Preservação de peixe-boi marinho ganha reforço em Alagoas: Turismo ecológico

Antes abundante na  nossa costa – em um trecho que ia do Espírito Santo até o Norte do País – o peixe-boi marinho (Trichechus manatus) por pouco não sumiu do mapa do Brasil. Ou melhor, do Oceano do nosso país. Isso porque durante séculos ele foi explorado sem dó pela pesca para alimentar as populações de praias distantes, com a fartura de sua carne. Além disso, seu couro era exportado para uma grande indústria de máquinas de costura.

Por ser muito resistente, ele virava correia para aquelas máquinas antigas, que tinham pé de ferro, em uma época em que ainda não havia as que funcionam com motor elétrico. Estranho é que mesmo constando nas guias de exportação do século passado, o mamífero não existia oficialmente no Brasil. E mais abaixo explico porquê. Quando um  peixe-boi era capturado, as comunidades pesqueiras comemoravam. Isso porque sua carne era salgada e, durante vários dias, era consumida pelos moradores da beira de praia mais distantes. Sua banha, acreditavam no passado, servia para amenizar as dores da artrite e do reumatismo.

E seus olhos eram considerados afrodisíacos. A matança continuou até a década de 80 do século passado, quando – finalmente – a ocorrência do Trichechus manatus foi registrada em publicação científica. O autor foi Guy Macovaldi que encontrou “cardumes” quando fazia estudo sobre tartarugas marinhas (que daria origem ao Projeto Tamar). A partir do registro do Peixe-Boi e do perigo de desaparecimento, criou-se toda uma mobilização em defesa do animal.  O mamífero correu o risco de ser extinto sem que tivesse, sequer, seu registro nos  tratados científicos. Logo após o registro, surgiu o Projeto Peixe-Boi Marinho, quando biólogos e pesquisadores correram todo o litoral do Nordeste, para convencer as comunidades da necessidade de preservar o animal que estava ameaçado. Restavam pouquíssimos na natureza. E os antigos algozes se transformaram em seus guardiões.

Na Ilha de Itamaracá – a 50 quilômetros do Recife – chegou a funcionar o Projeto Peixe Boi Marinho, que tinha aquários, educação ambiental, auditório e lá os bichos eram preparados para o retorno à natureza. O Projeto contava com verbas do Governo (Ibama/ ICMBio) e também de patrocinadores, como a Petrobrás. No entanto, o Centro que era uma das atrações da ilha fechou. Durante o tempo em que existiu, realizou vários resgates de bebês desgarrados das mães ou adultos que encalharam em redes ou nas praias.  Hoje  trabalho semelhante ao que era efetuado em Pernambuco é feito na Praia de Porto de Pedras, em Alagoas, onde os animais  resgatados ficam em currais no meio da natureza e, depois, são reintroduzidos à vida livre. Como repórter, acompanhei várias operações de reintrodução desses animais à natureza, inclusive no estado vizinho.

Turismo ecológico para visualisar o peixe-marinho em Alagoas ganha incentivo  financeiro do ExxonMobil.

Em Alagoas, foi criada a Associação Peixe Boi Marinho, que congrega pescadores, voluntários e biológos, para ajudar na preservação do mamífero marinho mais ameaçado de extinção do Brasil.  Nesta semana, a ExxonMobil anunciou uma doação de R$ 330 mil para a Associação Peixe Boi, que funciona naquele estado. Os recursos devem ser aplicados em Porto das Pedras e São Miguel dos Milagres, no Litoral Norte de Alagoas. Porto das Pedras fica na Área de Preservação  Ambiental Costa dos Corais, maior unidade de conservação marinha do Brasil.

De acordo com a empresa, o apoio servirá para conscientizar a população sobre a importância da preservação da espécie, incentiva as atividades desenvolvidas e também o turismo ecológico, que é feito através de passeios no Rio Tatuamanha. O peixe-boi marinho normalmente procria nos rios em áreas de mangues, onde as águas são mais mansas. Depois, volta ao mar com o bebê que, muitas vezes, se desgarra devido às ondas do mar. Seu nome é peixe-boi porque ele, como os bovinos, se alimenta de capim que existe nos rios e no mar.  Acompanho a vida do peixe-boi marinho, desde os tempos em que ele era capturado. Estive entrevistando pescadores em Maria Farinha, no Litoral Norte de Pernambuco, onde documentei a matança que depois foi proibida. Em Alagoas, o responsável pelo belíssimo trabalho que era efetuado em defesa do Litoral, do peixe-boi e da preservação de praias e manguezais foi punido pelo Governo Bolsonaro, no tempo em que o Ministro do Meio Ambiente era Ricardo Salles, aquele que odiava a natureza. O caso, você pode ficar por dentro. Ele consta nos links abaixo.

Leia também:
Servidor federal é afastado porque fez a coisa certa na proteção ambiental
Ministro manda oceanógrafo trabalhar na caatinga. E o Sertão já virou mar?
Praia de Muro Alto ganha condomínio ecológico: Cais Eco Residência
Deixe que vivam as baleias
Crime ambiental em Maracaípe, Prefeitura é acusada
Paraíso dos turistas, Porto de Galinhas enfrenta despejo de esgoto doméstico
Prefeitura de Ipojuca joga esgoto em Porto de Galinhas e leva multa
Coral danificado por canos para alimentar aquário de lagosta de hotel
Zoneamento ambiental contra turismo predatório no Litoral Sul
Litoral Sul: turismo sustentável?
Turismo predatório vai  ter limite em Pernambuco
Litoral Sul terá área de proteção marinha
Litoral Sul: excesso de demanda em APA
Mais proteção para a APA de Guadalupe
No Dia de Proteção ao Mangue, ferramenta para preservá-lo

Óleo derramado em 2019 deixa marcas no Litoral de Pernambuco
Óleo em 20 praias e sete rios de Pernambuco
Crime ambiental em Maracaípe
Crime ambiental no paraíso

Comer lagosta ovada é não ter coração
Evite comer crustáceos ovados
Coral exótico ameaça corais nativos
Acordo na Justiça com algozes do Marlim Azul
Colete três plásticos na areia
Servidor federal é afastado porque fez a coisa certa na proteção ambiental

Praia dos Carneiros ganha aliados contra o turismo predatório 
A praia de Boa Viagem está limpa?
Viaje pelo Brasil Selvagem Costa Brasileira sem sair de casa
Cprh investiga poluição em Suape
Coral danificado por canos para alimentar aquário de lagosta de hotel
Óleo derramado em 2019 deixa marcas no Litoral de Pernambuco
Óleo em 20 praias e sete rios de Pernambuco
Crime ambiental em Maracaípe
Na praia, procurando Bituca

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.