Parem de derrubar árvores (244)

Compartilhe nas redes sociais…

É muito triste, mas muito triste mesmo, passar o Dia Mundial do Meio Ambiente em casa,  na sexta-feira, ouvindo o barulho de uma motosserra insana, com todos os seus significados. Ainda mais no Recife, onde se tem a impressão que ela atua mais aqui do que nas outras cidades por onde tenho andado. E há três dias – tirando o canto dos pássaros – não ouço outra coisa. Isso porque, infelizmente, três árvores adultas e cinquentenárias foram exterminadas, degoladas, esquartejadas. Estão em pedaços, como vocês observam aí na foto. Mas, enfim, aconteceu.

As três árvores ficavam no pátio do Décimo Primeiro Batalhão da Polícia Militar, localizado em Apipucos, Zona Norte do Recife. Em tempos de safra, uma delas, a mangueira era uma festa para frequentadores e moradores do bairro. Havia até quem, com carro de mão, viesse colher as frutas com ajuda de uma vara, para vender as mangas da vida nas ruas vizinhas. Fiquei frustradíssima ao contemplar a nova paisagem da Praça, agora sem as copas frondosas de suas árvores. E quase chorei, quando as vi, cortadas em “postas”, em cima de um caminhão. Aliás, até a tarde da sexta-feira, o transporte dos restos mortais já tinha exigido dois carregamentos. Meu sentimento sempre é o de dor, quando vejo uma árvore esquartejada. É de sangrar o coração, tenho até insônia quando assisto uma árvore sendo degolada. Se assim não fosse, não estaria dentro da minha eterna campanha, aqui no #OxeRecife:  #ParemDeDerrubarÁrvores.

O Comandante do Décimo Primeiro Batalhão, Coronel Oséas Ferreira, informou que as degolas foram autorizadas pela Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura, o que não chega a ser surpresa, diante do arboricídio que o Recife assiste, diariamente, em suas ruas, parques, jardins e praças. E também em casas comerciais. Agora, em um quartel. Mas segundo a PM me relatou, foi o jeito. Infelizmente.  Só aqui no nosso Blog, já somam 244 registros, com 466 árvores derrubadas em áreas urbanas do Recife. Muitas vezes – aliás, em sua grande maioria – o arboricídio é praticado por órgãos oficiais. De acordo com o militar, as árvores estavam infestadas de cupins. E, também, com suas raízes, começavam a danificar o piso do quartel e e entupir suas tubulações. Coisas do fototropismo negativo mesmo, como é comum às raízes das plantas. É da sua natureza.

Ao #OxeRecife, o coronel – que também é sociólogo – informou que fará a devida compensação.  Pelo menos isso. Tem gente que não faz é reposição nenhuma. ”Foram eliminados um sombreiro, uma mangueira e um flamboyant”, confirmou o militar, quando havia galhos espalhados pelo chão, à altura da grade de ferro do muro do quartel. E eu estava documentando a cena, como sempre faço, quando flagro mais uma vítima tombando. Sinceramente, era uma tristeza de se ver.  Naquele momento, o militar informou que seria efetuada a reposição, com o plantio de oito mudas de outras espécies: “duas de carambola, duas mangueiras e quatro baobás”. Mas, fiquei perguntando a mim mesma: se as raízes da mangueira começaram a incomodar, o que será de quatro baobás? Como se sabe, o baobá é uma árvore de tamanho tão descomunal que chega a ser tida como o maior colosso vegetal do mundo.

Mas ontem à noite, o Comandante – educadíssimo – desculpou-se pelo barulho da motosserra, no grupo de WhatsaApp do bairro (sim, nós agora o temos, aqui em Apipucos, PM e moradores). E justificou que não restou outra alternativa, enviando fotos das árvores corroídas de cupins, como vocês podem observar na galeria de fotos. Prometeu que plantará pau-Brasil, carambola e jatobá. A opção de plantio dos baobás foi descartada, porque as árvores exigem um tamanho imenso do terreno.  Resta saber quando as novatas poderão desempenhar o mesmo papel das árvores adultas que foram eliminadas. Foi inevitável, pelo que o Comandante me disse. Mas que dá pena, ah, isso dá. Vai faltar sombra. E a oferta de alimentos fica bem menor para os pássaros, os morcegos, os insetos e até para os saguis, que costumam pular de galho em galho, em busca de comida por essas bandas. À noite, quando estava em casa, ouvi comentário de dois homens que passavam na rua, sobre o vazio deixado pela retirada da mangueira. “Lascaram a gente”. Ao que o outro retrucou: “O que lascaram foi a natureza”.

Triste, esse vídeo, com as plantas já mortas indo embora sob o som da ação da motosserra insana:

 

Leia também:
As mangas da vida
Parem de derrubar árvores (27)
Parem de derrubar árvores (19)
Parem de derrubar árvores (32)
Parem de derrubar árvores (130)
Parem de derrubar árvores (127)
Parem de derrubar árvores (177)
O Recife tem quantas árvores?
Emergência climática: Recife mais verde é balela
Parque Apipucos sofre incêndio
Cadê o bosque do Parque Urbano da Macaxeira?
Arboricídio mobiliza Câmara Municipal
A herança do arboricídio no Recife
A herança do arboricídio no Recife (1)
Herança do arboricídio no Recife(2)
A herança do arboricídio (3)
Parem de derrubar árvores (242)
Parem de derrubar árvores (7)
Parem de derrubar árvores (11)
Parem de derrubar árvores (19)
Parem de derrubar árvores (33)
Parem de derrubar árvores (41) 
Parem de derrubar árvores (46)
Parem de derrubar árvores (60)
Parem de derrubar árvores (63)
Parem de derrubar árvores (65)
Parem de derrubar árvores (101)
Parem de derrubar árvores (119)
Parem de derrubar árvores (130)
Parem de derrubar  árvores (135) 
Parem de derrubar árvores (146)
Parem de derrubar árvores  (214)
Parem de derrubar árvores (223)

Texto, fotos e  vídeo: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos de mudas e cupins: Coronel Oséas Ferreira / Divulgação / PM

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.