Parem de derrubar árvores! Motosserra destrói os “véus-de-noiva” em Olinda

Vocês lembram da foto acima, que foi publicada no #OxeRecife em junho, como um exemplo de cuidado com a natureza urbana?  Essas plantas foram eliminadas da única calçada totalmente arborizada que havia na  inóspita Avenida Presidente Kennedy, em Olinda.  Para tristeza de Márvia Oliveira, que tanto lutou para manter os diversos pés de véu-de-noiva (Plumeria pudica), que ela plantou com a família na parte externa da residência. As plantas eram uma das razões de viver de Dona Laura (foto abaixo), mãe de Márvia, e que cuidava delas com amor, zelo, dedicação. Pois a motosserra insana passou lá e acabou com tudo na  última sexta-feira. Um verdadeiro desastre. A ação radical foi rápida e sem explicação. E deixou arrasadas a mãe e a filha, que tanto lutaram para manter bonita e florida a calçada da residência.

Em junho, Márvia havia me telefonado desesperada, porque a Prefeitura estava retirando as árvores para fazer obras de requalificação na via, que incluem galerias pluviais, novas calçadas. Foi uma luta. Ela conseguiu voluntários que a ajudaram a recolocar algumas plantas, já adultas, em seus devidos lugares. Na última investida, no dia 20/08, ela implorou que mantivesse as plantas com raízes pois, assim, as recolocaria em grandes jarros, mantendo-as vivas. “Foi tudo muito rápido. Eu teria que parar de falar com ele (o homem a serviço da PMO), me colocar como escudo na frente das árvores, para tentar fazer parar a motosserra para que, pelo menos, me ouvisse por alguns minutos”, lamenta.  “Mas rapidamente ele corria com a máquina para outra árvore, derrubava tudo, foi tudo rápido demais”, acusa.

Ela já havia tentado evitar o arboricídio em diálogo com a Prefeitura. Mas foi ignorada. “Eu gritei, parem, eu posso retirá-las com raiz e colocá-las em jarros, mas continuavam ignorando e avançavam rapidamente para cortá-las”, diz. “Assim, comecei a empurrá-los com toda a força que eu tinha, para tentar salvar as últimas vítimas”. Ela conta que quando derrubaram a última árvore, indagou. “Quem deu essa ordem?”. Mas não teve resposta. “Vá perguntar ao Prefeito”, foi a recomendação. Quando Márvia olhou para o terraço, Dona Laura estava trêmula, chorando muito. A própria Márvia, ficou nervosa com o que viu, pois a prática de arboricídio sempre deixa sensibilizadas as pessoas de bom coração.

Márvia sofreu com as degolas. Ela pediu ajuda a Ailton, o mesmo que na ação de junho,  havia ajudado a família a preservar as árvores que tinham sofrido agressão oficial.

“Naquele instante, me voltei e vendo as árvores derrubadas, fiquei totalmente atordoada, com minhas últimas forças, por tão desproporcional descaso comigo, com minha mãe e com as plantas, com a natureza. Ainda refleti, que o caminhão estava se aproximando para levá-las. Chamei Ailton (amigo da família e das árvores), pedi que  as trouxesse, a fim de tentar replantá-las. Impressionante foi como as árvores sentiram o corte, pois todas as flores murcharam imediatamente, fato que não costuma acontecer com a Plumeria pudica, pois suas flores caem das árvores e permanecem vivas por três a quatro dias, mesmo no chão. Espero que os galhos cortados consigam brotar e sobreviver.

Ela conta que não era só ela e a mãe, que tinham amor às árvores que decoravam e arborizavam a calçada da casa. Como Ailton,  há um outro personagem, chamado Josemir, que era uma espécie de guardião das plumérias. “Ele passava tarde da noite e ficava na calçada para preservá-las de atos de vandalismo. Fazia pelas plantas, por mim e por minha mãe. Nunca quis receber dinheiro pela ajuda. Infelizmente depois sofreu um AVC e não pôde ser tão presente quanto antes”, diz. É incrível que enquanto nossas autoridades passam a motosserra insana nas nossas árvores, a população faz de tudo para preservá-las. Cabia, sim, ao poder público dar o exemplo. Mas infelizmente ocorre o contrário. Sempre. E Olinda e o Recife sabem muito bem disso. Dona Laura teve insônia na noite da sexta, devido à violência que assistiu. Márvia tenta, agora, organizar novos espaços no jardim para o replantio. “As árvores são pesadas, foram três ou quatro homens carregando-as”. Falta, agora, a Prefeitura de Olinda explicar as razões do arboricídio.

Veja, no vídeo enviado por Márvia, a rápida ação da motosserra insana, na única calçada totalmente arborizada que existia na Avenida Presidente Kennedy, em Olinda. Agora, nem ela.

Nos links seguintes, você pode observar algumas boas ações em defesa da natureza. Felizmente, nem tudo está perdido.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos e vídeo enviados por Márvia Oliveira

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