1881-1922). E desde então, passei a nutrir por ele admiração tão grande quanto por Machado de Assis. Posteriormente, o genial escritor seria objeto de tese do meu saudoso pai, Osman Lins, que depois se transformaria em livro, “Lima Barreto e o Espaço Romanesco”, publicação essencial para quem quer conhecer profundamente o sentido de obra e vida  do autor de “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” e “Triste Fim de Policarpo Quaresma”. Já li e reli várias vezes esses dois livros mais conhecidos do romancista, tão incompreendido no seu tempo. Mas tenho um carinho tão especial pelo segundo que acumulo na estante duas edições do livro, uma de 1975 e outra de  1998.

Diferenças à parte, para mim foi tão inquietante a sua leitura, quanto a do romance “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz (1845-1900) ou  do conto “O Homem de Areia”, de E.T.A. Hoffmann (1776-1822). Sabem aqueles livros que mexem com o emocional da gente? Pois “Policarpo” é um deles.  A obra foi inicialmente publicada em folhetins na Imprensa do Rio de Janeiro, em 1911. Mas só cinco anos depois ganharia uma pobre brochura em papel ordinário,  com edição bancada pelo próprio autor que tomara emprestado dinheiro para ver seu livro circulando. O investimento, felizmente, lhe renderia aprovação unânime da crítica. Agora, o drama do servidor público do início do século  passado pode ser vivenciado no palco. É que o coletivo OPTE (Operário sdo Teatro) encena nessa quinta-feira (31/8) um monólogo baseado no romance de Lima Barreto. “Quaresma” será encenado às 20h, no Teatro Apolo.  A história de um dos personagens mais quixotescos, mais visionários da literatura brasileira é interpretada pelo ator Pernambucano Alexsandro Souto Maior que também assina a adaptação.

Alexsandro fez pesquisa cuidadosa para o monólogo sobre personagem criado por Lima Barreto. No Teatro  Apolo.

A encenação traz à tona as inquietações de um subsecretário, funcionário público, um leitor contumaz, entusiasta da identidade nacional e que propõe a língua tupi-guarani como língua oficial do Brasil. Entre suas aspirações, está a de tornar a economia forte a partir da agricultura e a de defender os valores da pátria. Seus desejos se deparam com forças antagônicas e hegemônicas que acabam gerando conflitos cheios de reflexão, drama e comicidade. Outro tema que percorre o espetáculo, mas também a vida do autor, é a sua saúde mental (Lima Barreto morreu teve passagens por um hospício). Para enriquecer o universo do escritor, outros romances de Lima Barreto foram consultados para a criação da escrita que acaba narrando um dos dramas pessoais do romancista. Dentre as obras dele, destaca-se o Diário do Hospício que foi leitura recorrente nos ensaios. A montagem da peça não só presta homenagem a Lima Barreto como contribui para revelar como são semelhantes os dramas do Brasil do fim do século XIX com o Brasil atual.  O texto do monólogo também dialoga com alguns autores contemporâneos que Alexsandro percebeu correspondência direta como Aílton Krenak, Márcia Tiburi e Darcy Ribeiro para citar alguns. Em um pouco mais de uma hora, em cenas oferecem linguagens da dança, da música.  E a plateia é convidada a pensar a esperança diante do caos e, oportunamente, refletir sobre um Brasil sonhado.

A oportunidade de conferir a peça “Quaresma”, em única apresentação, será no dia 31 de agosto, às 20h, no teatro Apolo. O ingresso promocional está por R$ 40 (inteira) e por R$ 20 (meia-entrada). Os ingressos também poderão ser adquiridos, antecipadamente, pelo site da Sympla.  O intérprete, Alexsandro começou a fazer teatro aos dezessete anos e participou de montagens como Antônio Conselheiro, de Joaquim Cardozo, sob direção de Érico José. Foi fundador do Grupo Engenho de Teatro, 1999, onde se projetou como diretor e dramaturgo. Em 2002, dividiu a cena com Rita Marise no espetáculo O terceiro dia (inspirado em A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa) A peça lhe proporcionou cinco anos circulando pelo país, rendendo Prêmio de melhor texto de teatro no Janeiro de grandes Espetáculos, 2004, além do Prêmio de melhor trilha sonora no Festival nordestino de teatro de Guaramiranga-CE (2003).  No ano de 2004, dirigiu Nero e foi indicado a melhor direção. No ano seguinte, montou Luzia no Caminho das águas (3°lugar no Prêmio Funarte de Dramaturgia- 2005) e dividiu a direção com Eron Villar. Em 2012, Alexsandro Souto Maior volta a atuar agora ao lado de Tatto Medinni em Mariano, irmão meu, texto de sua autoria e vencedor do Prêmio Literário da Cidade de Manaus, teatro adulto. Alexsandro dirigiu Pindorama, Caravela e Malungo, Jr., Texto de Marcelino Freire, e que proporcionou a fundação do OPTE (Operários de Teatro) com Tatto Medinni e Eron Villar. Alexsandro acumula ainda dois Prêmios  Ariano Suassuna na categoria para infância e juventude.

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Serviço
MONÓLOGO QUARESMA
(Inspirado no romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.)
DIA – 31 de Agosto (Quinta)
HORÁRIO – 20h
LOCAL – Teatro Apolo
INGRESSOS – INTEIRA 40,00 | MEIA 20,00
Os ingressos também poderão ser adquiridos, antecipadamente, pelo site da Sympla.
Maiores informações: 81 9. 9834-8796
Censura – 12 anos
Dramaturgia: Alexsandro Souto Maior
Direção: Quiercles Santana

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Rogério Alves / Divulgação

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