Se há uma festa linda, que mexe – e muito – com as memórias afetivas da minha geração, é justamente o São João. Quando eu era criança, na rua sem calçamento onde eu morava, no bairro de Casa Amarela, a disputa era para ver quem fazia a maior fogueira. Os fogos eram comprados aos montes, e um terço deles eram guardados para a véspera de São Pedro. O resto pipocava mesmo no dia 23 de junho, enquanto o milho era assado na fogueira. Naquela época, longe do luxo de hoje, as quadrilhas eram na base da chita, do tecido de xadrez e do chapéu de palha.
E o Sítio da Trindade era, para nós – crianças e adolescentes – o melhor São João do mundo. Foi ali que vi pela primeira vez o fandango, a nau catarineta, os mamulengos, o bumba meu boi, o coco, a ciranda, forró pé de serra. Pois o São João era uma grande festa da cultura popular, que encantava a crianças e adultos. Talvez seja por esse motivo que um dos momentos mais esperados por mim no ciclo junino é o que acontece nessa quinta-feira (22/6): a Procissão dos Santos Juninos, em homenagem a São José, Santo Antônio, São João, São Pedro e Santana, que percorre hoje as ruas de Casa Amarela, Zona Norte do Recife.
Porque ela lembra o São João raiz, tradicional, bem diferente daquele em que se transforaram os festejos de municípios como Caruaru, Petrolina (Pernambuco) e Campina Grande (Paraíba), movidos a duplas sertanejas e outros gêneros musicais que nada têm a ver com a festa. A Procissão dos Santos Juninos vai juntar orquestras, bandinha, trio pé de serra e diversas agremiações com bandeiras dedicadas aos santos, saindo do Morro da Conceição em direção ao Sítio da Trindade. Ao todo, 19 bandeiras, vindas da Região Metropolitana, participarão da procissão, que começa a partir das 17h, com a concentração dos grupos diante do Santuário do Morro da Conceição. Às 18h, haverá a sagração das bandeiras, feita pelos redentoristas do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, seguida do tradicional abraço à Santa, quando os integrantes dos grupos se posicionam numa grande roda, em torno da imagem da padroeira “afetiva” do Recife. É lindo, viu?
Normalmente o cortejo é seguido, também, por grupos de bacamarteiros, que vêm acionando suas “armas de guerra”. A Procissão deve atrair uma multidão ao Sítio da Trindade. Há alguns anos, havia muita gente no Recife que nem sabia que essa cerimônia existe. Mas, felizmente, a cada ano o cortejo aumenta. Após a sagração das bandeiras, e grupos saem em caminhada Morro abaixo, executando hinos sacros e juninos. A Bandinha Junina Mendes e sua Orquestra, o Trio Esquenta o Pé, a Orquestra 90 Graus e a Orquestra 19 de Fevereiro acompanharão a procissão, que desce o morro, atravessa a Avenida Norte e segue pela Estrada do Arraial, no populoso bairro de Casa Amarela, terminando no Sítio da Trindade. Na chegada, religiosos, brincantes e bandeiras serão recebidos com mais forró.
Para abençoar a festa, o andor com os santos juninos permanece no Sítio da Trindade, até que silenciem as sanfonas e sejam dados por encerrados os festejos juninos na cidade. Participarão da liturgia esse ano: a Bandeira de São João da Várzea, Bandeira de São João Deveras, Bandeira de São João Bacnaré, Bandeira de São João de Água Fria, Bandeira de São Pedro de Brasília Teimosa, Bandeira de São João do Bonde, Bandeira São João da Carroça do Bonde, Bandeira de São João do Arraial, Bandeira de São João do Eu Quero Mais, Bandeira Bloco das Ilusões, Bandeira de São João Cordas e Retalhos, Bandeira de São João Compositores e Foliões, Bandeira Nossa Senhora de Santana, Bandeira Acordaí João UR 3 Ibura, Bandeira de São João Utopia e Paixão do Morro da Conceição, Bandeira de São João Luz do Amanhecer, Bandeira de São João Viver a Vida da Terceira Idade, Bandeira Santo Antônio de Água Fria, Bandeira dos Santos Juninos Damas e Valetes de Olinda.
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Serviço
Procissão dos Santos Juninos
Onde: Do Santuário do Morro da Conceição para o Sítio Trindade
Quando: Quinta-feira, 22 de junho
Programação: 17h – Concentração ao lado do Santuário de Nossa Senhora da Conceição; 18h – Sagração das bandeiras, dentro do Santuário, seguida de abraço à Santa; 18h30 – Descida do Morro, em direção ao Sítio Trindade
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Andréa Rêgo Barros/Arquivo PCR
