Hoje é dia de Benedito Nunes Pereira Filho, que está completando 57. Mas esse não é o único motivo para figurar aqui no #OxeRecife. Benedito é um pedestre convicto, e de olho nas calçadas do Recife. Criou até um grupo no Facebook sobre o assunto. Ele desistiu de ir de carro para o trabalho, diante do trânsito infernal, dos engarrafamentos, da confusão no meio das ruas. Adotou a bicicleta. Chegou a levar duas quedas e preferiu não arriscar mais. “Tanto os ônibus quanto carros particulares tiram “finos” nos ciclistas, passam quase encostando na gente, um perigo”. Resolveu deixar a bike em casa, por achar que era muito arriscado conduzir a magrelinha no percurso para o trabalho.
Benedito trabalha na Receita Federal, que fica na Avenida Agamenon Magalhães. E mora no bairro de Santana, na Zona Norte. Decidiu que só vai ao trabalho a pé. Chova ou faça só. E à noite, também volta para casa andando. Só usa transporte coletivo no intervalo do almoço. Mas mesmo assim, caminha até a parada. “No fim do dia são dez quilômetros de caminhada, quatro para andar até o trabalho e quatro para voltar. Mais dois entre ida e vinda até o ponto do ônibus, na hora do almoço”, afirma Benedito. Ele também corre e já participou de várias maratonas.
Mas andar também implica em risco. “As calçadas do Recife são terríveis, estão cheias de buracos, com piso irregular, viraram verdadeiras armadilhas”, conta. As melhores, segundo ele, são as da Agamenon, que passaram por requalificação recente. “Tirando estas, podemos dizer que 80 por cento das calçadas do Recife são ruins”, reclama. “E não são só as do percurso casa-trabalho, porque ando muito por toda a cidade, e a situação precária é geral”, comenta. Por conta dessa dificuldade, Benedito criou um grupo Calçadas do Meu Recife, no Facebook, que soma mais de mil membros.
“Comecei postando fotografias das calçadas, para chamar a atenção do poder público, mas nada acontece, fica tudo do mesmo jeito”, lamenta. Também fez um modelo de formulário, para que as pessoas denunciassem a situação de calçadas à Prefeitura, mas nada muda. Depois que foi lançado o aplicativo Colab.re, ele pensou que a situação evoluiria. Continuou denunciando problemas da cidade, mas frustrou-se. “A gente envia a mensagem, recebe o retorno padronizado, mas nada acontece”. O Calçadas do Meu Recife continua como escoadouro dos pedestres insatisfeitos com o perigo que elas representam. Eu mesma quebrei a fíbula, no início do ano, por conta de uma calçada assassina, o que motivou a série Depois daquele tombo aqui no #OxeRecife.
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Depois daquele tombo
Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife