Parem de derrubar árvores (353). No Parque Estadual de Dois Irmãos

No final de semana, aproveitei o dia de sol para dar uma caminhada até o Parque Estadual de Dois Irmãos (Pedi), que tem 402 hectares e talvez seja o maior fragmento em área contínua do que resta de Mata Atlântica no Recife. Achei que era uma boa oportunidade para respirar ar puro, ouvindo apenas os sons da natureza, o canto dos pássaros, das araras, das arajubas.

Não me arrependi. Descobri que no interior do Pedi – onde fica o Zoológico da cidade – não havia poluição sonora, e que ali é um dos poucos locais do Recife onde as pessoas podem ficar livres das famigeradas caixas de som que começam a se espalhar em todas as esquinas, no comércio, na beira da praia, incomodando todo mundo, claro.  Até porque as autoridades nada fazem para coibir esses abusos. Mas, infelizmente, constatei várias árvores degoladas, o que me deu uma grande tristeza. A administração do Pedi informa, no entanto, que elas foram eliminadas porque são exóticas e podem  prejudicar a Mata Atlântica.

Até mesmo no Parque Estadual de Dois Irmãos (Pedi) há vítimas da motosserra insana. Esta é a única que parece estar brotando.

Então, passei horas de gostoso silêncio e aproveitei para caminhar bastante, curtindo as ruas sombreadas, que estão cada dia mais raras no resto da cidade.  Porém, como o #OxeRecife costuma fazer, não poderia deixar de registrar as vítimas de arboricídio tão comuns no resto da cidade e que surgem à nossa frente até naquela área, que é preservada (administrada pelo Estado).

Foram, ao todo,  quatro árvores com sinais de que sofreram degolas recentes devido à ação da  motosserra insana. Elas não foram destocadas, para plantio de novas mudas. Nas áreas urbanas, as árvores – quando não tombam – são degoladas por pedido de moradores ou por iniciativa oficial, quando representam risco para os pedestres ou para casas e edifícios. Mas o que se observa é que há exageros de podas e cortes que terminam por levar as árvores à morte. E, pelo menos nas ruas do Recife, não são poucas. Mas no Pedi, a justificativa para a ação da motosserra é outra.

Essa vítima de degola fica ao lado do setor administrativo do Parque Estadual de Dois Irmãos

Porém em áreas de mata, como é o caso de Dois Irmãos, os danos pela não reposição são menores do que em áreas urbanas, como ruas, parques e praças do Recife. Na mata, as árvores chegam a cair normalmente quando completam o ciclo de vida.  Uma vez no chão, são degradadas pelos cupins e outros insetos, e terminam voltando em pó ao solo, onde funcionam como adubo para novas árvores.

Se os cupins na nossa casa fazem estrago, na mata são mais do que necessários. Mas as árvores degoladas no Pedi e não destocadas não ficam no meio da mata propriamente dita. Elas se localizam ao lado do meio fio –  no interior do próprio Pedi – no percurso que os visitantes fazem até o local onde ficam os animais em exposição. Espero, portanto, que mesmo localizadas no interior de uma área bastante arborizada, as árvores tenham reposição, sendo substituídas por espécies nativas. Porque o jeito que está a crise climática, cada uma que tomba ou sofre degola, faz falta.

A administração do Pedi informa que as árvores toradas pela motosserra são exóticas foram erradicadas intencionalmente.

Segundo a Semas-PE – que administra o Pedi – por ser de proteção integral, o parque segue uma legislação específica para a área. “Dentre as leis que regem o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, uma delas indica que não podemos ter espécies exóticas (não nativas) em um determinado ambiente, sob o risco de descaracterizarmos a floresta nativa”, informa a Semas-PE. “No caso do Pedi, temos obrigação de proteger a mata nativa”. De acordo ainda com o órgão, há o Sistema Estadual de Conservação (SEUC, de 2009),  que obriga a erradicação de espécies invasoras “pois são uma das principais causas de extinção de espécie e modificação de ambientes naturais”. Em 2014, o Pedi criou o seu próprio plano de manejo, que inclui um programa de erradicação de espécies botânicas invasoras.

Portanto, essas fotos são de espécies invasoras do controle sendo efetivado. São sombreiros, mangueiras, castanholas (coração-de-nego), mangueiras, informa a Semas-PE. Segundo o Pedi, o manejo é feito “de forma gradual, substituindo-as por espécies nativas, para que se consiga manter a biodiversidade desse nosso fragmento de Mata Atlântica”. Resta saber se o Pedi está fazendo o mesmo com outras plantas exóticas como a zebrina e o bambu, estes sim, crescendo no meio mesmo da vegetação e colocando em risco as espécies da Mata Atlântica. Na última trilha que fiz no Pedi, foi só o que vi no meio da vegetação.

Nos links abaixo, você pode conferir mais informações sobre perdas no bairro de Dois Irmãos e sobre o Pedi.

Leia também
O estrago do bambu na Mata Atlântica
Parem de derrubar árvores (41)
Parem de derrubar árvores (135)
Parque de Dois Irmãos: 81 anos
Bebê órfã arranja mãe adotiva no Parque estadual de dois irmãos
Parque Estadual de Dois Irmãos é alvo de mudança e passa por concessão
Zoológico recebe novos animais e muda de perfil
A viagem dos pelicanos
Licitação para reforma do Chalé do Prata será ainda em 2021
Pouco resta do lindo Chalé do Prata
Chalé do Prata começa a desabar
Conhecendo a Mata Atlântica
Casarão do Açude do Prata perto da restauração 
Vai sair a reforma do Chalé do Prata
Parque Dois Irmãos triplica de tamanho
O refúgio das preguiças perdidas
Veja a flora do Sertão em Dois Irmãos
Recife: saneamento, atraso e “tigreiros”
Urso Zé Colmeia morre com dificuldades respiratórias. Covid?
Morre de câncer leão que teve as garras arrancadas
Catetos tentam casamento no Recife
Leão idoso do Zoo está com câncer
Leão do zoológico está com dois tumores mas coração é bom
Dia do Leão tem programação especial
Feliz 2021 também para os animais

Bichos amargam solidão na pandemia e mudam comportamento no Zoológico
Dia do Bloco do Hipopótamo
Jujuba vira remédio para macacos
Parque Dois Irmãos triplica de tamanho
Jaguatirica resgatada na Zona Norte
Jaguatirica que apareceu ferida já voltou à natureza
Assombrações no Zoo
Mata Atlântica ganha viveiro para produção de 100.000 mudas
O estrago do bambu na Mata Atlântica

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.