O descalabro é grande. E é preciso, urgentemente, que as entidades de direito – Prefeitura, Ministério Público, casas legislativas – imponham cumprimento de normas ou mesmo regras mais rígidas a ações de empresas públicas e prestadoras de serviço, cujas obras vêm deixando “sequelas” no Recife, que incorrem, inclusive, em risco de vida para o cidadão.
Estão aí os casos de descargas elétricas em áreas públicas, que já ceifaram várias vidas de pessoas e animais que encostam em postes. Na Zona Norte, é comum observar-se animais – pássaros e saguis principalmente – que morrem eletrocutados, durante pouso ou travessia em fios desencapados. Imagina, se um desse cai – como é comum – na cabeça de alguém…
No último sábado, um motociclista faleceu durante acidente na Avenida Dezessete de Agosto. Ele caiu em um buraco aberto pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), em frente à Praça de Apipucos, pertinho do 11º Batalhão da Polícia Militar. O rapaz não viu o buraco, a moto mergulhou no vazio e ele foi jogado a uma distância suficiente para quebrar o pescoço. Teve morte imediata. O acidente foi no sábado. No domingo, menos de 12 horas após o sinistro, o buraco estava tapado. Os moradores do bairro ficaram “supresos” com a rapidez…
Em nota distribuída à imprensa, a Compesa “lamentou” o acidente, informando que o buraco estava sinalizado. Mas não estava. Pelo menos, o suficiente para evitar o que aconteceu. Afinal, a morte do motociclista era uma tragédia anunciada. Antes, buracos eram sinalizados com baldes vermelhos, com lâmpadas no interior, que davam alerta aos motoristas. Hoje em dia, coloca-se uma tela desbotada, um cavalete e até varas .
Muitas vezes, sem dar condições da pessoa desviar, já que – à noite – só vê o buraco em cima, caso da vítima fatal de sábado. Há tintas luminosas que podem ser usadas, um fio com lâmpadas de LED que poderiam salvar a vida de condutores de moto, motoristas, pedestres. Na Praça de Casa Forte, por exemplo (foto acima), há um buraco com o mesmo tipo de sinalização que vitimou o motociclista em Apipucos. De acordo com pessoas que frequentam o local, a bagaceira está assim há quase dois meses. “Ninguém tapa, ontem um senhor idoso tropeçou nas perdas e quase caía no buraco, mas eu o segurei”, informa o flanelinha Antônio Silva, que faz biscates na área.
Como se isso tudo não bastasse, o asfalto ou calçamento raramente voltam a ser o que eram antes. Os buracos ou ficam ao léu, ou são grosseiramente tapados, com risco de acidente tanto para condutores de motos quanto de bikes. É muito comum que após os serviços, a Compesa deixe “sequelas” nas ruas, como mostra a terceira foto, com paralelepípedos soltos.
Nunca o trabalho é feito para que fique da mesma forma como estava antes. Infelizmente. É preciso que o consumidor fique telefonando, para exigir nivelamento de asfalto, que se tape buracos, ou mesmo que se recoloque nos seus devidos lugares, pedras de calçamento e meio-fio. Esgoto estourado, então… é quase em toda esquina, embora a BRK Ambiental tenha anunciado, em 2013 – durante a criação da então maior PPP do saneamento – que qualquer vazamento de dejetos domésticos teria seu problema solucionado em 24 horas. Alguém acredita que a promessa se cumpriu?
Mas isso não é tudo. Além da poluição visual imposta por operadoras de telefonia nos quatro cantos do Recife, não há uma só cujos funcionários recolham o lixo que deixam em nossas calçadas – fios, placas, pedaços de não sei mais o quê – e até as quentinhas das refeições ficam pelo chão. Uma vez solicitei à Celpe (Neonergia Pernambuco) a retirada de um sagui que estava pendurado, eletrocutado, em um fio. A empresa atendeu rápido, mas quando vi, o cadáver do animal tinha sido jogado grosseiramente na minha porta. Por pouco não pisei nele. Além disso, tirando os “armários” decorados pelo artista plástico Manoel Quitério , a maior parte não possui estética mesmo que tenham sido colocados em áreas de preservação. Cadê o controle urbano? E alguns, nem portas possuem, deixando a população sujeita a cortes involuntários nas conexões.
E um exemplo é esse da foto, em praça localizada Flor de Santana, em Casa Forte, defronte do Quartel do CPOR. Há mais de duas semanas que as portas foram arrancadas, provavelmente por vândalos, mas não tiveram reposição, com exposição de fiações, terminais e acesso às linhas dos usuários da região. Cenas assim passaram a ser comuns, nos “armários” cinzentos, colocados por operadoras em calçadas, esquinas e praças, até mesmo naquelas incluídas em áreas de preservação. As fiações aéreas também mancham a paisagem do Recife, até mesmo nas pontes. Viraram um nó. Ou seja, controle urbano que é bom… zero.
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife