Peça sobre Branca Dias é encenada em terras do antigo Engenho Camaragibe: lenda, Cruz e Torá

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Quem pretende conhecer melhor a história de uma das mais emblemáticas personagens femininas do século 16 em Pernambuco, a oportunidade é esta. É que na sexta-feira e no sábado (1 e 2 de setembro), a saga de  Branca Dias está de volta ao palco, com a encenação da peça “Senhora de Engenho Entre a Cruz e a Torá”. As apresentações ocorrem em local que não poderia ser mais apropriado: o Casarão de Maria Anita Amazonas Mac Dowell, em  terras do antigo Engenho Camaragibe, que pertencia a Diogo Fernandes, marido  da lendária mulher. E que nos anos 1550 passa a ser administrado com a ajuda de toda família, período em que chega a ser incendiado pela população indígena.

Português, Diogo veio antes para o Brasil para tentar a vida plantando cana em Pernambuco. Mas a mulher viria depois com toda a prole, após negociar a sua liberdade com a Santa Inquisição, em Lisboa, alegando ter uma filha especial e que precisava de cuidados maternos. Apesar de judia e das perseguições religiosas, conseguiu sair da prisão e enfrentou percurso de vários dias pelo mar, para se juntar com os filhos ao companheiro. Ao chegar em terras brasileiras, descobre que o marido havia constituído outra família e até filha tinha. A peça começa a partir da chegada dela ao país, passa pelo choque de realidade em terras recentes e como, depois, ela solicita a ajuda da “concumbina”  e da “filha natural” do marido para cuidar coletivamente da propriedade que estava em crise. (Os termos aspeados eram muito utilizados no passado, para designar amante e filhos de relações extramaritais). A situação se agrava quando o marido morre e ela tem que assumir os negócios da família.

Interpretado por Geraldo Cosmo, Diogo Fernandes (marido de Branca Dias) morre, e viúva assume os negócios

A peça mostra, ainda, a amizade de Branca com Bento Teixeira (autor da “Prosopopeia”), e a condição deste de marido traído. É que sua mulher, Filipa Raposo, tinha vários amantes (sua história inclusive motivou a escritora Luzilá Ferreira escrever o romance “Os Rios Turvos”). A amizade de Branca Dias com o cristão novo e sua condição de corno inclusive geram comentários jocosos e maldosos na montagem do espetáculo.  Mas este também relata como o poeta a orientou na fundação da primeira escola particular do Brasil, criada por uma mulher. Ideia posta em prática por Branca para se capitalizar, com o objetivo de salvar os negócios da família. Inspirada em fatos históricos com base em estudos acadêmicos, a encenação também conta como Branca Dias sabia driblar as perseguições da Inquisição, exibindo a Cruz na frente de sua casa, quando apareciam agentes da Igreja Católica.

Mas lá dentro, era a Torá, que mostrava a sua força e os rituais  religiosos judeus eram praticados. O casarão onde a peça será encenada, fica em terras que no passado, compunham a gigantesca propriedade da família, o Engenho Camaragibe, que deu nome ao município que hoje integra a Região Metropolitana do Recife. A cidade fica a apenas 14 quilômetros da Capital. O imóvel original da casa grande da família, claro, não existe mais. Porém o casarão de Mac Dowell é o imóvel mais famoso da cidade, devido à sua beleza arquitetônica.  Dizem até que o fantasma de Branca Dias aparece sempre por  lá. E as lendas sobre as histórias do além envolvendo o nome da judia você pode confirmar nos links abaixo.  No Recife, deve-se a Branca Dias, o nome do Açude do Prata, que fica no interior do Parque Estadual de Dois Irmãos. Conta-se que ao ser descoberta pela Inquisição, Branca teria jogado todas as suas pratarias naquele açude, pois no século 16, ele ficava no interior de suas terras que iam até onde fica hoje o bairro de Dois Irmãos. Ela não queria que seus algozes de apropriassem dos seus pertences.

Ator Pedro Dias interpreta poeta Bento Teixeira, cristão novo que era traído pela esposa,Filipa Raposo

“Entre a Cruz e a Torá” foi encenada pela primeira vez há doze anos, percorreu festivais e chegou até ao exterior (Chile). Mas toda vez que volta ao cartaz, é sempre com casa cheia. A montagem é excelente, tem muita criatividade e vale a pena assistir. Principalmente lá naquela casa grande, onde há todo um climão… Eu assisti o espetáculo duas vezes: a primeira, no Teatro Marco Camarotti, no Sesc Santo Amaro. A segunda, em Camaragibe. Por toda a aura histórica do local, eu recomendaria a quem não viu antes, não perder a oportunidade de assistir o espetáculo lá em cima. Vale a pena. Além disso, a história de Branca Dias mexe muito com o imaginário popular do pernambucano, tantos séculos depois. Os ingressos do dia 1 de setembro, por exemplo, já estão esgotados. Há poucos, ainda, para o dia 2. A iniciativa da nova apresentação é da Companhia Popular de Teatro de Camaragibe, com apoio da Secretaria  de Educação do Município e Chiquinho Sorvete de Camaragibe.

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Serviço:
Encenação de peça sobre a saga de Branca Dias: “Senhora de Engenho, entre a Cruz e a Torá”
(Direção de Emanuel David Lucard, com texto de Miriam Halfim)
Quando: sexta e sábado, 1 e 2 de setembro
Horário: 19h30m

Onde: Casarão de Maria Amazonas Mac Dowell
Endereço: Avenida Belmino Corrêa, Centro, Camaragibe, S/N
Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
Onde comprar: na bilheteria do Casarão, com Juvino, a partir das 16h da sexta e do  sábado.O telefone dele é (81) 997715864.

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Vânia Patriota e Letícia Lins /Acervo #OxeRecife

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