População de baleias em declínio?

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Um fenômeno começa a intrigar os cientistas. Apesar da proibição da pesca de baleias no nosso país, monitoramento áereo de baleias jubarte no litoral brasileiro indica que houve uma queda  de 14 por cento no contingente populacional da espécie entre 2015 e 2019. Há cinco anos, a estimativa era que havia concentração de 17 mil daqueles indivíduos no Brasil. No ano passado, esse número tinha caído para 14.618.  A constatação é do Instituto Baleia Jubarte, responsável pela investigação. Para o coordenador de pesquisa do IBJ, Milton Marcondes, ainda é cedo para alguma conclusão.  “Estamos avaliando se o crescimento da população das baleias está se estabilizando ou se não conseguimos ter uma estimativa mais precisa em função de diversos fatores externos. Foi uma temporada atípica e ainda é cedo para concluir a causa”.

O IBJ também faz o monitoramento de encalhes. Em 2019, 20 baleias jubartes encalharam na região de monitoramento entre Belmonte e Barra do Riacho, Litoral Sul da Bahia. O monitoramento aéreo do IBJ é financiado pela Veracel, indústria de celulose localizada naquela região. “ Até o momento, não houve registros de encalhes de baleias em função de colisão com as barcaças de celulose”, afirma a empresa. “No ano passado a empresa aproximou cerca de 7 milhas náuticas a rota de navegação das barcaças da costa no trecho que vai de Belmonte/BA a Prado/BA”, informa a Veracel. “A medida contribuiu para a redução do risco de choque entre as baleias jubartes e a barcaça de celulose”. A Veracel – que tem outros projetos ambientais na Bahia – informa que, ainda este ano, implantará uma medida preventiva e inovadora em julho desse ano: a instalação de uma câmera térmica na barcaça que irá registrar os movimentos das baleias e de pequenas embarcações, alimentar um software e ser capaz de soar alarmes sonoros diferenciados caso identifique qualquer obstáculo à frente da embarcação, seja baleia ou um barco pesqueiro, em um raio de até 2km. Com isso, o risco de colisão com as barcaças será bastante reduzido, assim como acidentes que prejudiquem os animais. No Brasil, a pesca da baleia é proibida. Mas nem sempre foi assim.

Certa vez, estive na Paraíba, para reportagem sobre a pesca da baleia, que ocorreu naquele estado por mais de sete décadas. A chegada de navios rebocando os mamíferos gigantescos transformou-se em atração turística, e as pessoas lotavam uma arquibancada para ver a chegada dos animais, em um espetáculo sanguinário. Em poucos minutos, uma baleia era retalhada,cobrindo o chão de sangue. Sua carne ia para o comércio, e os ossos eram recolhidos, uma vez que, moídos, serviam para adubar plantações em várias partes do país. Eu fiquei chocada com o que vi. E a reportagem sobre o “espetáculo de sangue” desencadeou um debate sobre o extermínio dos animais. Em 1986, a atividade (que era liderada por uma empresa japonesa) foi suspensa, depois de muitas reclamações dos ambientalistas. Da outra vez que estive perto desses fantásticos animais, foi em uma viagem de navio ao Atol das Rocas.  Fui como convidada de expedição científica, em um rebocador cedido pela Petrobrás. No meio do caminho, encontramos uma baleia imensa, fazendo suas acrobacias. Fiquei a pensar se a pesca no Brasil não tivesse sido proibida se nós ainda  teríamos sindo brincados com semelhante espetáculo da natureza.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: CTA / Veracel

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